Para Pedro Baldaia, head of equities do Banco Carregosa, este evento iniciará um período fundamental para a avaliação do potencial de crescimento futuro - não só da Apple, mas de toda a cadeia de valor que passou a depender da área de IA.
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O Esta semana vou estar de olho... é da autoria de Pedro Baldaia, head of Equities do Banco Carregosa.
Durante algum tempo, o evento anual de apresentação de novos produtos da Apple foi acompanhado com máxima atenção por parte de analistas tecnológicos e financeiros, em especial nos anos que se seguiram à introdução do primeiro iPhone em 2007. Porém, o entusiasmo caiu progressivamente, à medida que as gerações mais recentes das suas várias linhas de produtos foram trazendo novidades incrementalmente menos significativas. No caso do iPhone, esse declínio em capacidade de inovação tem-se traduzido também em estagnação de número de unidades vendidas – para 2024 a estimativa média aponta para vendas de 224 milhões de unidades, apenas mais 6 milhões que há 6 anos, em 2018. O crescimento de receitas com iPhone tem assim sido suportado quase exclusivamente por subidas de preço médio, justificadas pela introdução de modelos com capacidades mais sofisticadas e pela popularidade do produto junto de um segmento alto com baixa elasticidade ao preço.
A exposição da Apple à inteligência artificial
No entanto, este ano é diferente. Verifica-se um ressurgimento de interesse em relação a este evento anual. A principal razão é a mesma que fez com que a cotação da Apple saísse de um certo marasmo prolongado e valorizasse mais de 25% desde abril: a exposição da Apple à inteligência artificial (IA) – no caso da próxima semana, a expetativa de que este evento sirva para revelar mais detalhes sobre novas potencialidades de IA a serem introduzidas em modelos futuros do iPhone.
A apresentação das capacidades do chamado Apple Intelligence é certamente fundamental para a Apple, para finalmente convencer a sua base de clientes a acelerar o seu ciclo de renovação de equipamentos e desta maneira gerar subidas de estimativas de resultados futuros da empresa. Neste momento, o consenso de mercado já aponta para um crescimento de receitas com iPhone de 8% no ano fiscal que terminará em setembro de 2025, sendo que o iPhone representa mais de metade das vendas totais da Apple. De qualquer maneira, é importante salientar que estas novidades de IA não estarão disponíveis logo de início no novo iPhone 16 e que mesmo durante o próximo ano deverão ser introduzidas de forma gradual. Alguns analistas duvidam até da capacidade tecnológica da Apple de atualmente conseguir surpreender positivamente o consumidor nesta área, se bem que a sua habilidade no marketing permanece intocável.
O risco, neste momento, é subinvestir
Mais importante ainda, o impacto deste evento estende-se muito para além da Apple. Porquê? Porque, na verdade, dará um sinal fundamental ao mercado no que diz respeito ao nível de adoção de IA pelo consumidor global. De facto, encontramo-nos num momento crucial para toda esta área tecnológica emergente. Os principais detentores de data centres – os chamados hyperscalers: Microsoft, Google, Amazon, Meta - bem como toda uma franja alargada de outros players como instituições governamentais, instituições educativas e de investigação ou empresas de inúmeros setores, estão a realizar investimentos gigantescos e acelerados em capacidade de computação. Citando o CEO da Google, “o risco neste momento é subinvestir e não sobre-investir”. Esse volume de investimento tem propulsionado as receitas da cadeia de valor a montante, da qual os nomes mais visíveis são Nvidia, TSMC e ASML, mas que inclui já inúmeras outras empresas cotadas. No entanto, qualquer investimento busca o seu retorno. O principal ponto de interrogação que o mercado atualmente coloca é qual será a magnitude desse retorno, medido tanto em termos de incremento de produtividade para os utilizadores dos respetivos serviços como em consequente monetização desse incremento pelos respetivos fornecedores.
Há poucas empresas que possam funcionar melhor como campo de teste do que a Apple: tem presença global; os seus utilizadores são percebidos como sendo sofisticados, tendo sentido crítico e rapidamente adotando novas tecnologias; a sua base de clientes tem rendimento disponível para gastar desde que o serviço o justifique. A introdução do Apple Intelligence funcionará assim como forma de analisar em que medida o consumidor global está disposto a utilizar os serviços de IA de forma massificada – e a pagar por eles. Desta maneira, este evento iniciará um período fundamental para a avaliação do potencial de crescimento futuro - não só da Apple, mas igualmente de toda a cadeia de valor que passou a depender desta área de IA, e em última análise, em função de todas as expetativas entretanto criadas, até da economia global.