As diferenças na metodologia e resultados das classificações ESG de diferentes provedores

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As classificações ESG[1] têm como objetivo medir a resiliência de uma empresa a riscos ESG financeiramente relevantes no longo prazo, identificando e avaliando estes riscos ao nível de cada Empresa e, porventura, ao nível de uma carteira de investimento. No que se refere a fornecedores deste tipo de informação, Foto_Perfil_-_Jo_o_Urbanodestacam-se com maior cobertura a MSCI, a Sustainalytics, recentemente adquirida pela Morningstar e a Refinitiv. Novos fornecedores têm surgido nos últimos tempos, nomeadamente as agências de crédito S&P Global e Moodys, que têm entrado neste negócio por via de aquisições, ou as mais especializadas ISS ou Carbon Disclosure Project (CDP), entre outras.

E o que diferencia as varias empresas de rating?

Os ratings ESG tentam quantificar o impacto que atividades sociais e ambientais, juntamente com o modelo de Governance, terão no desempenho financeiro futuro das empresas. Pegando nos exemplos da MSCI e da Sustainalytics, a análise é feita por duas vias distintas: primeiro, são identificados os vários riscos ESG relevantes a que uma empresa e setor estão expostos, e segundo, que iniciativas a gestão das empresas leva a cabo para mitigar esses riscos.

No caso da MSCI existe um conjunto de Key Issues ou temas com maior probabilidade de gerar impacto, passíveis de serem considerados em cada empresa. Por forma a chegar ao rating final (entre o melhor AAA e o pior CCC) a MSCI calcula uma média ponderada das diferentes pontuações nos Key Issues, normalizando-os tendo em conta as avaliações dos restantes players da indústria.

No caso da Sustainalytics, os ESG Risk Ratings são classificados entre Negligible (melhor classificação) e Severe (pior), numa classificação absoluta, ou seja comparável entre os vários setores. Numa primeira instância a Sustainalytics determina os Material ESG Issues (MEI), como temas com maior probabilidade de gerar impacto, e aplica uma pontuação sobre que percentagem da exposição a esse risco foi gerida pela empresa. Estes MEI são posteriormente avaliados em 3 dimensões: exposição, gestão e risco não gerido.

Como comparam os resultados das classificações ESG de diferentes fornecedores?

Um artigo publicado recentemente pelo MIT Sloan[2] analisa as correlações existentes entre ratings ESG provenientes de diferentes metodologias utilizadas por 6 diferentes fornecedores[3]. O estudo separou as características dos diferentes ratings em 3 componentes: âmbito, medição e ponderação, concluindo que diferenças no fator medição são a principal razão pela qual as classificações ESG divergem, ou seja, diferentes fornecedores medem o desempenho da mesma empresa na mesma categoria de maneira diferente. Outra conclusão interessante é que a correlação entre os vários ratings ESG é baixa, com uma média de 0,54, o que compara com 0,99 de correlação entre os ratings das 3 principais agências de crédito.

Um outro estudo realizado pela Research Affiliates[4] abordou a temática de forma diferente e, em vez de olhar para a data agregada, observou exemplos concretos de como 2 fornecedores de ratings analisam a mesma Empresa. Dos exemplos elencados no Estudo, o primeiro diz respeito ao Wells Fargo, com uma das análises a classificar o banco norte-americano no quartil superior em Governance, por contraponto de outra que o classifica entre os 5% inferiores. A diferença resulta do facto de o fornecedor 1 contabilizar um escândalo de contas bancárias falsas em "Informações para os clientes", que faz parte do pilar Social, e não do de Governance, onde é contabilizado por outros fornecedores.

Outro exemplo diz respeito ao Facebook, onde um fornecedor atribui à empresa uma classificação ambiental no intervalo dos 10% melhores, sendo classificado entre os 30% piores por outro fornecedor, simplesmente porque um fornecedor incide a análise em apenas 3 fatores, distribuindo o peso entre eles, ao passo que outro atribui ponderações a 16 fatores. Com isto, dá-se o caso da análise do tema Environmental Strategy pelo fornecedor 1, que coincide com o tema Environmental Policy do fornecedor 2 mas que apresenta uma ponderação 10x superior.

Quais as implicações para os investidores?

As discrepâncias entre ratings ou a baixa correlação entre as diferentes metodologias não significa que os ratings não tenham valor ou que sejam tendenciosos ou imprecisos. Simplesmente, a abundância de conceitos e a possibilidade de diferentes abordagens para tópicos semelhantes tornam os fatores ESG difíceis de quantificar, podendo gerar opiniões distintas. Mas mais importante, o que podemos concluir é que não devemos simplesmente usar um rating ESG e tomar decisões de investimento apenas com essa classificação, mas que devemos perceber o que está por detrás dessa classificação e de cada uma das suas componentes, porque diferentes fornecedores têm diferentes abordagens a um mesmo tema ESG.

 


[1] Sigla em Inglês ESG para Environment, Social and Governance.

[2] Aggregate Confusion: The Divergence of ESG Ratings por Florian Berg, Julian F. Koelbel, and Roberto Rigobon, de maio de 2020.

[3] KLD (MSCI Stats), Sustainalytics, Vigeo Eiris (Moody’s), RobecoSAM (S&P Global), Asset4 (Refinitiv) e MSCI.

[4] What a Difference an ESG Rating Provider Makes! Por Feifei Li, PhD e Ari Polychronopoulos, CFA, de janeiro de 2020