João Zorro, responsável pelos Departamentos de Ações e Obrigações, GNB Gestão de Ativos, comenta o que espera de 2025, um ano que considera que será desafiante.
COLABORAÇÃO de João Zorro, responsável pelos Departamentos de Ações e Obrigações, GNB Gestão de Ativos.
O ano de 2025 promete ser de análise desafiante, devido aos impactos previstos da entrada em cena do novo Presidente dos EUA, Donald Trump. As iniciativas e medidas já anunciadas — com destaque para os habituais temas de imigração e comércio internacional — deverão trazer consequências difíceis de medir neste momento. A economia norte-americana ainda não sentiu os efeitos da subida das taxas de juro diretoras, e a inflação, apesar de moderada, continua a ser um desafio para atingir consistentemente o objetivo de 2%.
Qual será o impacto conjunto destas medidas no crescimento económico? Quais os reflexos na inflação, défices e comércio internacional? Muito dependerá da forma como estas medidas forem introduzidas e de quantas serão efetivamente implementadas durante 2025. Caso Donald Trump opte por uma abordagem mais restritiva à atividade económica — através de tarifas e restrições na imigração —, o impacto inicial tende a ser negativo para a economia, podendo gerar uma combinação desfavorável para os mercados: desaceleração económica acompanhada por aumento da inflação.
Os impactos positivos decorrentes da redução de impostos e desregulação provavelmente surgiriam mais tarde, possivelmente em 2026. Assim, 2025 apresenta incertezas relevantes, especialmente considerando as elevadas valorizações de muitos mercados de referência, como o S&P500. É também importante considerar os atuais níveis das taxas de juro de longo prazo, que têm desempenhado um papel de "vigilantes" face à atual situação. Por exemplo, reduções das taxas diretoras da FED num contexto de crescimento económico são vistas como sendo inflacionistas. Não seria surpreendente se a FED decidisse manter as taxas de juro elevadas por mais tempo. Como reagiria Donald Trump a uma política monetária restritiva? E, mais ainda, se os investidores de dívida exigissem um term premia mais elevado, o que poderia levar as taxas de juros do Treasury de longo prazo acima dos 5%?
Não faltam ingredientes para configurar um cenário cauteloso. Adoto, por agora, o habitual otimismo moderado. A economia norte-americana permanece suportada por um consumo interno robusto, com baixos níveis de desemprego e crescimento salarial forte, o que impulsiona a economia. Além disso, destaca-se o papel de liderança do setor tecnológico a nível global.
Na Europa, não se esperam grandes surpresas; o crescimento económico será moderado e amplamente dependente do desempenho da Alemanha. Somam-se os desafios enfrentados pela França e os impactos das tarifas norte-americanas, que apresentam desafios significativos. O BCE deverá ter mais margem para baixar as taxas de juro, já que a inflação está mais alinhada com o objetivo de 2%.
Noutros mercados, o Japão apresenta-se como uma opção interessante para diversificação, com sinais positivos de atividade económica. A política monetária continua expansionista, apesar da trajetória de aumento das taxas pelo BoJ. Contudo, há preocupações com a valorização da moeda, que tem sido negativa para o mercado acionista local. Por outro lado, na China, os problemas estruturais permanecem significativos, e sem uma política fiscal mais expressiva, continuaremos com uma postura cautelosa em relação a este mercado.
Na prática, a alocação para 2025 continuará a favorecer os mercados acionistas norte-americanos, com foco em setores que possam beneficiar das medidas de Donald Trump e do dinamismo interno da economia doméstica. No segmento de obrigações, manteremos a preferência pela dívida corporativa, especialmente de curto/médio prazo. A dívida pública ficará em segundo plano, aguardando pelas primeiras medidas da nova Administração norte-americana.