Desvendar a complexidade da descarbonização

Ana Claver Robeco
Ana Claver. Créditos: Cedida (Robeco)

TRIBUNA de Ana Claver Gaviña, responsável de negócio para a Península Ibérica, América Latina e US Offshore da Robeco, e presidente do Comité de Sustentabilidade da CFA Society Spain. Comentário patrocinado pela Robeco.

Quem pensa que a descarbonização é algo simples, ou até algo setorial que afeta unicamente quem queima combustíveis fósseis, está totalmente enganado.

A descarbonização da sociedade é a mudança de um modelo económico baseado nos combustíveis fósseis que tem funcionado para a humanidade nos últimos dois séculos e meio, particularmente para o ocidente, para outro de neutralidade climática. Desde então, até 2015, oficialmente em Paris, tínhamos desfrutado dos combustíveis fósseis e da sua elevada intensidade energética sem querer estar conscientes do esforço que será necessário para abandonar a nossa dependência.

A descarbonização é um objetivo que pode ser épico, com uma escala sem precedentes. Este compromisso global necessita do acordo de diversos atores, como governos, empresas ou consumidores, para evitar uma crise climática que faria esquecer crises económicas como a financeira de 2008, ou a provocada pela última pandemia global. Mas se há algum papel principal, é o da comunidade financeira. Assim o considera a UE e, por isso, lançou diversas ações, dentro do  âmbito das Finanças Sustentáveis, para dar maior confiança ao investidor e assegurar que o seu capital inicie a evolução para uma sociedade mais limpa e sustentável.

A velocidade que esta transição energética necessita, obriga as políticas climáticas a acelerar a marcha, gerando obrigações regulatórias que afetam o gestor de ativos com uma regulação que ganha em complexidade. Muitas instituições financeiras estão a comprometer-se com a descarbonização na sua luta contra as alterações climáticas, algo totalmente necessário se queremos que a nossa sociedade avance para o objetivo das zero emissões líquidas de modo a cumprir com os limites indicados pelo Acordo de Paris.

Recentemente, e em linha com o diálogo que mantemos com os investidores sobre a sua preocupação com assuntos relacionados com as alterações climáticas, reunimos no passado dia 20 de outubro os nossos principais clientes numa conferência para discutir os progressos e dificuldades deste processo de descarbonização da sociedade, das empresas e, em concreto, de carteiras e gestores.

Em colaboração com o IESE, e dentro do espírito académico da Robeco, iniciámos uma conferência de aprendizagem e reflexão, cujo lema Do compromisso à ação, nos permitiu baixar ao terreno e, em detalhe, ao desafio da descarbonização.

É essencial falar dos riscos e das oportunidades, mas também da dificuldade de acesso à boa informação, dos problemas estratégicos das empresas financeiras ao abordar a realidade da descarbonização e, sobretudo, tentar prever como irão evoluir as políticas que orientam esta mudança de modelo.

Atualmente, encontrámo-nos num processo de profunda mudança no funcionamento do nosso setor. Embora o investimento sustentável não seja algo novo (na Robeco praticamo-lo há mais de um quarto de século e está no nosso ADN), o seu desenvolvimento é agora muito rápido, impulsionado pela nova regulação e está a integrar-se no conjunto do setor global.

Por isso, na Robeco pensamos que o primeiro passo como investidor deve ser, conhecida a dificuldade da situação em que nos encontramos, fornecer as soluções mais eficazes e de maior impacto para a descarbonização, sem nos esquecermos da cara humana do progresso. Isto significa dar o passo do compromisso à ação, como a nossa conferência se intitulava.

Falamos de dever fiduciário, ética, mas também de oportunidade de negócio. Na Robeco gostamos de nos concentrar em soluções. Afirma Chris Berkouwer, gestor do fundo RobecoSAM NetZero2050 Climate Equities, “temos um impulso com as políticas, a tecnologia e o capital para a descarbonização, mas devemos atuar agora e investir de maneira a colaborar com as empresas que contribuem ativamente com soluções para as alterações climáticas”. Com isto não falamos apenas de empresas que mostram já uma menor pegada de carbono, falamos de quem lidera a transição na economia real e das empresas que ajudam estas a consegui-lo, com uma abordagem mais ampla.

A Robeco acredita firmemente que os investidores têm uma clara responsabilidade no uso do seu músculo financeiro para o bem comum. O capital deve ser utilizado onde mais pode ajudar, evitando empresas que fazem parte do problema, demasiado lentas e relutantes em mudar. Criar estratégias de investimento que apontem diretamente para atacar o aquecimento global é, cada vez mais, o caminho a seguir, juntamente com outros produtos de investimento sustentável mais tradicionais que também financiam soluções.

Na realidade, atualmente ninguém sabe exatamente qual será o caminho detalhado para chegar às zero emissões líquidas, o que significará que a legislação, a conceção do produto e as exigências do cliente se tornarão mais complexas, dispersas e demoradas. A nossa tarefa é integrar a tal complexidade na nossa forma de trabalhar e aceitar que ainda há muitas incógnitas. É preciso confiar, mais do que nunca, nos especialistas que melhor sabem como ultrapassar fronteiras e aprender de forma contínua com quem está acostumado a estar na vanguarda do investimento sustentável. Os pioneiros.