Carlos Pinto, senior investment manager na Optimize Investment Partners, alerta também que não estar investido em ativos reais levará à degradação do património.
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TRIBUNA de Carlos Pinto, senior investment manager na Optimize Investment Partners.
O ano de 2021 foi marcado pela vacinação em massa e pela retoma da normalidade. A reabertura da economia aliada às fortes injeções monetárias por parte dos bancos centrais e estímulos governamentais já se fazem sentir no aumento da procura, bem acima da capacidade de a oferta acompanhar esta dinâmica, o que tem levado ao estrangulamento das várias cadeias de abastecimento, e justifica os atuais picos inflacionistas. Por um lado, os bancos centrais, vão assumindo que os níveis da inflação são transitórios, por outro, os mercados e os seus analistas interpretam que a inflação deverá ser mais duradoura, o que irá obrigar as autoridades monetárias anteciparem a retirada dos estímulos monetários. Já mais no final do ano, o surgimento de uma nova variante, a Omicron, levou vários governos apertar as restrições na tentativa de estancar esta nova vaga até que sejam conhecidos os seus estudos clínicos e a eficácia das vacinas. Apesar deste cenário nebuloso reavivar os tempos do início da pandemia, consideramos pouco provável que venha a ter as mesmas repercussões nos mercados. As vacinas já demonstraram que reduzem drasticamente o número de hospitalizações e já existem comprimidos que permitem curar as infeções para os casos mais críticos. Além do mais, as próprias pessoas já estão melhor adaptadas aos novos hábitos de cuidados e higiene pessoal, assim como melhor preparadas para o trabalho à distância.
EUA
Nos EUA, já mais no final do ano, Jerome Powell foi nomeado para um novo mandato na presidência da Fed e traçou um compromisso mais acelerado para o tappering. Pela primeira vez, assumiu que a inflação, atualmente nos 6,8%, valor mais elevado dos últimos 40 anos e nada comum nas economias mais avançadas, não é meramente transitória e para estancá-la, iriam iniciar a discussão acerca do ritmo de subidas da taxa de juro diretora e assim foi. No seguimento destas declarações, na última reunião do ano, foi revelada a dot plot dos seus membros que já indicia três subidas da taxa de juro ao longo do próximo ano e o plano de compras mensais deverá terminar em março de 2022, ou seja, antecipam o seu término em três meses face ao anteriormente planeado. Medidas que visam combater a inflação e estimular o crescimento económico.
O investimento de um triliões de dólares em infraestruturas, vai finalmente arrancar, incidindo sobretudo na construção e remodelação de vias de comunicação, expansão dos serviços de banda larga em muitas regiões que evidenciaram carências de acesso à internet durante a pandemia e em infraestruturas que permitam acelerar a transição energética. Realço ainda para as eleições intercalares de novembro do próximo ano. Segundo as últimas projeções, muito embora o cenário não seja muito favorável às pretensões da administração Biden, esta reitera como principal objetivo a manutenção da maioria na Casa dos Representantes e do Senado, ou pelo menos numa das câmaras.
Europa
A inflação na zona euro é o tema quente da atualidade, situando-se nos 4,9%, valor mais elevado desde a introdução do euro. Estes números refletem a subida do preço das matérias-primas, impulsionada sobretudo pela subida dos custos energéticos em 27%. Por enquanto, o BCE assume que estes picos inflacionistas são transitórios, fruto das disrupções em várias cadeias de abastecimento, da subida do custo das matérias-primas e da energia. É aguardado que estas disrupções sejam resolvidas e os preços estabilizem ao longo do próximo ano. O BCE, mais atrasado no tappering que o seu par americano, deverá ficar-se pela redução do plano de compras mensais a partir de março de 2022, assim que o atual programa termine. A mexida nas taxas de juro ainda não deverá ser tema para 2022.
Em termos políticos, o grande destaque vai para as eleições presidenciais francesas com Emmanuel Macron, com uma ligeira vantagem na corrida para um 2.º mandato. O atual presidente francês, um europeísta, deverá enfrentar na 2.ª volta Marine Le Pen ou E. Zemmour, que defendem políticas mais protecionistas, movimentos que tem vindo a ganhar popularidade no eleitorado francês.
Japão
No Japão, mais de 80% da população está vacinada, o que está a permitir a retoma da atividade económica e corrigir as disrupções nas várias cadeias de abastecimento, minimizando o risco de estagflação, ou seja, de um crescimento económico inferior à inflação. A elevada inflação nos EUA, aliada ao elevado diferencial entre as taxas de juros dos dois países, deverão permitir uma depreciação do iene face ao dólar, o que será um estímulo para as empresas exportadoras.
