Luís Sancho, gestor de carteiras da BBVA AM, revela as suas perspetivas para o segundo semestre de 2021.
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TRIBUNA de Luís Sancho, gestor de carteiras da BBVA AM.
Ao contrário do que sucedeu em 2020, as perspetivas vaticinadas para 2021 encontraram suporte para uma linha de continuidade e apraz-nos constatar que a evolução do processo de vacinação está a ser, realmente, o catalisador do processo de reabertura de economia. Governos e Bancos Centrais também mantiveram a sua linha de atuação, cientes que a recuperação do efeito devastador da pandemia, nomeadamente, no mercado laboral é a condição essencial para garantir a sustentabilidade do crescimento económico. Politicamente um maior alinhamento dos EUA com os seus aliados tradicionais está a restaurar o seu papel de liderança no mundo democrático e a permitir à Europa a recuperação de alguma notoriedade perdida, em particular, para ter uma voz ativa nos novos retos que se avizinham, onde assenta a dinâmica ESG.
Ainda que boa parte desta conjuntura favorável já se tenha materializado em preço nos ativos de maior risco acreditamos que o resto do ano ainda pode beneficiar da reabertura gradual da economia.
A economia norte-americana que poderá crescer cerca de 7% em 2021 e que, atempadamente, colocou no terreno os estímulos necessários para manter o padrão de vida dos americanos, especialmente, junto das famílias de menor rendimento, dependerá da disposição das famílias em gastar as poupanças, entretanto acumuladas para materializar a previsão de uma fortíssima recuperação. Ainda assim, quer a implementação do programa de infraestruturas, quer os planos de ajuda ao emprego e às famílias, que serão objeto de duras negociações com o Partido Republicano, deverão contribuir com o impulso fiscal necessário para manter os ritmos de crescimento elevados em 2021 e 2022.
Aparentemente o segundo semestre do ano será particularmente risonho para a Europa, que começa a tirar proveito do andamento do processo de vacinação, com repercussões na forte recuperação do setor industrial e, mais recentemente, do setor dos serviços. Com os fundos do plano de recuperação a chegarem aos diferentes países é expectável que o investimento público ganhe algum protagonismo, com os países do sul da Europa a poderem tirar alguma vantagem da aceitação de uma certa mutalização da dívida a nível europeu. Acresce o excelente trabalho do Banco Central Europeu em evitar a fragmentação financeira mantendo condições de financiamento favoráveis para todos os países da Zona Euro.
A China foi o primeiro grande bloco a tirar proveito da reabertura económica ao conseguir, rapidamente, diminuir os efeitos adversos da pandemia e a recuperar a tendência de crescimento do período pré-pandemia, com o desempenho do mercado acionista chinês em 2020 a refletir isso mesmo. Na mesma linha, o suporte fiscal e monetário também não foi tão exuberante como o observado no mundo ocidental o que parece indicar uma certa preocupação das autoridades chinesas em promover um crescimento mais equilibrado focado no crescimento da classe média e também na estabilidade do setor financeiro com algum controlo sobre o nível de crédito à economia.
Embora a recente trajetória da inflação seja vista como um fenómeno de caráter transitório, a verdade é que a mesma irá condicionar a evolução dos mercados financeiros e atuação dos Bancos Centrais.
Deste modo, acreditamos que os yields da dívida soberana dos países desenvolvidos irão encontrar um novo equilíbrio em valores mais altos, quer para refletir taxas de crescimento nominais mais elevadas, quer também, em especial nos EUA, para absorver maiores necessidades de financiamento. Curiosamente, yields mais altos conjugados com o estreitamento dos spreads de crédito irá tornar esta classe de ativos relativamente atrativa em termos de diversificação. Na Europa, a nova realidade de uma certa mutualização de dívida levará a que os prémios de risco da periferia não se alarguem muito face à Alemanha no movimento esperado de subida dos yields.
O crédito, sobretudo, no segmento com notação de investimento já beneficiou de um estreitamento de spreads significativo e aos níveis atuais não conseguirá compensar as subidas esperadas das taxas de juro de longo prazo. Ainda é uma alternativa a liquidez, mas o valor a extrair será residual.
O mercado acionista poderá ter um desempenho interessante, ainda que nesta fase seja preferível identificar as companhias e/ou setores que podem tirar partido da subida da inflação, sobretudo aqueles que mais facilmente conseguirão repercutir o aumento de preços no consumidor final. Nesse sentido, utilities e real estate poderão beneficiar deste entorno bem como uma franja alargada do setor de consumo estável. Naturalmente, um entorno de crescimento económico e de subida das taxas de juro de longo prazo acabará por ser bastante benigno para o setor financeiro. Este também irá tirar beneficiar do facto de ter provisionado mais do que o necessário para fazer face aos incumprimentos previstos pelo efeito da pandemia e de ser um setor que se tem reestruturado de forma considerável funcionando hoje com estruturas bastante mais ágeis.
Salvo o recrudescimento inesperado dalguma variante do vírus da pandemia de Covid-19 eu diria que os principais riscos para os mercados financeiros residem numa má comunicação por parte dos Bancos Centrais no processo de remoção de estímulos monetários, ou seja, um novo taper-tantrum.