Sofia Marques Jesus, gestora da BPI GA, destaca os desenvolvimentos que podem levar a um shut down no governo dos EUA.
O Esta semana vou estar de olho... é da autoria de Sofia Marques Jesus, gestora da BPI Gestão de Ativos.
Na semana passada, a Reserva Federal norte-americana optou por manter as taxas de juro no intervalo entre 5.25% e 5.5%, sinalizando mais uma subida até ao final do ano. Esta decisão foi suportada por dados económicos que evidenciam o abrandamento da inflação e a resiliência da economia americana. Contudo, destacam-se atualmente três eventos que podem impactar negativamente o crescimento económico no 4º trimestre: a greve de milhares de trabalhadores da indústria automóvel, a retoma dos pagamentos dos empréstimos estudantis a partir do início do mês de outubro, e a possível paralisação (shutdown) do governo também a 1 de outubro.
Na história dos EUA, houve apenas três paralisações prolongadas do governo, em 1995, 2013 e 2019. A hipótese de assistirmos brevemente a uma paralisação deriva da posição de um grupo Republicanos ultraconservadores que poderá impedir o funcionamento do governo no próximo ano fiscal, que se inicia no início do próximo mês. O défice orçamental do governo americano é superior a 7% e a componente de serviço da dívida está em máximos. Neste contexto, um grupo de republicanos defende cortes em diversos serviços e a imposição de restrições e maior controlo à imigração, sendo também verificadas divergências no pacote de ajuda militar e humanitária à Ucrânia que também deverão fazer parte das negociações. De acordo com os economistas da Goldman Sachs, é esperado que cada semana de paralisação do governo reduza o crescimento do PIB do 4ª trimestre em 0.15 pontos percentuais.
A combinação dos três eventos tem um impacto negativo no crescimento que pode variar entre 1.3% e 3.1% numa base anualizada, dependendo dos desenvolvimentos. Deste modo, na próxima semana é importante acompanhar a evolução destes temas e, em particular, as negociações para evitar uma paralisação (prolongada) do governo, dado o impacto que estes eventos poderão ter na resiliência do crescimento económico dos EUA, afetando as decisões de política monetária, as eleições de 2024 e a capacidade de ser alcançado um soft landing.