Invest Gestão de Ativos: “As quedas registadas nos últimos dois meses vieram relembrar os investidores dos desafios que se perspetivam em 2019”

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Nuno Coimbra

(Perspetivas para 2019, traçadas por Paulo Monteiro da Invest Gestão de Activos)

A longevidade do ciclo económico, as guerras comerciais ou o Brexit são riscos que continuarão no radar dos investidores em 2019. Agora que os bancos centrais começam a normalizar as políticas monetárias e que a maré da liquidez começa a baixar, a volatilidade regressou aos mercados financeiros, sublinhando a importância da diversificação e da gestão de risco. Assim, a volatilidade irá manter-se elevada e os retornos serão inferiores aos registados nos últimos anos, mas positivos.

Cenário macroeconómico e taxas de juro

Nos Estados-Unidos, o PIB deverá crescer 2,6% em 2019. A FED deverá concluir a subida das taxas de juro, num processo que se espera continuar de forma gradual, mantendo, contudo, as taxas de juro reais em níveis historicamente muito baixos. Para 2019 a taxa de inflação espera-se que permaneça relativamente estável nos 2,4%-2,5%.

Previs_es_PIB_2019

Na Zona Euro o crescimento do consumo parece relativamente bem suportado pela recuperação do mercado de trabalho e do investimento. Além disso, o investimento continua a beneficiar de condições financeiras favoráveis. Com efeito, o Banco Central Europeu sinalizou a possibilidade de iniciar a normalização das taxas de juro no final de 2019, assim a evolução da economia o justifique.

A economia mundial espera-se que abrande ligeiramente em 2019, mas permanece robusta, com um crescimento em linha com a média de longo prazo. Apesar dos riscos que persistem, as condições monetárias continuam globalmente benignas para o crescimento. A evolução da taxa de inflação será crucial para definir a ação dos bancos centrais. Nas economias avançadas, a inflação espera-se que se mantenha em torno dos 2% e, nas economias emergentes, espera-se que aumente 0,2 pp, para os 5,2%, em 2019.

Uma das principais ameaças ao cenário macro para 2019 é a escalada da actual guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Apesar dos objetivos declarados pelos Estados Unidos serem diminuir o défice comercial com a China e parar com a transferência forçada de tecnologia, em causa está, sobretudo, a manutenção da liderança estratégica global, que sentem ameaçada.

Alocação de Activos

As quedas registadas nos últimos três meses vieram relembrar os investidores dos desafios que se perspectivam em 2019. Contudo, a economia mundial, apesar da desaceleração esperada, continua a crescer, assim como os resultados das empresas pelo que, na nossa opinião, os mercados de Acções e Dívida Privada iniciam o ano em níveis mais interessantes, após as recentes quedas.

Entre os mercados accionistas, mantemos a exposição na Europa e aumentamos os mercados emergentes que sofreram pesadas perdas, penalizados pela perspectiva de subida das taxas de juro nos Estados Unidos e consequente apreciação do Dólar, em paralelo com as guerras comerciais e receios de abrandamento da economia chinesa. Contudo, estes mercados transaccionam, em média com rácios Price-to-Earnings de 11x os resultados esperados para 2019, o que compara com 14x dos mercados desenvolvidos, em ambos os casos considerandos os índices da MSCI. Por outro lado, existem outros factores mais estruturais que suportam o caso dos mercados emergentes. Em primeiro lugar, a demografia, considerando que os países emergentes representam cerca de 80% da população mundial. Em segundo lugar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias emergentes são esperadas representar 60% da economia mundial, em 2020. Por último, apesar da importância relativa em termos demográficos e de crescimento económico, a capitalização bolsista destes mercados representa apenas 12% do índice MSCI World.

Sectorialmente, na Europa, a subida das yields italianas, o impacto do Brexit, as taxas de juro negativas na Zona Euro, entre outros, são fatores de risco, mas na realidade os bancos europeus, em média, estão a ganhar dinheiro e apresentam balanços e rácios de capital reforçados, após as reestruturações dos últimos anos. Nos Estados Unidos, a correção recente do sector tecnológico pode criar oportunidade de entrar ou reforçar posições em empresas líderes mundiais e com potencial de crescimento. Em termos globais, sectores como o farmacêutico, telecomunicações e o da segurança, incluindo tecnológica, parecem igualmente interessantes.

A turbulência dos mercados acionistas traduziu-se no aumento generalizado dos spreads de crédito. Deste modo, o ano começa com os spreads de crédito em níveis mais interessantes. Num cenário de resultados das empresas robustos, taxas de juro e taxas de default ainda baixas, mantemos alguma exposição a esta classe de ativos, em particular ao High Yield.

Nos mercados cambiais, num cenário de inflação contida nos Estados Unidos, o fim do ciclo de subida das taxas de juro pela FED, poderá significar uma correção do USD e a recuperação, entre outras, do EUR e das moedas emergentes. Na Zona Euro, na ausência de crises existencialistas, o mercado poderá começar a descontar o início da normalização das taxas de juro pelo BCE e a redução futura do diferencial de taxas de juro face ao USD. Por sua vez, as moedas emergentes, após as fortes quedas registadas em 2018, serão as principais beneficiárias da possível correcção do USD.