No seu último artigo do ano, Carlos Bastardo comenta a situação económica na Europa. O velho continente corre o risco de ficar para trás caso não sejam tomadas decisões rápidas que promovam o crescimento na região.
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Lembram-se certamente da alcunha PIIGS na crise da dívida pública europeia, especialmente sentida em Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. Naquela altura em jornais como o Financial Times, o Wall Street Journal e outros órgãos de comunicação social anglo-saxónicos, abundavam artigos especialmente sobre a crise em Portugal, Grécia e Espanha.
No quadro seguinte, apresento para algumas datas as yields das obrigações de dívida pública de alguns países europeus. Escolhi os valores no final do ano de 2011, o ano mais crítico e que obrigou em 2012 ao famoso discurso de Mario Draghi, no final de 2019 antes da pandemia, no final de 2021 praticamente após a pandemia e agora, perto do final de 2024 (dados de 16 de dezembro).
Yields de obrigações de dívida pública a 10 anos
País
2011
2019
2021
2024
Alemanha
1,79%
0,13%
-0,46%
2,25%
França
3,04%
0,11%
-0,04%
3,05%
Itália
5,56%
1,76%
2,08%
3,39%
Espanha
4,80%
0,42%
0,58%
2,92%
Portugal
13,67%
0,19%
0,09%
2,70%
Grécia
34,15%
2,85%
1,36%
3,05%
Como se pode observar, no final de 2011 Portugal e Grécia estavam com yields de dívida pública a 10 anos muito elevadas (em Portugal, chegaram a estar acima dos 16%). Mas também, Itália e Espanha tiveram um ano de grandes dificuldades em 2011.
A França apresentava no final de 2011, um spread de 125 pontos base (1,25%) face à Alemanha.
Com os resgates de Portugal, da Grécia e do sistema bancário espanhol e com as medidas tomadas pelo BCE, nomeadamente a aquisição de títulos de dívida, foi possível trazer no sentido descendente as yields da dívida pública a 10 anos.
No final de 2019, antes da pandemia, as yields não se comparavam. Nessa altura, as yields mais elevadas eram na Grécia e em Itália. Portugal apresentava uma yield de 0,19%, apenas 0,06% acima da dívida alemã (benchmark).
A pandemia trouxe a queda das economias, a queda da inflação e a persistência das taxas de juro do BCE perto dos 0%. E com isso, países como a Alemanha e a França até registaram yields negativas. Ou seja, os investidores quando compravam obrigações de dívida pública daqueles países, em vez de receberem juros do emitente, pagavam-lhe. As obrigações de dívida pública eram consideradas um artigo de luxo, em especial a dívida alemã. Pagava-se para a ter em carteira!
Contudo, as consequências da pandemia que se traduziram em desequilíbrios nos processos de produção e distribuição começaram a fazer-se sentir no último trimestre de 2021 e mais tarde ao longo de 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A inflação começou a subir, atingindo rapidamente os 10% em alguns países europeus e obrigando o BCE a iniciar um ciclo de rápida subida das taxas de juro em julho de 2022.
Chegados a 2024 e já num ciclo de descida das taxas de juro, as yields da dívida pública voltaram a descer face aos máximos registados há alguns meses.
A situação política, o défice público e a estagnação económica em França têm feito aumentar o diferencial entre a yield da dívida pública francesa e a congénere alemã nos últimos meses.
A agência de rating Moody’s desceu em 14/12 o rating de França de AA2 para Aa3 e a razão são a evolução das finanças públicas do país e a incerteza política.
Em 16/12, a yield das obrigações de dívida pública a 10 anos de França estava mais alta que a de Portugal e Espanha e ao mesmo nível da yield das obrigações de dívida pública grega.
Por sua vez, o BCE reviu novamente em baixa o crescimento económico para a zona euro em 2024, 2025 e 2026, agora para 0,7%, 1,1% e 1,4% respetivamente. E voltou a baixar as taxas de juro em 0,25% na reunião de 12/12. Agora a taxa de depósito está em 3% e a de financiamento em 3,15%.
A economia americana deverá crescer 2,7% este ano e 1,9% em 2025, segundo previsões do FMI.
A situação económica na Europa é de estagnação, obrigando a decisões rápidas e que promovam o crescimento económico, caso contrários o distanciamento para os EUA e para a China irá continuar nos próximos anos.
Desejo a todos Boas Festas e um ano de 2025 com saúde e sucesso.