Determinantes da evolução dos ativos de risco em 2023

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Para quem trabalhou muitos e bons anos em ativos financeiros e trabalha há mais de sete anos em ativos reais (imobiliários), a evolução das variáveis determinantes do comportamento dos investidores fica de certa forma mais fácil de antecipar.

Para 2023, as principais variáveis que na minha opinião vão ser determinantes para os mercados financeiros são duas: o ritmo da evolução descendente da inflação e a amplitude da revisão em baixa dos resultados das empresas.

O que acontecer numa e noutra vertente vai determinar se vamos ter um ano positivo ou não para o investimento em ativos financeiros (ações, obrigações de dívida pública e de empresas).

Logicamente que os temas que afetaram os ativos financeiros em 2022 continuarão a ser determinantes em 2023: a duração da guerra desencadeada pela Rússia e a situação pandémica na China (regresso mais rápido ou não à normalidade).

Após um ano negativo para as ações (pelo menos até agora), mas também para as obrigações devido à subida rápida e forte da inflação e que motivou os bancos centrais a subirem rapidamente as taxas de juro, a questão que se coloca para 2023 é até onde os P/E (Price Earnings) poderão subir e até onde as yields das obrigações poderão descer?

Em 2022, os índices de ações caíram mais do que a revisão em baixa dos resultados das empresas, o que motivou uma descida significativa dos P/E.

Mas a questão importante é percebermos nos próximos trimestres, qual o real impacto da subida das taxas de juro e dos custos de produção na economia em geral e na performance das empresas (vendas e resultados).

Será que 2023 será um ano em que cash is king? Ter liquidez é sempre sinónimo de refúgio em tempos de quedas das bolsas e de oportunidade para se investir após as mesmas acontecerem.

Os analistas internacionais estimam neste momento que a Fed Funds Rate que está em 4%, poderá chegar a 4,5% no final deste ano e a 4,75% ou 5% em março de 2023, seguindo-se um período de uma eventual estabilidade. Na Europa, a taxa de juro diretora do BCE está em 2%, mas poderá subir até aos 2,5% a 3% nos próximos meses.

Temos visto nas últimas semanas nos EUA em diferentes setores de atividade, anúncios de cortes significativos de postos de trabalho, entre 10% a 15% do número total dos colaboradores das empresas.

Os bancos centrais (Fed e BCE) estão apostados em combater rapidamente a inflação. Mas ao tentarem isso em dose reforçada, poderão fazer com que a recessão seja maior do que os mercados financeiros já antecipam.

Este ano (até 21/11), é um ano bastante negativo para a gestão de ativos financeiros. Alguns analistas consideram que para as ações globais é o pior ano desde 2008 e na vertente de obrigações é o pior ano desde a década de 80.

Preocupa-me a sustentabilidade do fundo de estabilização financeira da segurança social. Provavelmente não fazem o market to market das posições em obrigações de dívida pública, como outros fundos de pensões e de investimento são obrigados a fazer, pois se tivessem de o fazer, este ano seria complicado em termos de rendibilidade, dada a dimensão do fundo e dado o peso da alocação do investimento em obrigações de dívida pública.

E nos ativos reais, nomeadamente na área imobiliária, o que está e poderá acontecer em 2023?

Logicamente que as grandes transações em ativos imobiliários são baseadas em alavancagem. Há um ano, um investidor institucional, com a Euribor negativa e com spreads de risco de crédito baixos, conseguia facilmente ter cenários de investimento muito atrativos em função das yields médias proporcionadas pelos ativos imobiliários em Portugal.

Hoje, com a Euribor a 6 e a 12 meses a caminhar para os 3% e com os spreads de risco de crédito mais elevados, a alocação do investimento tem de ser mais criteriosa.

O custo financeiro para a performance das empresas e para a expetativa dos investimentos vai ser determinante em 2023, como já está a ser. Também o investimento em ativos reais depende da evolução da inflação e das taxas de juro nos próximos meses.