No seu habitual artigo de opinião, Carlos Bastardo aborda os efeitos que a chegada de Donald Trump à Casa Branca pode ter na Europa.
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COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.
No dia 5 de novembro de 2024, Trump ganhou as eleições americanas, contrariando a maioria das sondagens. E ganhou em toda a linha, com o controlo dos vários órgãos de soberania.
As linhas gerais do programa eleitoral de Trump eram a descida dos impostos, tornar os EUA novamente grandes em termos económicos e provavelmente voltar ao protecionismo e expulsar os imigrantes ilegais, mas não fechando a porta à entrada de imigrantes legais, ou seja, controlar as fronteiras e as entradas de pessoas no país.
Nos dias após a eleição de Trump, os mercados subiram, as yields da dívida pública que já estavam a subir nas últimas semanas continuam em níveis elevados, apesar de uma nova descida das taxas de juro da Reserva Federal Americana. A Fed Funds está agora no intervalo 4,5% a 4,75%.
O índice S&P que estava em 4/11 nos 5.712,69 pontos fechou no dia 19/11 nos 5.916,98 pontos, tendo atingido um novo máximo de 6.017,31 pontos.
A yield das obrigações americanas com uma maturidade de 10 anos estava em 4/11 nos 4,309% e fechou no dia 19/11 nos 4,424%, estando a subir desde 13/9 quando estava nos 3,649%. Contudo, em 2024, a yield das obrigações a 10 anos teve como máximo 4,739% em 25/4.
As criptomoedas também subiram. A BTC estava nos 67.486 USD no dia 4/11 e no dia 19/11 fechou perto dos 92.000 USD, a menos de 10% dos 100.000 USD estimados por alguns analistas para este ano. A subida foi impressionante. Em 31/12 estava nos 42.551 USD.
Em termos económicos, o que pode afetar mais uma Europa que está há muito tempo com dificuldades de crescimento e com as duas maiores economias, Alemanha e França, em dificuldades?
Se Trump optar por medidas protecionistas, especialmente visando a China, mas também a União Europeia, todos nós sabemos que a seguir acontecem retaliações, sendo uma situação negativa para o comércio internacional e para o crescimento do PIB mundial.
A União Europeia (UE) sabe disso, pois Trump já foi Presidente dos EUA anteriormente. Penso que as ameaças podem ser respondidas com uma estratégia de crescimento agressiva, no bom sentido.
A UE deve começar a implementar urgentemente medidas no âmbito das linhas de orientação estratégica preconizadas por Mario Draghi no seu recente relatório e mais algumas referidas por vários macroeconomistas nos últimos anos.
Tem de haver um equilíbrio entre crescimento, geração de riqueza e sustentabilidade. Não faz sentido colocar quase todas as cartas no E do ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).
Para além do G, o S do ESG também é fundamental. A criação de postos de trabalho, a melhoria das condições de emprego, a renovação dos quadros empresariais, a formação, a criação de melhores perspetivas de carreira para os europeus e para quem deseja trabalhar na Europa, são condições fundamentais para o progresso da UE.
As metas ambientais definidas, não vão ser cumpridas na sua generalidade, porque houve demasiado fundamentalismo e reduzido pragmatismo. Têm naturalmente de ser revistas, de forma a serem realistas e equilibradas.
Veja-se como está a indústria automóvel europeia (alemã em especial), com fechos de fábricas e milhares de pessoas atiradas para o desemprego.
Outro exemplo, qual a empresa tecnológica europeia que rivaliza com as empresas americanas?
Deste modo, a UE está onde está, por culpa própria. Os resultados estão à vista: tem perdido terreno a vários níveis para os blocos EUA e China nos últimos anos. Não venham culpar o Trump pelas medidas que ele possa tomar. Ele defende o que ele pensa ser o melhor para os EUA. Os políticos europeus também têm que pensar em implementar a melhor estratégia para a UE de forma sustentável no longo prazo.
Qualquer crise apresenta riscos, mas também oportunidades. Os políticos europeus devem ser mais pragmáticos e incisivos na implementação de uma estratégia que vise potenciar o crescimento económico, a riqueza e o bem-estar dos europeus.
Menos palavras e mais ação, é o que os europeus esperam dos políticos que elegeram!