O responsável de Investimentos da Hawkclaw Capital Advisors analisa o atual panorama económico e político, identificando oportunidades tanto no mercado de ações como de obrigações e apontando para as eleições nos EUA como o principal risco deste próximo semestre.
COLABORAÇÃO de Francisco Falcão Castro, responsável de Investimentos da Hawkclaw Capital Advisors.
A primeira metade do ano de 2024 foi marcada por algumas surpresas ao nível macroeconómico, nomeadamente a aceleração da inflação, motivando a subida das taxas de rendimento (yields) e a redução das expetativas de cortes dos juros.
Divergências no crescimento económico
As divergências em termos de crescimento económico foram evidentes, com a economia americana a mostrar a sua resiliência devido à forte dinâmica de consumo interno, a estímulos fiscais e à solidez do mercado de trabalho, enquanto na Europa e Ásia a inflação e o crescimento abrandaram a um ritmo mais relevante. O mercado acionista apresentou uma performance significativamente positiva, impulsionada pelos setores da inteligência artificial, de infraestruturas tecnológicas e digitalização, enquanto o universo obrigacionista foi penalizado devido às surpresas relacionadas com a inflação.
Inflação nos países desenvolvidos e os mercados de ações
Para a segunda metade do ano consideramos que a Europa deverá registar uma inflação estável em baixa e uma ligeira aceleração do crescimento económico, beneficiando do alívio de política monetária, enquanto os EUA deverão verificar uma evolução de preços contida derivada de um abrandamento económico, resultante do enfraquecimento da dinâmica de consumo, do elevado nível dos juros e da queda da poupança para níveis pré-COVID. O comércio internacional deverá, no entanto, acelerar, dado o suporte das medidas de apoio à indústria chinesa e ao início de um ciclo de reconstrução de stocks. Em termos de mercados acionistas, continuamos a favorecer ações americanas e europeias versus emergentes. Em termos setoriais, consideramos a exposição a setores mais cíclicos, nomeadamente setor industrial e consumo discricionário, mantendo a exposição aos principais setores de crescimento (tecnologia), que deverão continuar a beneficiar de um ciclo global de corte dos juros e de um contexto favorável de longo prazo. As principais oportunidades deverão surgir no segmento de empresas de capitalização bolsista pequena e média, que normalmente beneficiam de momentos de aceleração económica.
Mercado de obrigações e alternativos
No plano obrigacionista, continuamos a privilegiar um aumento da duration com uma estratégia barbell e um enfoque em carry, sendo que encontramos conforto em dívida corporativa sénior investment grade, dívida subordinada não financeira e, oportunisticamente, na seleção de algumas emissões high yield (BB/BB+). Ao nível das matérias-primas, destaque para o papel do ouro e outros metais preciosos como elemento de diversificação de carteiras e hedging de eventos adversos.
Quanto a questões cambiais, continuamos a preferir o CHF como moeda de safe-haven e o dólar americano como moeda de rendimento. Em termos de alternativos, continuamos a preferir estratégias como equity long/short e equity hedge para esta metade do ano, sendo que consideramos que instrumentos com exposição ao mercado imobiliário poderão ganhar novamente interesse à medida que o alívio dos custos de financiamento se concretiza.
Eleições nos EUA como principal risco
Os grandes riscos até ao final do ano prendem-se com tensões geopolíticas e comerciais, a evolução do mercado imobiliário comercial e a eleição presidencial americana a 5 de novembro. Este último será o evento-chave da segunda metade do ano, pelo que consideramos prudente alguma redução de risco perto da altura da eleição, assim como o desenho de um plano de ação para os vários cenários. Atualmente, as sondagens apontam para a vitória de Donald Trump com a vitória dos Republicanos no Senado e na Câmara dos Representantes. Tal poderá alterar as perspetivas de investimento que acima referimos, pelo que importa destacar que os setores mais beneficiados serão os da banca, de petrolíferas, defesa, farmacêuticos e de small caps, com grande enfoque de política nos assuntos de imigração, desregulação e economia interna, propiciando um aumento dos gastos públicos e um aumento das yields. No entanto, ainda é cedo para considerar este cenário, até porque o comportamento de Biden no último debate poderá suscitar a sua substituição como candidato dos democratas, o que seria um game changer na eleição. Para já, continuamos positivos, tal como no início do ano, advogando uma alocação balanceada e dinâmica, tirando partido de correções de mercado como fortes pontos de acumulação num bull market bem definido.