Inflação, será desta?

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Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo, general manager, Imofundos SGOIC, SA.

Um dos fatores que temos de ter em consideração em matéria de inflação é a evolução do preço das commodities em geral e do petróleo, cobre, trigo e milho em particular.

Numa altura em que todos desejamos o controlo pandémico para que a economia mundial possa recuperar e sobretudo na Europa, devemos começar a estar atentos à evolução da inflação nos próximos meses.

Nos últimos anos e particularmente desde o início da crise financeira (2008), que a inflação não tem sido uma variável determinante nas análises económicas e dos mercados financeiros.

O baixo crescimento económico, o aumento da produtividade, a racionalização e modernização tecnológica dos processos industriais de produção e sobretudo os preços baixos das principais commodities não trouxeram pressões inflacionistas.

Houve até alturas nestes últimos 12 anos que estivemos mais preocupados com a deflação do que com a inflação, especialmente na Europa.

No entanto, é necessário ter atenção a evolução recente dos preços de algumas das principais commodities.

Na energia, o petróleo no último ano subiu cerca de 20% no caso do WTI e 15% no caso do Brent.

Nos metais, é de salientar a evolução do preço do cobre nos últimos 12 meses, cerca de 63%.

Nas commodities agrícolas, o trigo subiu nos últimos 12 meses cerca de 26% e o milho evoluiu no mesmo período cerca de 49%.

Esta tendência caso continue irá certamente influenciar a inflação, que dentro de certos limites, é bem vinda.

Caso a inflação se aproxime dos valores objetivo dos bancos centrais americano e europeu, numa primeira fase, poderá levar à reversão dos programas de estímulos monetários e numa segunda fase à subida das taxas de juro.

Este cenário acontecerá primeiro nos EUA, uma vez que em 2020 a economia caiu bem menos que na Europa e porque as expetativas de crescimento do PIB para 2021 são mais otimistas nos EUA do que na Europa.

No dia 17/2, foram anunciados os indicadores de inflação ao nível do consumo (Consumer Price Index) e da produção (Producer Price Index) de janeiro de 2021 nos EUA.

Relativamente ao CPI, os preços subiram em janeiro relativamente ao mês anterior 0,6% quando a estimativa é que descessem 0,2%. Em termos anuais, o CPI em janeiro situou-se em 1%, contra 0,7% em dezembro de 2020 e acima da previsão de 0,9%.

Relativamente ao PPI, os preços na produção subiram 1,7% em janeiro face a dezembro e bastante acima do esperado (0,9%). Em termos anuais, o PPI estava em janeiro cerca de 1,3% acima do que estava em janeiro de 2020, contra 0,3% em dezembro e contra 0,4% estimados.

Claro que o valor de um mês não chega para mudar uma tendência, mas alerta-nos para estarmos com atenção aos valores dos próximos meses.