Banco Carregosa: “No segundo semestre, a economia global deverá continuar a recuperar face aos níveis deprimidos de 2020"

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Créditos: Viktor Forgacs (Unsplash)

TRIBUNA de Mário Carvalho Fernandes, CFA, Chief Investment Officer, e Tiago Gaspar, responsável pela análise e seleção de fundos do Banco Carregosa

Passado mais um semestre e a pandemia continua connosco a conduzir o quotidiano económico (políticas fiscais e monetárias, recuperação económica desigual geográfica e sectorialmente). No segundo semestre, a economia global deverá continuar a recuperar face aos níveis deprimidos de 2020, com os estímulos das políticas fiscais e monetárias a suavizar eventuais riscos relacionados com novos episódios de agravamento da situação da saúde pública. O sentimento só não é mais otimista devido às variantes que regularmente surgem.

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Mário Fernandes, CFA

Os EUA devem ser a economia mais reativa a sair da crise, mas com alguns riscos inflacionistas. A Europa segue essa recuperação de perto, embora algo atrasada, tanto em termos de vacinação, como ao nível dos estímulos e da reestruturação da economia. Os ritmos distintos de vacinação devem conduzir a diferentes velocidades de recuperação da economia, com as economias em desenvolvimento a terem maiores dificuldades para quebrar o elo entre infetados, nível de confinamento e correspondente nível de atividade económica.

O debate económico divide-se entre quem argumenta que a reabertura pode levar um sobreaquecimento e, consequentemente, a uma subida de inflação permanente e os que argumentam que estamos perante um pico de crescimento, também devido à reabertura, mas que levará apenas a uma inflação elevada transitória. Para resolver a dicotomia importa acompanhar a forma como as expectativas dos consumidores podem conduzir a pressões salariais, algo essencial para uma inflação sustentada no tempo.

Tiago Gaspar

Nos EUA, apenas quando terminarem os apoios financeiros em adição ao subsídio de desemprego e as escolas reabrirem ao nível nacional, é que poderá haver maior rigor na medição do mercado laboral. Embora se observe nalguns setores uma pressão salarial e dificuldade de se encontrar trabalhadores adequados, também existe, em agregado, uma menor participação laboral. De forma sumária, o último relatório de emprego norte-americano demonstra que a recuperação económica está bem encaminhada.

Espera-se que pelo simpósio em Jackson Hole venham a ser divulgados alguns comentários da Fed relativamente ao tapering: quando começar e quanto tempo durar. A nossa expectativa permanece que será necessário alcançar um nível mais baixo de desemprego e um nível mais elevado da taxa de participação, para que a Fed não aja cedo demais.

Classes de ativos melhor posicionadas

Na componente de obrigações, continuamos preferir o risco de crédito ao risco duration, pois consideramos que a retoma da atividade económica deverá manter os níveis de incumprimento baixos e aumentar o risco de subida das taxas de juro.

Na componente acionista, preferimos nesta fase ter uma exposição mais balanceada entre estilos e geografias e entre gestão ativa e passivo. Adicionalmente, observamos que o ciclo de investimento assente em infraestruturas e rebalanceamento da oferta energética para energias com menor impacto ambiental vão continuar a beneficiar os sectores expostos às matérias-primas.

Maiores riscos

Do ponto de vista económico, o nosso maior risco é a incerteza em relação à evolução da inflação e consequentemente da evolução da política monetária, em particular nos EUA. Em relação à Europa, o risco maior decorre na evolução da política fiscal e o receio de que esta seja retirada ou reduzida cedo demais. As eleições alemãs em setembro podem contribuir para a clarificação da política fiscal alemã e europeia num futuro próximo.

Fundos e perspetivas para a classe

  • Para as obrigações, o principal desafio para os gestores será navegar numa possível transição de all-in dos bancos centrais (especialmente da Fed) para uma narrativa de tapering e acreditamos necessário haver flexibilidade por parte do mandato para um posicionamento em conformidade: Jupiter Dynamic Bond. Como expectativa (i.e., considerando o cenário central) para o 2.º semestre, acreditamos que esta classe tenha uma valorização marginalmente negativa.
  • Para as ações, como principal instrumento, mantemos o Fundsmith como nossa preferência de longa data. No entanto, a esta posição nuclear devem ser adicionados temas/estilos que julgamos serem adequados no atual contexto: mineiras não preciosas e preciosas, imobiliário (REITS) e infraestruturas. Como expectativa (i.e., considerando o cenário central) para o 2.º semestre, acreditamos que esta classe tenha uma valorização positiva.
  • Para os fundos mistos, mantemos a preferência num duo que integra o Flossbach von Storch Multiple Opportunities como veículo risk-on alicerçado em empresas resilientes e exposição ao setor de metais preciosos a par de uma gestão ativa da alocação e como veículo risk-off o Ruffer Total Return International que tem demonstrado sucessivamente uma capacidade de preservação de capital em períodos conturbados mantendo uma capacidade de gradual apreciação do capital em períodos benignos para ativos de risco.
  • Para o grupo de alternativos, também mantemos a preferência no Nordea Alpha 15. Este fundo multi estratégia tem demonstrado uma satisfatória descorrelação com o mercado a par de uma constante valorização.

Temas de investimento a explorar

Num contexto de grandes mudanças na sociedade e nas rotinas, temos procurado obter informação acerca das oportunidades e ameaças deste novo mundo pós-covid, em particular nos setores mais afetados. Acreditamos, por exemplo, que no imobiliário podem existir movimentos disruptivos e estamos a procurar identificar gestores bem posicionados para capitalizar essas oportunidades nos mercados mais dinâmicos e líquidos.