Na opinião de Nuno Rocha, managing partner da 2Venture, os investidores institucionais portugueses, como seguradoras e fundos de pensões, estão cada vez mais abertos a incluir ativos de dívida privada nas suas carteiras, atraídos por retornos previsíveis e diversificação.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
COLABORAÇÃO de Nuno Rocha, managing partner da 2Venture.
Nos últimos anos, o mercado financeiro tem assistido a uma transformação significativa na forma como os investidores procuram diversificação e retornos ajustados ao risco. Entre as opções emergentes, os fundos de dívida privada têm se consolidado como uma solução robusta, tanto para investidores que buscam alternativas aos mercados tradicionais, como para empresas que necessitam de financiamento estruturado. Este segmento, ainda em crescimento em Portugal, representa uma oportunidade estratégica para capitalizar em tendências globais e fomentar o desenvolvimento económico.
Os fundos de dívida privada, que financiam empresas ou projects fora do mercado de capitais, têm-se tornado um instrumento atrativo para diversificação de portefólios. Estes fundos investem em ativos de crédito diretamente com empresas ou projetos, oferecendo aos investidores:
- Retornos mais elevados: em comparação com obrigações públicas, devido à menor liquidez e maior risco.
- Baixa correlação com mercados tradicionais: uma característica essencial para mitigar volatilidade.
- Exposição a mercados privados: permitem acesso a oportunidades geralmente reservadas a grandes investidores institucionais.
O apelo crescente dos fundos de dívida privada reflete também a evolução do ambiente económico. Bancos, cada vez mais restringidos por regulamentações como os requisitos de capital de Basileia III, reduziram a concessão de crédito, abrindo espaço para alternativas privadas. Este vazio foi rapidamente preenchido por fundos que atendem à procura de financiamento por parte de pequenas e médias empresas (PME), grandes projetos ou reestruturação de dívida.
Diversificação de portefólios
Em qualquer portfólio bem-sucedido, a diversificação desempenha um papel central na gestão de riscos. Os fundos de dívida privada oferecem:
- Retornos estáveis: instrumentos como dívida sénior e subordinada geram fluxos regulares de caixa, ideais para investidores focados em rendimento.
- Resiliência em cenários de volatilidade: por não estarem diretamente ligados a mercados públicos, os retornos dos fundos de dívida privada são menos impactados por flutuações de curto prazo.
- Exposição setorial e geográfica: estes fundos frequentemente investem em setores variados, como saúde, energia e imobiliário, e em mercados globais, diversificando ainda mais os riscos.
Financiamento estruturado: uma solução adaptada
Além de serem atrativos para investidores, os fundos de dívida privada desempenham um papel crucial no financiamento estruturado. Este tipo de financiamento adapta-se às necessidades específicas das empresas e projetos, oferecendo flexibilidade que os modelos bancários tradicionais não conseguem igualar. Alguns exemplos incluem:
- Dívida mezzanine: uma combinação de dívida e capital próprio, usada para financiar expansões ou aquisições sem diluir os acionistas existentes.
- Financiamento de Infraestruturas: apoio a projetos de longo prazo, como energia renovável ou transportes, com estruturações customizadas para acompanhar fluxos de caixa projetados.
- Financiamento garantido por ativos: empréstimos estruturados com garantias em ativos como imóveis ou equipamentos.
O financiamento estruturado não só permite que empresas acedam ao capital necessário para crescer, mas também proporciona aos investidores um maior controlo sobre os riscos e retornos, uma vez que os contratos podem ser adaptados às condições específicas de cada transação.
Riscos e considerações
Embora atrativos, os fundos de dívida privada e o financiamento estruturado apresentam desafios:
- Risco de crédito: a possibilidade de incumprimento por parte das empresas financiadas exige análises rigorosas.
- Iliquidez: estes investimentos tendem a ser de médio a longo prazo, o que limita a capacidade de resgate rápido.
- Complexidade regulatória: em Portugal, o enquadramento jurídico ainda evolui para acompanhar esta classe de ativos, exigindo atenção redobrada de sociedades gestoras.
Contudo, com uma gestão diligente e especializada, esses riscos podem ser mitigados. Ferramentas como análise preditiva e due diligence robusta são fundamentais para assegurar retornos sustentáveis.
Oportunidades em Portugal
Portugal encontra-se numa posição única para beneficiar do crescimento dos fundos de dívida privada:
- Necessidade de financiamento para PME: empresas em expansão, mas ainda excluídas do mercado de capitais, podem encontrar nos fundos de dívida privada uma solução essencial.
- Projetos de infraestrutura verde: o financiamento estruturado é essencial para projetos alinhados com os objetivos de sustentabilidade e transição energética.
- Apoio ao mercado imobiliário: desde o financiamento de construções habitacionais até grandes projetos comerciais.
Além disso, os investidores institucionais portugueses, como seguradoras e fundos de pensões, estão cada vez mais abertos a incluir ativos de dívida privada nas suas carteiras, atraídos por retornos previsíveis e diversificação.
Os fundos de dívida privada e o financiamento estruturado são mais do que uma tendência; são uma evolução necessária no mercado financeiro global e uma oportunidade estratégica em Portugal. Para os investidores, estes instrumentos oferecem diversificação e retornos atrativos, fundamentais em tempos de elevada volatilidade e incerteza económica. Para as empresas e sociedade gestoras, representam um canal alternativo de financiamento, flexível e alinhado às suas necessidades específicas, especialmente em setores-chave como infraestruturas, energia renovável e imobiliário.
No contexto português, onde as PME enfrentam desafios crescentes para aceder ao crédito tradicional, os fundos de dívida privada assumem um papel essencial no suporte ao crescimento económico sustentável. Ao mesmo tempo, permitem o financiamento de projetos transformadores que fomentam a competitividade e a inovação.
A capacidade de aproveitar estas oportunidades depende da competência das sociedades gestoras em combinar rigor analítico, inovação financeira e gestão estratégica de riscos. Num mundo em que as fronteiras entre os mercados tradicionais e alternativos continuam a esbater-se, os fundos de dívida privada e o financiamento estruturado não são apenas uma resposta às necessidades do presente, mas também um motor para um futuro mais dinâmico, resiliente e sustentável na economia portuguesa.