Chart of the Week - Obrigações de Taxa Indexada, um recurso cada vez mais escasso

Ana_Lui_sa_Aguiar
Cedida

(O 'Chart of the Week' desta semana é da autoria de Ana Luísa Aguiar, portefolio manager, da IMGA)

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Fonte: Bloomberg

O número de emissões de obrigações de taxa indexada em euros tem vindo a reduzir-se a olhos vistos. Num ambiente de taxas de juro baixas, são poucos os incentivos que as empresas têm em emitir títulos de dívida de taxa indexada. Se por um lado os emitentes financeiros fazem-no para fazer corresponder parte das suas fontes de financiamento aos ativos indexados à Euribor (tipicamente os empréstimos concedidos para crédito à habitação), por outro lado, nas empresas não financeiras este tema não se coloca. Em ambos os casos existem fortes incentivos a fixar os custos de financiamento ao nível mais baixo e para a maturidade mais longa possível, através da emissão de títulos de taxa fixa.

Do ponto de vista do gestor de fundos de investimento, não havendo restrições ao universo investível, e acreditando no poder do programa de compras do Banco Central Europeu, as obrigações de taxa indexada mostram-se menos atrativas uma vez que não são elegíveis para o programa de compras. Por outro lado, o nível muito negativo das Euribor suprime o cupão de uma parte destas obrigações reduzindo o número de compradores interessados na classe.

Desde o início do ano foram emitidas em mercado primário aproximadamente €77.5bn de obrigações Investment Grade não governamentais, benchmark (com dimensão superior a 500 milhões), em euros; e destes, apenas €4bn foram de obrigações de taxa indexada. Enquanto que as obrigações de taxa fixa foram emitidas com uma maturidade média de 9 anos, as de taxa indexada foram emitidas com uma maturidade média de 3 anos. O gráfico mostra que a redução do número de emissões de taxa indexada não é algo recente. Desde que o mercado retomou o seu funcionamento normal em 2012 com os programas de liquidez do BCE, o número de emissões de taxa fixa e de taxa indexada seguiram caminhos bem diferentes. Se fossemos comparar em termos dos volumes emitidos, essa diferença seria ainda mais significativa. Um dos índices de referência para este universo - o Bloomberg Barclays Euro Floating Rate Notes - elege atualmente 252 emissões de taxa indexada. Por comparação o índice de referência de taxa fixa – o Bloomberg Barclays Euro Aggregate Corporate - apresenta 2888 emissões de taxa fixa. Mais do que o número de emissões importa destacar que neste momento a maturidade média do índice de taxa indexada é de apenas 1.5 anos, uma vez que aproximadamente 30% destas emissões maturam em menos de 1 ano e aproximadamente 50% em menos de 2 anos, o que demonstra a escassez deste tipo de ativos.

Perante um universo de clientes particulares muito conservador, os produtos financeiros indexados às taxas de juro continuam a registar uma forte procura em Portugal. Estes produtos permitem mitigar um dos principais riscos no investimento de obrigações que é o risco de taxa de juro, e proporcionar um baixo nível de volatilidade. Neste sentido acreditamos que os fundos que investem maioritariamente em taxa indexada estarão suportados pelo efeito técnico que descrevemos – o efeito escassez.