Rui Martins, responsável de alocação de ativos na Caixa Gestão de Ativos, estará atento à forma como a Fed poderá efetuar a normalização da sua política monetária sem colocar em risco a expansão económica.
O Esta semana vou estar de olho em... é da autoria de Rui Martins, responsável de alocação de ativos na Caixa Gestão de Ativos.
Num momento em que o conflito militar na Ucrânia está já na sua terceira semana e causou não só a escalada dos preços das matérias-primas, mas também preocupações quanto à evolução da atividade, a Reserva Federal Americana (Fed), na reunião de 15 e 16 de março, enfrenta o dilema de como poderá efetuar a normalização da sua política monetária sem colocar em risco a expansão económica. Com a inflação nos valores mais elevados das últimas décadas, a Fed está pressionada para evidenciar uma estratégia monetária cada vez mais restritiva.
Nesta reunião de política monetária serão atualizadas as estimativas de crescimento, de inflação e de evolução das taxas diretoras (fed funds), sendo esperado o primeiro aumento das taxas desde o final de 2018, marcando assim o início do processo de subida das taxas de juro, e o anúncio de mais detalhes sobre o plano para a redução do balanço. Neste âmbito, o presidente da Fed, Jerome Powell, deixou claras as suas intenções, durante o recente testemunho ao Congresso americano, ao afirmar que espera que seja apropriado aumentar o intervalo das fed funds já na reunião de política monetária de março.
Em destaque estará a forma como a Fed considera que os desenvolvimentos recentes influenciam a evolução dos preços e da atividade, bem como a condução da sua política monetária. Deste modo, caso venha a ser demonstrada uma maior preocupação com a dinâmica da inflação, numa conjuntura em que os impactos na atividade económica dos EUA sejam considerados como relativamente reduzidos, esta autoridade poderá evidenciar uma postura mais restritiva, propondo um processo de normalização da política monetária mais célere.
No final da semana transata, os futuros de fed funds tinham implícitos 6 aumentos de 25p.b. das taxas de referência até ao final do ano. Contudo, perante o possível maior foco no controlo da inflação, a Fed poderá decretar aumentos mais substanciais e incrementar a sua taxa estimada para o longo prazo, que se encontra atualmente nos 2,5%. Perante este cenário, em termos de impactos no mercado, as yields das obrigações do tesouro dos EUA deverão registar uma tendência de subida, sendo esperadas maiores variações nas emissões de maturidades mais baixas, ou seja, um movimento descrito como de bear flattening.