Mário Carvalho Fernandes, CIO, e Tiago Gaspar, responsável pela Análise e Seleção de Fundos, do Banco Carregosa, apresentam as suas convicções para 2025, destacando que a economia norte-americana terá capacidades para ser a locomotiva do resto do mundo.
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COLABORAÇÃO de Mário Carvalho Fernandes, CIO, e Tiago Gaspar, responsável pela Análise e Seleção de Fundos, do Banco Carregosa.
Numa conjuntura plena de fontes de incerteza é curioso que as principais variáveis macroeconómicas globais reúnam alguma unanimidade e estabilidade. O crescimento económico global deverá ser 3.1% em 2025 e 2026, depois de ter atingido cerca de 3.1% em 2024. Adicionalmente, a inflação deverá convergir para níveis mais próximos dos definidos como objetivo dos bancos centrais ao longo dos próximos meses. A estabilidade da economia global é um fator positivo a considerar.
No entanto, a média global encobre alguma disparidade observada ao nível regional. A economia na China e nos EUA continuam a crescer a ritmos superiores aos previstos na Europa e no Japão. A desglobalização tenderá a prolongar e acentuar essa divergência. A estabilidade do crescimento da economia norte-americana será crucial para manter o sentimento positivo. Esta é a única das grandes economias com capacidade de ser a locomotiva do resto do mundo, mas as suas políticas devem causar cada vez externalidades positivas menores para o exterior.
As economias mais dependentes dos mercados externos deverão continuar a enfrentar maiores desafios em 2025, agravados pelo tecido empresarial assente no sector industrial, impactado pelas alterações estruturais da indústria automóvel, do menor dinamismo da construção e urbanização na China.
As economias emergentes dependentes da exportação de matérias-primas industriais e energéticas continuam dependentes de um reavivar da atividade construtiva de infraestruturas em larga escala, mas existem poucos sinais que isso possa ocorrer nos próximos meses. Mesmo que as autoridades chinesas anunciem medidas de estímulo da sua economia, estas deverão ser mais orientadas para o fomento da confiança das famílias e do consumo do que na promoção de uma nova vaga de investimento em atividades intensivas em capital, metais e energia.
Classes de ativos
Em termos relativos, o prémio de risco implícito nos mercados acionistas volta a estar bastante comprimido, neste final do ano de 2024. Por essa métrica, a classe de obrigações surge com uma avaliação mais interessante numa perspetiva do binómio risco retorno e seria a classe eleita para um prazo mais longo. O earnings yield do S&P500, calculado já tendo em conta o cenário favorável em que os lucros crescem 15% em 2025, cifra-se apenas nos 4,4%. Esta rentabilidade é semelhante à rentabilidade esperada de uma obrigação do tesouro norte-americano, que também se situa entre os 4 e os 4,5%, com riscos muito distintos.
No entanto, no início do próximo ano, poderemos assistir a um prolongamento desta fase positiva para os mercados acionistas. Se é verdade que várias empresas se encontram avaliadas para cenários de perfeição, as empresas de menor capitalização bolsista ainda apresentam níveis de avaliação com algum potencial. Adicionalmente, este segmento de mercado poderá beneficiar de uma economia americana dinâmica, protecionista, em situação de pleno emprego e tendencialmente menores custos de financiamento. Por esses motivos, e tendo em conta que o desafio colocado é identificar uma classe para enfrentar o início do próximo ano, as empresas de menor capitalização bolsista nos EUA podem ser uma classe arrojada para quem acredita no prolongamento deste ambiente de mercado por mais algum tempo e a sua dispersão por empresas que ainda não tiraram partido das valorizações mais recentes.
Riscos a monitorizar
Uma grande parte do movimento de valorização dos mercados acionistas nos últimos meses de 2024 resultou da expetativa de uma capacidade da economia norte americana ligar dois ciclos de expansão económica sem a habitual recessão a entremear essas duas fases do ciclo. Um ciclo de expansão anormalmente longo será uma ajuda para os balanços dos agentes económicos e suportará os níveis de avaliação prevalentes no mercado. Contudo, algum sinal de paragem mais abrupta da economia norte americana, por motivos endógenos ou exógenos, deitaria por terra esse importante pressuposto e consequentemente os níveis de avaliação a que transacionam muitas das maiores empresas.
O risco de inflação encontra-se menos latente, mas merece alguma vigilância. Será muito importante para a credibilidade dos bancos centrais e para a garantia que as expetativas de inflação se mantenham ancoradas, que as políticas monetárias se mantenham focadas no cumprimento da inflação de 2% e que a inflação mostre que este é o seu novo nível estrutural.
A gestão do nível da dívida pública dos governos europeus e norte-americanos pode assumir-se como uma potencial fonte de volatilidade para os mercados financeiros em 2025, em particular nos EUA, onde a postura do banco central deverá ser mais rígida do que na zona euro.
Oportunidades interessantes
Para as várias classes de ativos vemos oportunidades interessantes: nas obrigações preferimos soberanos da Zona Euro com longa maturidade (PIMCO GIS Euro Long Average Duration); no mercado acionista há particular interesse em ações americanas de pequena capitalização bolsista (New Capital, Fisher e Janus Henderson têm opções interessantes). Vemos também com apelo o investimento em empresas de elevado dividendo (BNY Mellon Global Equity Income) e nos fundos mistos continuamos a ter preferência pelo Flossbach von Storch Multiple Opportunities. Por fim, nos alternativos e nos perfis que o permitem, temos aumentado gradualmente exposição a mercados privados (equity e debt).
Temas de investimento a ter na mira
Sendo o Banco Carregosa especialista em Wealth Management, o nosso interesse em novas arenas com vista a diversificar, tem-se focado nos mercados privados (nas diversas classes de ativos), mas também em alguns nichos nos mercados públicos. Por exemplo, temos acompanhado com crescente interesse o setor segurador, as Catastrophe Bonds (CAT Bonds) e alguns hedge funds na área de crédito.