Segundo Vânia Ribeiro, senior portfolio manager da BPI GA, para a próxima reunião do BCE é amplamente esperado um novo corte de 25 pontos base na taxa de depósito, para 3%.
O Esta semana vou estar de olho... é da autoria de Vânia Ribeiro, senior portfolio manager, BPI Gestão de Ativos.
Nesta semana, as atenções dos investidores vão estar centradas na reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) marcada para 12 de dezembro, para a qual é amplamente esperado um novo de corte de 25 pontos base na taxa de depósito, para 3%. Este será o quarto corte consecutivo (junho, setembro e outubro), refletindo sinais persistentes de desaceleração económica e maior confiança no retorno da inflação para o objetivo de 2%.
Desde a última reunião de política monetária, em outubro, as preocupações com o crescimento económico têm se intensificado, levando membros mais dovish do BCE a alertarem para os riscos económicos de manter condições monetárias restritivas por muito tempo. Após a queda dos indicadores avançados de atividade (PMI) de novembro, divulgados pelo S&P Global, o mercado de futuros chegou a descontar uma probabilidade superior a 50% de um corte mais agressivo, de 50 pontos base, pese embora essa probabilidade tenha recuado recentemente para cerca de 10%. A discussão sobre cortes mais agressivos encontra também resistência entre os membros mais conservadores do conselho do BCE, como é o caso de Isabel Schnabel, que privilegia uma abordagem mais gradual. Além disso, as expetáveis revisões em baixa nas projeções de crescimento económico e de inflação para 2024 e 2025 conhecidas nesta reunião deverão reforçar uma abordagem mais cautelosa.
Dados recentes sugerem uma redução nas projeções de crescimento para 2024, de 0.8% para 0.7%, e para 2025, de 1.3% para 1.1%, com a inflação a antecipar para o segundo trimestre de 2025 o atingir da meta de 2%. Assim, a expetativa é de que o comunicado do BCE adote um tom mais dovish, substituindo a linguagem atual sobre a necessidade de manter uma política restritiva pela indicação de uma redução gradual das restrições monetárias, caso o cenário económico se alinhe com as projeções do BCE. Esse movimento abriria caminho para novos cortes em 2025, numa altura em que o mercado de futuros desconta 150 pontos base de cortes de taxas até ao final do próximo ano.
Com a convergência das taxas para a neutralidade, é expetável que esse tema seja novamente questionado nesta reunião. No entanto, devido à incerteza na sua determinação e à divergência de opiniões dentro do BCE espera-se que Lagarde evite declarações explicitas, preferindo enfatizar a necessidade de ajustes graduais e que taxas em 3% ainda são suficientemente restritivas. Adicionalmente, o aumento da incerteza orçamental em França e o alargamento dos spreads da dívida soberana podem trazer à tona a possibilidade de ativação do Transmission Protection Instrument (TPI), contudo Lagarde deverá enfatizar a necessidade de consolidação orçamental no país antes de qualquer intervenção.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, deverá assim manter um discurso prudente e uma postura flexível, condicionando futuras reduções nas taxas de juros à evolução dos indicadores económicos, dadas as múltiplas incertezas globais, como o impacto das tarifas dos EUA e a instabilidade política em França. Além do comunicado oficial, será essencial que os investidores acompanhem atentamente a revisão das projeções económicas, procurando extrair sinais sobre os próximos passos de política monetária e assim fortalecer a confiança dos investidores na região.