TRIBUNA de Mike Gitlin, presidente & CEO da Capital Group. Comentário patrocinado pela Capital Group.
Dizer que este ano tem sido um ano interessante para os mercados financeiros é um eufemismo. As ações têm sido mais fortes do que o esperado e a yield do Tesouro norte-americano a 10 anos subiu, a 13 de setembro, 40 pontos base. Em que ponto nos encontramos agora que caminhamos para a reta final de 2023? Acredito que estamos à beira de uma transição importante, uma transição onde os investidores de longo prazo podem encontrar oportunidades de rendimento atrativas à medida que os bancos centrais passam de uma política monetária restritiva para algo que parece muito mais benigno.
O ano passado foi chocante para muitos na comunidade de investidores: foi a primeira vez, em pelo menos 45 anos, que as ações e as obrigações registaram retornos negativos num ano. Na luta contra a elevada inflação, a Reserva Federal e outros bancos centrais aumentaram as taxas de juro de forma agressiva. Esses aumentos prejudicaram os resultados absolutos em todos os setores. O habitual papel das obrigações de elevada qualidade de diversificar a volatilidade do mercado de ações – algo em que os investidores confiam – falhou.
A maioria dos investidores nunca tinha enfrentado um ano tão difícil como 2022
A turbulência dos mercados em 2022, aliada à perspetiva de yields relativamente elevadas nos mercados monetários, levou os investidores a recorrerem a alternativas semelhantes à liquidez. Os fundos do mercado monetário atingiram um máximo histórico de 5,6 biliões de dólares a 6 de setembro, de acordo com o Investment Company Institute. Atualmente, os investimentos em liquidez ainda parecem atraentes para muitos investidores, mas a Fed parece estar a aproximar-se de um ponto de viragem. A história ensina-nos que este pode ser um momento oportuno para regressar às ações e obrigações.
A Fed vai voltar a aumentar as taxas de juro?
Ninguém sabe exatamente quando é que a Fed deixará de aumentar as taxas. No entanto, tanto os mercados como a própria Fed projetam que a sua taxa diretora atingirá um pico próximo dos níveis atuais e depois diminuirá cerca de 100 pontos base até ao final de 2024.
Tanto o mercado como a Fed projetam taxas mais baixas em 2024
Se acredita que a Fed já terminou ou está perto do fim, o que nos diz a história? Uma análise do final dos últimos quatro ciclos de subidas da Fed mostra que as yields dos investimentos em liquidez diminuíram enquanto as ações e as obrigações prosperaram.
História mostra que as yields da liquidez diminuíram quando as subidas da Fed terminaram
Hoje em dia, ficar em fundos do mercado monetário pode parecer confortável com uma yield de cerca de 5%, baseada no benchmark do Tesouro dos EUA a três meses, especialmente após um prolongado período de política experimental de taxas de juro zero depois da crise financeira global. Mas o benefício de permanecer em dinheiro com as atuais yields é reduzido pela atual inflação moderada. Além disso, estas participações em liquidez podem ter algumas vantagens adicionais à medida que a Fed termina a subida de taxas.
É aqui que a matemática é importante. A história mostra que, nos 18 meses que se seguiram ao fim das subidas de taxas nos últimos quatro ciclos, as yields dos investimentos em liquidez registaram, tradicionalmente, uma rápida queda. A yield a três meses do Tesouro dos EUA, um título de referência com uma yield semelhante à dos investimentos em liquidez, caiu em média 2,5%. Se a história se repetisse, as yields dos fundos do mercado monetário diminuiriam e os investidores ficariam mais bem servidos se investissem ativamente em ações e obrigações.
As yields das obrigações do Tesouro a três meses desceram acentuadamente após a última subida da Fed nos últimos quatro ciclos
Onde investir dinheiro atualmente
Se concordar que a Fed está quase a terminar as subidas e que a yield da liquidez pode diminuir ao longo do tempo, a questão é: onde investir atualmente? Após a última subida da Fed nos últimos quatro ciclos, os retornos das ações e das obrigações foram ambos fortes no ano seguinte. É importante notar que, para investidores a longo prazo, estes setores mantiveram uma força relativa ao longo de um período de cinco anos.
Após o fim das subidas da Fed, os resultados a longo prazo ultrapassaram a liquidez, com o primeiro ano a contribuir mais
Atualmente, as obrigações estão novamente a fazer jus ao seu nome ao proporcionar um sólido potencial rendimento aos investidores. O Índice Bloomberg US Aggregate, que usamos como proxy para representar obrigações globais de elevada qualidade, tinha uma yield-to-worst (a yield mais baixa possível que uma obrigação que opera plenamente dentro dos termos do seu contrato sem incumprimento pode receber) de 5,0% no final de agosto. Este valor é aproximadamente o dobro da sua média de 10 anos, uma vez que a política altamente acomodatícia afetou as yields durante a última década. Este potencial rendimento proporciona atualmente um ponto de partida sólido para o retorno total.
A mesma exposição às taxas de juro que prejudicou as obrigações em 2022 beneficiará as obrigações se as taxas começarem a diminuir. Eis um exemplo hipotético que pode funcionar. A duração do índice, uma medida de sensibilidade às taxas de juro, é de 6,25 anos. Isto significa que se as yields diminuírem quase 100 pontos base em 2024, os investidores poderão ver uma subida de 6,25% no retorno positivo do preço, se tudo o resto for igual. Em conjunto, estas componentes de retorno do preço e de rentabilidade total equivaleriam a uma hipotética rentabilidade a um ano que poderia atingir os dois dígitos, assumindo que o crédito não se deteriora significativamente. Nesse mesmo cenário, as yields dos fundos do mercado monetário desceriam abaixo dos 5%.
Para as ações, quando a Fed parar o endurecimento da política, dissipa-se um risco para o sistema financeiro. E, à medida que empresas e consumidores veem os seus custos de empréstimos estabilizarem e, eventualmente, a diminuírem, isso dá um impulso à economia e aos lucros empresariais. Historicamente, os investidores em ações têm visto os benefícios.
Neste momento, uma estratégia equilibrada também pode ser atrativa para investidores mais cautelosos. Uma carteira equilibrada tende a manter posições mais defensivas em ações que pagam dividendos e obrigações de elevada qualidade. E se a economia abrandar ou entrar em recessão, pode proporcionar alguma resistência.
É preciso coragem para agir
A inércia pode ser uma força poderosa, especialmente a inércia provocada por uma yield da liquidez de 5%. As emoções dos investidores são reais. As perdas passadas pesam durante muito tempo e as taxas atuais, aparentemente atrativas, nos mercados monetários dão uma boa sensação. Mas, como investidores, sabemos que os mercados não ficam parados muito tempo. Os investidores podem ficar presos em liquidez se esperarem demasiado tempo para voltar ao mercado, à medida que surgem melhores potenciais oportunidades.
Na Capital Group, focámo-nos em ajudar os investidores a alcançar o sucesso a longo prazo. Acredito firmemente que o melhor caminho para atingir esse objetivo é através do mercado de ações e de obrigações. Os nossos analistas e gestores de carteiras percorrem o mundo à procura de novas ideias de investimento, independentemente das subidas e descidas do mercado. Estamos otimistas quanto ao que o futuro nos reserva e empenhados em melhorar as vidas das pessoas através de investimentos bem sucedidos.