Chart of the Week – Evergrande: o sismo e as réplicas

Guilherme Almeida
Guilherme Almeida. Créditos: Cedida (Millennium bcp - DWM)

Chart of the Week é da autoria de Guilherme Almeida, analista de fixed income da Millennium bcp – DWM.

Esta semana continuámos a assistir ao desenrolar dos eventos envolvendo a Evergrande, a gigante promotora e construtura imobiliária chinesa. Depois de ter falhado o pagamento dos cupões de duas obrigações em dólares no final de setembro, a empresa voltou a incumprir no pagamento de juros de três outras emissões, evidenciando novamente a escassez de liquidez amplificada pela dificuldade em completar vendas de ativos. O montante agregado dos cupões não pagos ultrapassa os 270 milhões de dólares. Simultaneamente, sucedem-se notícias de que outras empresas chinesas do setor estão a alertar os credores quanto à impossibilidade de reembolso dos créditos contraídos, propondo uma efetiva reestruturação da dívida, seja através da extensão de prazos de pagamento ou de trocas de dívida.

Para já, o índice de dívida High Yield China em dólares tem sido o principal escape das preocupações dos investidores internacionais, situação que se deve ao facto das empresas do setor imobiliário representarem perto de 60% do montante total de emissões do índice, equivalente a um montante de 80 mil milhões de dólares. O índice Investment-Grade, que abrange as emissões com melhor qualidade de crédito, mantém-se relativamente resiliente, estando os spreads de crédito a estreitar 20 pontos base desde o início do ano (versus alargamento de 1.000 pb no HY).

Esta semana a yield média do índice HY ultrapassou os 18%, um máximo pós-crise financeira de 2008. A situação é ainda mais extrema no setor imobiliário onde a yield média ultrapassa 29%, sendo que 40% das emissões cota a preços inferiores a 70% do seu valor nominal (8% transaciona abaixo de 30%, indiciando falência iminente). Ainda que o recurso a dívida no exterior represente historicamente uma pequena parte do passivo da Evergrande e dos outros players, a escalada das yields para estes níveis, coloca entraves ao refinanciamento da dívida e aumenta o risco de defaults mais generalizados no setor. Este movimento coincide com uma desaceleração clara da atividade no setor, com a vendas de casas na China a cair expressivamente em setembro (-20% a -30% numa base homóloga).

O foco do mercado manter-se-á nas medidas que as autoridades chinesas anunciem para prevenir ramificações nefastas para o conjunto do sistema financeiro e, por outro lado, de suporte à atividade imobiliária, que é preponderante para o crescimento da economia chinesa como um todo.

Índices de obrigações China denominadas em USD

Esquerda: Retornos desde o início de 2021. Base 100 = 31 dezembro 2020; Direita: Yield média