Carlos Pinto (Optimize IP): “Enquanto a oferta não se ajustar ao crescimento do consumo, vamos assistir a picos de inflação”

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Carlos Pinto. Créditos: Vitor Duarte

TRIBUNA de Carlos Pinto, senior investment manager na Optimize Investment Partners.

A primeira metade do ano foi marcada pela vacinação em massa da população mundial. Embora no início do ano tenham surgido alguns atrasos na disponibilização das vacinas, e várias variantes da COVID-19, a produção e a distribuição das vacinas já progridem ao ritmo pretendido. Esta evolução permitiu que a reabertura da economia mundial fosse mais célere do que o estimado, sendo já visível nos números das projeções para o crescimento económico mundial por parte de vários organismos, como por exemplo o FMI, OCDE, assim como pelos principais bancos centrais. Revisões suportadas por uma melhor adaptação da população às restrições pandémicas, ao avanço do processo de vacinação e pelos reforços nos estímulos governamentais. Como consequência, a reabertura da economia aliada às fortes injeções monetárias por parte dos bancos centrais e os fortes estímulos governamentais começam já a pressionar uma procura no consumo acima da oferta disponível, originando inevitavelmente, a subida de preços, ou seja, inflação. Portanto, enquanto a oferta não se ajustar ao crescimento do consumo, vamos assistir a picos de inflação, com valores acima das metas propostas, levando a algumas situações de escassez nas cadeias de abastecimento.

EUA

Nos EUA, os estímulos monetários e fiscais estão a catapultar a inflação para níveis bastante acima das metas pretendidas. A nível governamental, os programas de infraestruturas de 1 bilhão de dólares e os apoios ao emprego, estão e, vão continuar a suportar o crescimento. Pela política monetária, a Fed, na sua última reunião de junho, antecipou uma inflação de 3.4% para o final deste ano, sendo que para os anos seguintes é projetado que estabilize nos 2%. A taxa de desemprego, deverá terminar o ano nos 4.5% e para o GDP, um crescimento de 7%. Perante estes números, o organismo admitiu poder antecipar o início da subida das taxas de juro de 2024 para 2023. De realçar que sete dos 18 membros, defendem a subida das taxas já a partir do próximo ano. Perante este cenário, qualquer decisão de reversão das políticas acomodatícias será baseada em evidências concretas e serão sempre ténues de forma a permitir a contínua confiança dos agentes económicos e a refletir a melhoria dos dados económicos. Para a segunda metade deste ano, o simpósio anual de Jackson Hole em agosto e a reunião da Fed de setembro, assumem especial importância na definição das medidas, assim como na calendarização da reversão das atuais políticas acomodatícias.

Europa

O processo de vacinação na Europa está a evoluir favoravelmente, o que está a permitir acelerar a reabertura da economia. Os dados do PMI registam o efeito destas melhorias apresentando valores historicamente elevados, a refletirem a confiança na expansão da economia por parte dos principais agentes económicos. A normalização da política monetária na zona euro está bem mais atrasada do que nos EUA. Por enquanto, não se discute qualquer reversão das atuais políticas acomodatícias. O atual programa de compras 1,85 triliões de euros de obrigações vai continuar até março do próximo ano e é assumido que vão continuar a comprar ativos para além do término da atual crise. Eventuais picos inflacionistas acima de 2%, serão temporários, devendo terminar o ano nos 1.9% e 2022 em 1.5%. Enquanto a inflação não estabilizar nos 2%, não se espera reversão das atuais políticas monetárias na zona euro.

Japão

No Japão, a pandemia agravou os problemas de inflação baixa. Contudo, a forte subida dos preços das commodities vai permitir que a taxa de inflação suba até ao final do ano. As tensões sino-americanas pressionaram o iene em alta, dificultando o objetivo de inflação. Na vertente monetária não é esperado que o BoJ proceda a qualquer alteração à atual política ultra expansionista.

