A Caixa Geral de Depósitos tem andado na ordem do dia. Veja a opinião de Carlos Bastardo, no seu artigo mensal, sobre este assunto.
Será que os defensores das comissões de inquérito e das auditorias a bancos privados deviam ter a mesma postura neste caso, tratando-se de um banco público? Mais do que deviam! Até porque a CGD é determinante no financiamento da economia.
Se já existiram várias comissões de inquérito a bancos que foram nacionalizados, resolvidos, resgatados ou vendidos rapidamente, também faz sentido questionar e analisar detalhadamente porque o banco público teve que fazer tantos aumentos de capital social desde 2008 e o porquê dos avultados prejuízos acumulados nos últimos anos. Sendo um banco público, os contribuintes não pagam à mesma? Claro que sim! Portanto, independentemente de ser uma empresa pública ou privada, devem ser sempre apuradas as responsabilidades pelo parlamento (e não só!), quando os contribuintes são chamados a pagar. Esta é uma questão que todas as correntes políticas têm que entender.
A atividade comercial do banco público devia, segundo os princípios mais elementares da gestão, ser mais conservadora em termos de risco. Mas a realidade é que a CGD acabou por ter os problemas e cometer erros semelhantes aos cometidos pelo management de muitos bancos privados por esse mundo fora.
Se compararmos a performance dos dois maiores bancos a operar em Portugal, CGD e BCP, reparamos que existem muitas semelhanças na performance alcançada. No período de 2009 a 2015, verificamos que ambos os bancos tiveram fortes prejuízos consolidados. A CGD não tem lucros consolidados desde 2009 e o BCP teve prejuízos consolidados entre 2010 e 2014 inclusive, tendo conseguido em 2015 um lucro consolidado de 235 milhões de euros, enquanto a CGD ainda apresentou um prejuízo consolidado de 81,5 milhões de euros. Entre 2009 e 2015, a CGD teve um prejuízo acumulado de 1.340 milhões de euros, ao passo que o BCP apresentou perdas de 2.456 milhões de euros. Os anos de 2011 a 2013 foram os mais penalizadores para ambos os bancos.
Devem ser analisados os erros do passado em qualquer organização para não se repetirem no futuro. Os riscos da atividade bancária são imensos: riscos de contraparte, de crédito, de taxa de juro, de funding, de mercado, de regulação, soberano, operacional, ativos não reportados no balanço, reputação e de capital / solvência. Perante a complexidade e a variedade das transações, a gestão de um banco é mais difícil do que a gestão de uma empresa não financeira, dada a tipologia de riscos inerente. Porque acima de tudo é um banco público, faz todo o sentido haver uma investigação detalhada ao rumo da instituição, pelo menos desde 2000.
Ainda recentemente, quando da apresentação de empresas nacionais nos EUA, muitos investidores internacionais questionaram os responsáveis portugueses sobre a situação do setor bancário. Esta situação espelha alguma inquietação que não é positiva no enquadramento atual do país.
Nota final: 19 administradores? Ou vão resolver depressa os problemas ou vão criar ainda mais. Desejo sinceramente que ocorra o primeiro cenário!