Isabelle Mast acredita que existem empresas de elevada qualidade na indústria financeira e que as podem identificar em benefício dos clientes. No entanto, depende de um processo rigoroso de separar o trigo do joio. Comentário patrocinado pela Morgan Stanley IM.
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TRIBUNA de Isabelle Mast, diretora-executiva, equipa internacional de ações, da Morgan Stanley IM. Comentário patrocinado pela Morgan Stanley IM.
Para muitas pessoas no mercado, ser um investidor de qualidade no setor financeiro pode parecer uma contradição nos termos; trata-se de um setor de valor, poderão argumentar, normalmente barato e frequentemente entediante. Embora isso se aplique a algumas áreas do setor, acreditamos que existem empresas seletas de elevada qualidade na indústria financeira e que podemos identificá-las em benefício dos nossos clientes. No entanto, depende de um processo rigoroso de separar o trigo do joio.
Uma boa forma de começar é questionarmo-nos sobre o motivo pelo qual o setor financeiro pode ser considerado de baixa qualidade. Um aspeto fundamental é a sua dependência de fatores macroeconómicos como as taxas de juro e as perspetivas para os mercados acionistas e de crédito, o que significa que os seus resultados operacionais nem sempre estão nas suas mãos — um banco é um excelente exemplo. Basta vermos a recente subida dos lucros no setor bancário: em muitas ações dos bancos, os lucros foram impulsionados pelas taxas de juro mais elevadas, cuja direção é difícil de prever e impossível de influenciar pelas administrações. Adicionalmente, muitas entidades financeiras são altamente sensíveis aos ciclos económicos, frequentemente devido a fatores macroeconómicos, seja o estado global da economia ou a saúde dos mercados de ativos, que impulsionam os ativos sob gestão. Não é necessário relembrarmos a crise financeira mundial para encontrar exemplos disso mesmo; no início de 2023, o colapso de alguns bancos regionais de pequena a média dimensão dos EUA provocou a maior falência do setor bancário desde 2008-09 perante o aumento das taxas de juro. Isso resulta em modelos de negócio relativamente opacos com inúmeras condicionantes responsáveis pelo preço das ações — macroeconómicas e fundamentais.
A presença de altos retornos sustentáveis provenientes do capital de exploração é uma das características da definição de qualidade da nossa equipa. No entanto, no setor financeiro de uma forma geral, o caráter essencial do balanço em muitos modelos de negócio tende a pesar nos retornos, dificultando os esforços das entidades financeiras para atingir o nosso grau de qualidade. As empresas de qualidade, na aceção que damos ao termo há mais de 20 anos, têm (entre outros) retornos elevados de forma sustentada do capital de exploração sem alavancagem, balanços sólidos e a capacidade de financiar o seu crescimento maioritariamente com o fluxo de caixa existente — coisa que os bancos, por exemplo, não têm ou não conseguem fazer. Um banco típico poderia ter retornos dos ativos, sem recurso ao endividamento, de menos de 1% e isto antes de uma alavancagem de normalmente mais de 10x. Os requisitos relativos aos balanços são, naturalmente, definidos pelos reguladores e as alterações não são fáceis de prever, com uma intervenção regulamentar — e o seu impacto no balanço e nos lucros — frequentemente inesperada. Em resultado, nunca podemos deter bancos nas nossas carteiras de primeira qualidade.
Embora os bancos não cumpram os nossos critérios de elevada qualidade, acreditamos que podemos encontrar empresas seletas de elevada qualidade noutras áreas do setor financeiro que constituem excelentes candidatas para as nossas carteiras. Empresas bem geridas, com ativos intangíveis fortes em setores com um balanço mais leve, como as bolsas, nichos do setor dos seguros e empresas de pagamentos, podem conseguir uma combinação de retornos elevados, um caráter cíclico moderado e receitas recorrentes, características que favorecemos nas empresas de qualidade.
A relativa falta de entidades financeiras adequadas às carteiras não é necessariamente um obstáculo para uma equipa com bons recursos que gere carteiras de alta convicção em que as ponderações dos índices não determinam as decisões de investimento. Além disso, ocorrem frequentemente discrepâncias entre os preços das ações e o valor das franquias subjacentes, o que pode proporcionar boas oportunidades para analistas de ações com uma abordagem ascendente. Há que admitir que exigem esforço e conhecimento especializado para serem descobertas; uma avaliação reduzida pode ser sinónimo de oportunidade ou de dificuldades patrimoniais. Com a solidez da nossa equipa especializada no setor financeiro — que inclui Anton Kryachok e eu, além de Bruno Paulson, Alex Gabriele e Richard Perrott na análise ao setor — temos conseguido identificar investimentos promissores para benefício dos nossos clientes.