Mercados emergentes
Os mercados emergentes tiveram um ano mais deprimido, em contraciclo com as economias desenvolvidas, sobretudo pressionados pelo Brasil e pela China. Do lado positivo, estiveram as ações indianas, com uma inflação mais controlada, atualmente nos 4,5% o que compara com os 7,6% registado em 2020. O PIB já superou os seus níveis pré-pandémicos, e o ano deverá terminar com um crescimento económico de 9,5%, sendo aguardado um crescimento de 8,5% para 2022. O aumento do consumo e a diminuição de casos COVID-19, posicionam novamente a Índia, na liderança do crescimento global. No Brasil, regressam os problemas que têm assolado o país há décadas, a instabilidade política. O ano de 2022, vai ser marcado pela campanha eleitoral e o regresso de Lula da Silva ao combate político, tentando afastar o atual Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Já na China, o aumento do peso regulatório, com a intervenção estatal sobre as instituições de ensino, que passaram a ser obrigadas a converterem em organizações sem fins lucrativos para minimizar a discrepância de acesso ao ensino, aumentou a desconfiança dos investidores. As empresas tecnológicas, especialmente as de videojogos, por serem obrigadas a limitar os seus conteúdos a três horas de jogo por semana, como forma de contrariar o vício da população mais nova, também foram afetadas. Contudo, consideramos que o risco de maior intervenção das autoridades chinesas deverá aligeirar, como forma de evitar a fuga do investimento privado na região, que terá o consequente impacto nas metas de crescimento. Outro tema também relevante, que tem estado no foco das preocupações, é a iminente falência do colosso imobiliário chinês, Evergrande. Neste caso, consideramos que o risco esteja mais controlado, já que os grandes detentores da dívida estão no mercado doméstico. Se as autoridades locais permitissem uma falência descontrolada, a economia doméstica entraria em recessão e aí sim poderia impactar o comércio global.
Ações
Num ambiente de taxas de juro baixas e inflação elevada, a classe de ativo melhor preparada para defender as carteiras são as ações, especialmente as que melhor estão a responder a toda a transformação estrutural da economia. Remeto naturalmente para empresas tecnológicas que fomentam a digitalização e robotização da economia.
Adicionalmente consideramos que deve ser tido em conta o investimento em empresas que proporcionem uma dinâmica robusta de crescimento a cinco a 10 anos em níveis superiores à taxa de inflação e que transacionem com múltiplos razoáveis. Por fim, há que olhar para empresas ecologicamente sustentáveis, beneficiadas pela forte redução do custo de produção das energias solares e eólicas, e pelos fortes investimentos governamentais face à urgência de transformação energética.
Obrigações
O mercado obrigacionista na Europa deverá continuar nos próximos anos, bem suportado por taxas de juros nulas e pelos programas de compra de ativos, embora se projete de menores dimensões já a partir de março de 2022. Já nos EUA, o tappering está mais avançado com o início da subida das taxas de juro já a partir de 2022. As taxas de juro de curto prazo deverão ser as mais impactadas, uma vez que as autoridades monetárias deverão continuar a monitorizar as taxas de longo prazo, para não asfixiar a solvabilidade financeira dos agentes económicos, leia-se empresas e famílias, mais endividados.
Neste ponto, estamos mais positivos em obrigações de empresas com rating entre BB- e BBB que proporcionem uma yield superior a 1%, e em obrigações indexadas à inflação. No mercado emergente, também encontramos algumas oportunidades, especialmente em dívida corporativa com forte peso exportador para as economias desenvolvidas, leia-se receitas em moeda forte.
Maiores riscos
Os atuais picos inflacionistas, em níveis superiores à do crescimento económico, a perdurarem por mais tempo, leva-nos a um ambiente perigoso de estagflação. No curto e médio prazo, entendemos que a generalidade das empresas não vão ter capacidade de refletir o aumento da inflação no crescimento dos salários, uma vez que as receitas não vão ter a capacidade de crescer nos mesmos níveis. Desta forma, alertamos que não estar investido em ativos reais, como é o caso das ações e até mesmo obrigações que promovam rendimentos acima da inflação, levará à degradação do património. Como sempre, adotamos e defendemos uma abordagem racional e convicção no poder da diversificação, da flexibilidade e do longo prazo no processo de investimento. Respeitar o horizonte temporal idealizado é fulcral para que várias ideias de investimento atinjam o seu valor. Só assim é possível ultrapassar as várias intempéries que vão assolando todos os ciclos de investimento.
Fundos recomendados
Recomendamos os fundos Optimize PPR Agressivo, com uma abordagem flexível de exposição às ações de 0% a 100%, e o Optimize PPR Ativo de 0% a 55% em ações. Os fundos flexíveis concedem uma maior agilidade à equipa de gestão para posicionar o nível de risco, com uma alocação diversificada e uma capacidade ativa para aproveitar várias oportunidades que vão sendo proporcionadas nos ciclos mais voláteis. Estas caraterísticas têm sido decisivas para permitir que se evitem as fortes quedas dos índices acionistas e possibilitar um célere reposicionamento para acompanhar as fortes recuperações que se têm verificado.
Conclusão
Assumimos, no nosso cenário central, um abrandamento do crescimento económico global, essencialmente ditado pela redução gradual dos estímulos monetários. No entanto, entendemos que este abrandamento pode ser compensado pelo fim das várias distorções nas cadeias de abastecimento, que a serem resolvidas, irão contribuir para suportar o forte consumo verificado durante este ano, e para uma estabilização dos níveis de inflação, por via do aumento da oferta.