Mercados emergentes

Nos países emergentes, a vacinação segue a velocidades bem distintas. Na América Latina, o Chile já atinge os 60% de pessoas que já tomaram pelo menos 1 dose, enquanto Brasil e Argentina estão apenas a 30%. Na Ásia, a China apresenta uma taxa de vacinação nos 43% enquanto a Índia continua muito atrasada, apenas com 15%. Um especial destaque para a China, a única economia a terminar o ano pandémico com crescimento positivo, já vislumbra ultrapassar a economia americana a partir do ano de 2026. Se é verdade, que cresceu nas últimas décadas com o selo copycat nation fruto das suas inúmeras indústrias de contrafação, acontece que em resultado do forte investimento em infraestruturas da nova tecnologia, este mercado está na vanguarda da inovação tecnológica, sendo a nação que apresenta melhor dinâmica no registo de patentes. As autoridades chinesas já estão mais avançadas na normalização das políticas de estímulos fiscais e monetários de forma a limitar as pressões inflacionistas.

Ações

Num ambiente inflacionista com grande parte das taxas de juros abaixo dos níveis de inflação, o ativo que melhor remunera e, protege deste imposto invisível, são as ações, especialmente as que melhor estão a responder a toda a transformação estrutural da conjuntura global. As empresas que apresentam um crescimento facilmente projetável no longo prazo, ou com facilidade em repercutir no consumidor eventuais pressões inflacionistas na sua cadeia de abastecimento são as melhores posicionadas para a atual conjuntura inflacionista. Apesar das correções do setor tecnológico face aos máximos de fevereiro, acabam por ser estas as que mais preparadas se encontram na atual disrupção para um ecossistema económico mais digital. Por fim, as empresas ecologicamente sustentáveis, beneficiadas pela forte redução do custo de produção das energias renováveis, pelos apoios governamentais face à urgência de transformação energética e pelo forte escrutínio dos consumidores, investidores, reguladores na medição do impacto ambiental, social e de governance das empresas.

Obrigações

O mercado obrigacionista na zona euro deverá continuar nos próximos anos sem grandes oportunidades de investimento. As taxas de juros nulas continuam suportadas pelos programas de compra de ativos do BCE. A inexistência de yield deverá permanecer nas obrigações soberanas da zona euro, sendo o BCE o maior detentor destes ativos.

Nesta classe de ativos, estamos sobre ponderados em obrigações corporativas americanas de média duração Investment Grade que proporcionem um rendimento acima da inflação e suportadas por uma moeda forte. Adicionalmente também estamos overweight em dívida High Yield europeia e em obrigações indexadas à inflação.

As emissões dos países emergentes, também constam na nossa alocação, com estes ativos a beneficiarem da reabertura da economia destes países pelo aumento da procura das commodities, chips e pela intensificação do turismo ao ritmo da vacinação da população.

Maiores riscos

Inflação já é o grande receio dos investidores, superando a incerteza espoletada pela pandemia COVID-19. No nosso cenário central, assim como nas metas dos principais bancos centrais, a inflação vai continuar a ser superior às taxas de juro dos ativos sem risco nos próximos anos, levando à deterioração das poupanças dos aforradores. No curto prazo, consideramos que os atuais surtos inflacionistas registados por exemplo nos EUA, se devem a fatores temporários e não estruturais, pela distorção da oferta/procura. Esta disformidade será dissipada à medida que a oferta se ajuste às necessidades de consumo.

Os bancos centrais desempenham um papel decisivo na monitorização destes dados, portanto o risco de retirada de estímulos/subida de taxas juro para combater a inflação será introduzida gradualmente e condicionada a fortes evidências de robustez dos dados macroeconómicos.

Fundo recomendado

Recomendamos uma vez mais o Optimize Investimento Activo, um fundo dotado de flexibilidade para posicionar a exposição ao mercado acionista no intervalo de 0% a 100%, sendo uma verdadeira alternativa aos produtos mais conservadores uma vez que procura obter, no longo prazo, uma rentabilidade superior à inflação. Focamos ainda a agilidade que o mandato de gestão proporciona à equipa de gestão para posicionar o nível de risco e a capacidade ativa para aproveitar várias oportunidades que vão sendo proporcionadas nos ciclos mais voláteis.