Pedro Silveira Assis, Managing Partner da Baluarte, reflete sobre redução do nível geral de taxas de juro.
(O ‘Chart of the Week’ desta semana é da autoria de Pedro Silveira Assis, Managing Partner da Baluarte.)
No início de 2020, perante uma pandemia cujos efeitos ameaçavam esgotar a capacidade dos sistemas nacionais de saúde, foram impostas medidas de confinamento que conduziram a uma paragem súbita da actividade económica e tiveram como consequência a maior recessão no passado recente.
Em apenas 2 trimestres, o PIB da Zona Euro contraiu -15%, uma queda quase três vezes mais intensa que a contracção sentida em 5 trimestres durante a recessão de 2008, na qual contraiu -5.6%.
Como consequência, o mercado global de acções desvalorizou mais de 30% entre 19 de Fevereiro e 23 de Março. No entanto, a recuperação foi rápida: em Agosto, 5 meses depois dos mínimos, o MSCI World, em Euros, voltou a superar o seu valor do início do ano, e terminou o ano a subir mais de 6%. Desde o início de 2021, até meados de Fevereiro, tinha subido outros 6%.
A explicação para este aparente divórcio entre uma recessão tão profunda e uma valorização dos mercados financeiros assenta, em grande parte, na intervenção massiva por parte das autoridades fiscais e monetárias – os governos e os bancos centrais – que, quase de imediato, aprovaram e aplicaram medidas de estímulo de volume sem precedentes.
Entre elas esteve a redução do nível geral de taxas de juro, por vários meios. Num ambiente de taxas tão baixas como as que se observaram ao longo do segundo e terceiro trimestres de 2020, o preço dos activos financeiros – que reflecte o valor actualizado do fluxo esperado de rendimentos futuros – encontrou um factor de suporte que compensou o menor valor esperado, e a maior incerteza, sobre o valor desses rendimentos.
À medida que saímos desta situação extraordinária, é de esperar o efeito inverso: com a redução da incerteza e a melhoria das expectativas económicas, em volume e preço, as taxas devem começar a subir.
O efeito sobre as várias classes de activos será diferente: obrigações do tesouro de países com baixo risco de crédito são negativamente afectadas pela subida de taxas, sem serem materialmente beneficiadas pela melhoria das condições económicas. No outro extremo, as acções também são negativamente afectadas pela subida de taxas, mas são beneficiadas pela recuperação da expectativa de resultados. O comportamento futuro deste segmento do mercado nos próximos meses será o resultado da manutenção, ou não, deste delicado equilíbrio.