Alguns exemplos de entradas relativamente recentes nas nossas carteiras ilustram melhor o nosso processo de seleção de ações nesta indústria do que uma descrição teórica.
Uma corretora de seguros sediada nos EUA
No seio do setor financeiro, a indústria da corretagem de seguros é um campo fértil de prospeção; trata-se de um setor capital-light, ou seja, com menos investimento de capital, muito centrado nas grandes empresas e que oferece boas oportunidades de fusão com corretores mais pequenos do segmento das PME (pequenas e médias empresas). Os corretores ajudam os seus clientes a comprar seguros a um bom preço, ajudam-nos a estruturá-los e aconselham-nos em áreas como a gestão de riscos, requisitos regulamentares e gestão de capital. Consideramos os corretores de seguros como prestadores de serviços profissionais diversificados com boas perspetivas de crescimento de receitas, apoiados por fatores estruturais que impulsionam prémios de seguro mais elevados, como as alterações climáticas, riscos de cibersegurança e um número crescente de decisões judiciais. Selecionámos esta empresa em particular, e não um dos seus pares, por duas razões. Em primeiro lugar, implementou uma plataforma de funcionamento unificada que ajudou a expandir significativamente a sua margem de EBITDA (de menos de 20%, em 2013, a quase 32% em 2022) e a quebrar barreiras entre subdivisões de silo para melhorar a oferta aos clientes. Em segundo lugar, segundo a nossa avaliação, possui uma equipa de gestão forte com um historial de alocação de capital perspicaz a favor dos acionistas. Basicamente, trata-se de uma empresa com pouco capital investido e com rendimentos estruturais elevados, e a aumentar, alavancagem macro pouco significativa e uma equipa de gestão favorável aos acionistas, o que preenche os critérios das nossas carteiras de qualidade na perfeição. Igualmente importante, no momento da compra, a empresa operava significativamente abaixo do seu valor intrínseco.
Duas bolsas líderes
Outro exemplo ilustrativo são duas bolsas, uma estabelecida nos EUA e outra na Europa, em que os altos rendimentos do modesto capital alocado, as receitas recorrentes e a baixa sensibilidade aos ciclos económicos, aliados a uma avaliação atrativa, permitiram-nos construir posições em carteiras globais selecionadas. Os fluxos de receitas diversificados e as elevadas barreiras à entrada, devido a uma combinação de efeitos de rede, marcas e software resiliente, aliadas a uma gestão sólida, ajudaram estes dois nomes a distinguir-se dos seus pares.
Uma empresa de pagamentos dos EUA
As elevadas barreiras à entrada e ativos intangíveis fortes ajudam a proteger as previsões de rentabilidade e crescimento das bolsas, o que contribuiu também em parte para o nosso interesse por uma empresa de pagamentos dos EUA detida em carteiras globais seletas. Este prestador líder de soluções de carteiras digitais possui uma base de utilizadores em constante crescimento e uma aceitação cada vez mais alargada por parte dos comerciantes, o que cria um efeito flywheel positivo em que a sua ampla rede de trabalho e funcionalidade adicional tornam a empresa mais valiosa quer para os consumidores quer para os comerciantes. Os pagamentos não são uma área nova para nós: temos nas nossas carteiras um prestador de serviços de pagamento líder global desde 2010 que figura no Top 10 das nossas carteiras globais.
Embora encontremos a maior proporção de empresas de alta qualidade nos setores dos bens de primeira necessidade, tecnologia da informação e cuidados de saúde, a nossa abordagem de investimento ascendente permite-nos identificar nichos de qualidade noutros setores. O setor financeiro é um bom exemplo e a nossa exposição aos investimentos nesta indústria, enquanto percentagem da carteira global, tem vindo a aumentar ao longo do tempo. A recente atualização da norma de classificação internacional tipo, por indústria, a MSCI Global Industry Classification Standard, que transferiu algumas ações de pagamentos do setor das tecnologias da informação para o setor financeiro no início de 2023, contribuiu certamente para isso. No entanto, e talvez mais pertinente, a amplitude da experiência em investimento da nossa equipa de gestão de carteiras permitiu-nos, nas palavras de Peter Lynch, procurar entre as pedras e encontrar diamantes em bruto para os adicionar às nossas carteiras.
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