Eduardo Nunes, multi-asset sales trader no BiG, destaca o facto de ao longo desta semana representantes dos EUA e da China irem reunir-se com o intuito de continuar a discutir termos comerciais.
(O contributo desta semana é da autoria de Eduardo Nunes, multi-asset sales trader no BiG)
Face aos mínimos verificados a meados de março, o mercado acionista global tem registado uma expressiva valorização.
Perspetivas de sólida e rápida recuperação económica, particularmente motivadas por massivos estímulos monetários e fiscais assim como por planos cada vez mais detalhados de levantamento do lockdown e reabertura gradual da economia global, têm sido um catalisador chave na maior procura para com ativos de risco. Em paralelo, o aplanamento da curva de casos totais de Covid-19 na Europa e Estados Unidos, notícias de desenvolvimento de tratamentos e vacinas contra o vírus, assim como resultados corporativos particularmente satisfatórios entre a esfera tecnológica norte-americana têm igualmente provado ser catalisadores favoráveis ao rebound do mercado acionista. Desta forma, e num tom de forward looking, o mercado norte-americano regista uma recuperação superior a 30% face aos mínimos atingidos em Março.
Na realidade, contudo, indicadores económicos explicitam o atual impacto amplamente nefasto que o lockdown está a ter à escala global - desde a importante contração económica verificada no 1T2020 na Europa e Estados Unidos a PMIs referentes a diversas geografias em mínimos históricos e a extremas fragilidades no mercado laboral.
É importante notar e monitorizar diversos fatores que poderão voltar a enviesar pela negativa o sentimento para com ativos de risco, e um deles passa pelo desenvolvimento das relações entre EUA e China.
No passado dia 1 de maio, Donald Trump e outros representantes norte-americanos acusaram a China da possibilidade do Covid-19 ter sido originado num laboratório em Wuhan, reiterando igualmente que as práticas de comunicação e tentativa de contenção do vírus nesta geografia não foram apropriadas. Em sequência de tal tom acusatório, o Presidente norte-americano voltou a ameaçar a China com a implementação de novas taxas alfandegárias - um tema muito presente ao longo dos últimos dois anos e que mostrou, continuamente, ter um expressivo impacto no desempenho do mercado acionista global. Este misto de acusação e ameaça originou superiores níveis de volatilidade, receio e indefinição no passado recente. Um escalar de retórica protecionista e tom retaliatório entre ambas geografias poderá ser um relevante risco a considerar.
Hoje, sexta-feira, o mercado reage favoravelmente a notícias que reportam uma conversa telefónica que aconteceu entre representantes de EUA e China, em tom construtivo. Ao longo da próxima semana, representantes de ambas geografias reunir-se-ão no intuito de continuar a discutir termos comerciais. Assim, este parece ser um tema primordial a acompanhar nos próximos dias, e cujo desfecho poderá vir a desfazer o maior equilíbrio entre compradores e vendedores que se tem verificado desde inícios de maio, permitindo que o mercado volte a assumir uma mais clara direcionabilidade.
Nota técnica: O S&P500 não tem conseguido, ao longo do mês de maio, consolidar de forma clara acima da zona técnica e psicologicamente relevante dos 2,890 - 2,900 pontos. Desta forma, o tema destacado supra poderá ser chave na definição de sentimento de curto prazo para o índice acionista.

- Cenário tecnicamente bullish: quebra em alta e capacidade de consolidação acima dos 2,900 pontos
- Cenário tecnicamente bearish: incapacidade de consolidação acima dos 2,900 pontos, e quebra em baixa da linha ascendente explícita a cor-de-laranja