Gonçalo Câmara Pestana, responsável da equipa de Aconselhamento Financeiro do Banco BPI, apresenta as suas perspetivas para as diferentes classes de ativos e os riscos que monitorizam para o ano que se avizinha.
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COLABORAÇÃO de Gonçalo Câmara Pestana, responsável da equipa de Aconselhamento Financeiro do Banco BPI.
O enquadramento macroeconómico para o ano de 2025 permanece favorável para os ativos de risco. Esperamos um crescimento económico global em linha com o de 2024, com a dicotomia entre EUA e a Zona Euro a permanecer. Para a economia norte-americana, face à robustez do mercado laboral e após a eleição de Donald Trump esperamos um crescimento económico sólido. Já para a Zona Euro, as perspetivas continuam a ser pouco animadoras, com um crescimento económico que poderá ser ligeiramente melhor que o do presente ano, mas ainda fraco. Para a China, acreditamos que a determinação das autoridades do país em trazer o crescimento do PIB para os 5% deverá implicar o anúncio no próximo ano de medidas de estímulo fiscal adicionais, o que poderá impulsionar o crescimento da região.
Em termos de política monetária, deveremos assistir no ano de 2025 à continuação do movimento de flexibilização monetária iniciado em 2024, com os investidores a descontarem 50 pontos de cortes de taxas nos EUA e 125 pontos de cortes na Zona Euro. Se, em relação aos EUA, nos parece que as expectativas estão relativamente bem alinhadas com as perspetivas de evolução macro e com a incerteza que a presidência de Trump possa trazer à dinâmica da inflação, do lado da Zona Euro, parece-nos que poderá existir demasiado otimismo no número de cortes, tendo presente que apesar da inflação caminhar para o target do BCE, tem mostrado alguma resistência na parte final deste processo, o que poderá significar que a instituição anuncie menos cortes que os estimados pelo mercado.
Face a este enquadramento como nos posicionamos para 2025?
Na classe acionista, continuamos a privilegiar a exposição aos EUA, cuja dinâmica da economia e a singularidade de algumas das suas empresas nos fazem querer estar expostos. No entanto, desde o início do processo de descida de taxas e mais recentemente com a eleição de Donald Trump, temos optado por um rebalanceamento da exposição a esta geografia, através da introdução de small caps e do aumento da exposição a outros setores, reduzindo o peso relativo do setor tecnológico nas carteiras.
Na Zona Euro, apesar das perspetivas não serem as mais animadoras mantemos a exposição. Neste momento, existe um pessimismo generalizado do mercado em relação às ações europeias sendo que, na nossa opinião, existem alguns fatores positivos e potenciais catalisadores que em 2025 podem contribuir para um melhor desempenho desta geografia. A dinâmica de descida das taxas de juro, o euro mais fraco que beneficia a componente exportadora e as valuations relativas que estão muito atrativas face aos EUA são pontos a favor, mas poderão ocorrer outros fatores que, a concretizarem-se, terão impacto nos ativos de risco da região. As eleições na Alemanha em fevereiro em que os principais partidos são favoráveis a uma reforma da Constituição que flexibilize a regra do travão da dívida, a fim de aumentar o investimento em infraestruturas e impulsionar a economia; um potencial acordo na guerra da Rússia com a Ucrânia, ou ainda um compromisso de maior investimento em defesa poderão ajudar a surpreender as expectativas de crescimento em 2025.
Na China, e apesar dos receios com a introdução de mais tarifas pela administração Trump, que deverão ter um impacto negativo no crescimento económico do país, parece-nos que a determinação das autoridades chinesas e a sua capacidade de implementarem novas medidas para estimular a economia, deverão pesar positivamente, o que aliado ao ceticismo dos investidores e às valuations relativas também atrativas poderão contribuir para um bom desempenho dos mercados da região.
Do lado obrigacionista, assistimos no presente ano a uma queda das taxas nos prazos mais curtos e a uma subida nos prazos mais longos passando a ter uma yield curve positivamente inclinada. Para 2025, mantemos uma visão positiva para a classe, dado o suporte dos bancos centrais, embora o elevado número de cortes descontados pelo mercado (na Europa) e o nível estreito dos spreads de crédito limitem o seu upside. Continuamos a defender um equilíbrio entre dívida soberana e corporate, com a primeira a beneficiar do estatuto de ativo de refúgio, em momentos de maior volatilidade, e a segunda a acrescentar valor, dada a nossa expetativa de resiliência dos spreads de crédito.
Em termos cambiais, o forte dinamismo da economia norte-americana, reforçado pela eleição de Donald Trump são fatores que justificam a fortaleza do dólar. O facto de a divisa norte-americana funcionar como ativo de refúgio em momentos de maior volatilidade, justifica a nossa exposição a esta moeda e o seu papel fundamental na diversificação dos portefólios.
Em termos de commodities, o presente ano foi extremamente positivo para o desempenho do ouro que beneficiou não só do aumento do risco geopolítico como de uma política monetária global expansionista. Para o próximo ano, a sua evolução vai continuar a depender muito da situação geopolítica e da atuação dos bancos centrais. Tendo em conta as atuais expetativas de cortes de taxas poderá ser difícil esperar um ano tão positivo para esta matéria-prima como em 2024, mas continuamos a defender o seu papel na diversificação das carteiras.
Riscos para os mercados em 2025
Os riscos mais visíveis para os investidores são uma possível deterioração da componente geopolítica, a incerteza das consequências económicas da eleição de Donald Trump, os conflitos militares na Europa e no Médio Oriente e a incerteza política em França e na Alemanha. No entanto, existem outros riscos não tão visíveis, mas que podem vir a ter impacto no mercado. Um deles é a inflação, que continua a ter dificuldade em baixar para o target de 2% dos bancos centrais e que caso evolua desfavoravelmente poderá impedir as autoridades monetárias de descerem as taxas como o mercado desconta. Outro potencial risco são as expetativas de crescimento dos resultados das empresas que poderão ser demasiado otimistas (superiores a 10%) o que, tendo em conta as valuations relativamente exigentes em alguns setores (nomeadamente nos EUA), podem trazer alguma volatilidade caso não se verifiquem.
Temas que estão a monitorizar
Na construção das carteiras defendemos uma alocação diversificada, com exposição às diversas classes de ativos e onde o investimento temático tem também o seu papel. Podem ser temas com uma perspetiva temporal de médio prazo ou outros como tendências de longo prazo. No médio prazo, temos defendido uma maior uniformização das performances em termos setoriais e de capitalização no mercado norte-americano. Continuamos por isso a alocar uma parte da exposição acionista dos EUA a small caps bem como a veículos onde o peso do setor tecnológico é menor. Em termos de tendências de longo prazo, continuamos a apostar na inovação tecnológica, na saúde e na transição energética.