Ana Gomes, consultora de investimento sénior no Banco BEST, comenta os dados revelados pelo relatório mensal da OPEC de setembro, divulgado esta semana.
O Chart of the Week é da autoria de Ana Gomes, consultora de investimento sénior no Banco BEST.
O relatório mensal da OPEC de setembro, divulgado esta semana, aponta para um desfasamento entre a oferta e a procura de crude, que estima ser insuficiente em 3,3 milhões de barris diários no 4º trimestre deste ano. Estes dados têm como pano de fundo o acordo entre a Rússia e a OPEP para prolongar até ao final do ano os cortes de produção implementados em julho. A confirmar-se este défice, será o maior desde 2007!
O preço do barril de petróleo mantém o movimento de subida, que já vem desde o início do verão, ultrapassando a barreira dos 92 dólares por barril. A expectativa é que esta tendência ascendente se prolongue, apesar de se antever um abrandamento do crescimento da procura global. A China continua a ser o motor desta procura, embora esta economia esteja a perder algum poder de tração. Ainda assim, a volatilidade deverá continuar presente.
Brent crude oil price, USD per barrel
Esta subida do preço do petróleo poderá vir a inverter as tendências desinflacionistas que vinham a ocorrer, de ambos os lados do Atlântico nos últimos meses. Aliás, tem sido um fator-chave nesse exercício. Esta dinâmica tem sido mais clara nos EUA, onde os preços dos combustíveis eram responsáveis por 3 p.p. da taxa de inflação em junho passado.
Esta tendência de subida, associada ao crescimento do preço do gás (particularmente relevante para a Europa), aguça o dilema que se apresenta neste momento ao BCE, sobretudo à medida que nos aproximamos perigosamente do inverno. A permanência destas pressões inflacionistas reforça os argumentos a favor de uma política restritiva, numa altura em que o BCE assume que a sua atuação será pautada pela informação (data dependent), procurando um equilíbrio entre controlar a inflação e não penalizar em demasia o crescimento da Zona Euro.