O progressivo envelhecimento dos membros da Casa dos Representantes e do Senado pode ser explicado, na opinião de Fernando Nascimento, subdiretor do departamento de Multiativos, da IMGA, pela crescente dimensão das campanhas eleitorais norte-americanas.
O Chart of the Week é da autoria de Fernando Nascimento, subdiretor do departamento de Multiativos, da IM Gestão de Ativos.
No passado dia 20 de janeiro tomou posse, como 47º Presidente dos EUA, Donald John Trump, com a idade de 78 anos e sete meses, tornando-se assim o mais velho presidente norte-americano a ocupar a Casa Branca. Este recorde era detido precisamente pelo seu predecessor, Joe Biden, que tomou posse com 78 anos e dois meses.
Depois de um rejuvenescimento, que ocorreu em grande parte do século XX, assistimos, a partir dos anos 80, a um progressivo envelhecimento dos membros da Casa dos Representantes e do Senado. Talvez a razão que melhor explica esta tendência seja o facto de a dimensão das campanhas eleitorais norte-americanas ter crescido de forma exponencial, com uma sofisticação que exige recursos financeiros que raramente os candidatos mais jovens conseguem reunir.
Quem já está no poder, e se recandidata, tem claramente mais facilidade em obter donativos e organizar campanhas mais fortes e abrangentes. Deste modo, a esmagadora maioria dos incumbentes acaba por renovar os seus mandatos (95% em 2020) e perpetuar-se nos cargos, envelhecendo os órgãos de poder. A introdução de limites de mandatos é uma das soluções que já foram apresentadas.
Embora a experiência e o conhecimento institucional sejam qualidades importantes nos decisores, as consequências deste envelhecimento são claramente negativas para a democracia norte-americana. O trabalho produzido pelo Congresso é afetado pelos crescentes problemas de saúde dos seus membros, onde um inevitável declínio da saúde mental e física se traduz em forte absentismo, atrasos na produção de legislação, reduzido poder de negociação e enfraquecimento dos mecanismos de controle.
Igualmente preocupante é a tendência dos legisladores se afastarem gradualmente da literacia tecnológica, oferecendo resistência à inovação e produzindo legislação, muitas vezes ineficiente, para uma realidade económica em acelerada transformação.
Atualmente nos EUA, um país com uma média de idades em torno dos 38 anos, as gerações jovens sentem-se alienadas e mal representadas por políticos com referências culturais e experiências de vida radicalmente distintas das suas, o que enfraquece esta democracia de quase 240 anos. Não admira, portanto, que uma elite tecnológica, com ferramentas que lhes permite chegar junto de um eleitorado descontente, se aproxime do poder político, e exerça uma crescente influência, que pode vir a conduzir esta velha democracia para uma tecnocracia vigilante.