Mário Carvalho Fernandes, CIO do Banco Carregosa, apresenta as suas perspetivas para a segunda metade deste ano, recomenda alguns fundos e identifica o interesse crescente nos mercados privados.
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COLABORAÇÃO de Mário Carvalho Fernandes, CIO do Banco Carregosa.
A expetativa inerente à mediana das estimativas para o crescimento das principais economias aponta para um crescimento global próximo de 3%, tanto em 2024 como em 2025. Esse ritmo de crescimento decorre da conjugação de dinâmicas distintas nos principais blocos económicos.
Os EUA tiveram uma economia muito robusta no passado recente que, de forma surpreendente, se mostrou quase imune ao movimento rápido e amplo de subida das taxas de juro iniciado em 2022. Os indicadores mais recentes têm demonstrado alguns sinais de abrandamento que devem acentuar-se nos próximos meses. Este abrandamento da atividade económica ocorre num contexto de desinflação que permite uma reação expansionista da política monetária e que poderá mitigar os impactos do menor ritmo de crescimento da economia, ao contribuir para relançamento da economia.
Europa e Ásia
A Europa e a China são economias mais abertas e dependentes do comércio externo e têm revelado maiores dificuldades estruturais na reorientação dos seus modelos de crescimento económico. Contudo, o abrandamento económico tem sido mais moderado do que o antecipado e tem dado sinais de alguma recuperação ao longo dos últimos meses. O suporte das políticas monetárias e fiscais na China têm conseguido evitar um cenário mais negativo e oferecer tempo para a resolução dos problemas de endividamento excessivo de alguns setores da economia, como o da construção e dos governos locais. Na Europa, a recente redução das pressões inflacionistas permitiu uma inversão da política monetária, que gradualmente deverá suportar uma recuperação do sentimento económico entre famílias e empresas.
No Japão, as autoridades receberam o reaparecimento da inflação com algum alívio, depois de mais de 30 anos a procurar que esta descolasse de valores nulos ou negativos. Este desenvolvimento, apesar de estruturalmente positivo, tem afetado o sentimento dos consumidores no curto prazo. Por outro lado, a política monetária persistentemente acomodatícia, que procura ancorar definitivamente a inflação em terreno positivo, tem penalizado a moeda japonesa, o que tem contribuído para a persistência da inflação e para dinamizar o sector exportados japonês, nomeadamente do setor dos serviços, através do turismo.
Entre as principais economias emergentes destaca-se pela positiva a Índia, que continua a beneficiar de um posicionamento geopolítico relativamente neutral face aos 2 ou 3 grandes blocos globais. A capacidade para atrair investimento estrangeiro tradicionalmente mais orientado para a China tem suportado uma dinâmica de crescimento robusta.
Concentração na bolsa
Quando os principais índices acionistas globais são denominados por um conjunto muito seleto de empresas, é importante perceber que as suas dinâmicas serão mais correlacionadas com a situação micro de cada uma dessas empresas do que com a macroeconomia. Essa situação ainda é mais verdade quando essas empresas estão expostas a um ciclo de investimento que deverá ocorrer de forma tão acelerada quanto possível, numa corrida em que ninguém quer ficar para trás, pelo que terá alguma independência da direção do ciclo económico. Nesta corrida desenfreada pela linha da frente da inteligência artificial, nem todos os investimentos serão rentáveis e bem-sucedidos, pelo que haverá oportunidades com perfis de risco retorno bastante distintos e para todos os gostos ou perfis dos investidores.
Este conjunto seleto de empresas que dominam os índices bolsistas assumem-se como candidatos a vencedores, tanto num cenário de economia com crescimento robusto, como numa economia mais arrefecida. Num cenário, apesar de taxas de juro elevadas durante mais tempo, o investimento deverá ser mais forte, e com isso, aumentar as vendas destas empresas, enquanto no cenário de abrandamento económico as vendas deverão ser apenas marginalmente impactadas, mas a descida de taxas de juro poderá justificar múltiplos P/E mais elevados e, por essa via, suportar os seus valores em bolsa. Estas empresas, líderes nos seus mercados, têm pricing power suficiente para repassar aos seus clientes eventuais aumentos de custos gerado por uma eventual segunda vaga de inflação, que parece cada vez mais afastada. O principal risco para estas empresas será um cenário de estagflação, cuja probabilidade de ocorrência se tem desvanecido de forma material ao longo dos últimos meses.
As restantes empresas cotadas deverão manter-se mais correlacionadas com o ciclo económico, afetadas pelo menor crescimento e pela necessidade de maiores investimentos, mas ajudadas por juros mais baixos. Esta expetativa de uma política monetária menos restritiva pode ser um catalisador relevante para suportar empresas com balanços mais alavancados que dependam de juros mais baixos para sobreviverem, podendo desencadear um junk rally, cenário que tipicamente prejudica o desempenho relativo dos gestores que tipicamente se concentram em negócios mais seguros.
Em termos relativos, o bond yield continua historicamente mais atrativo do que os earnings yield, com o Equity Risk Premium bastante deprimido, pelo que, numa lógica de risco retorno, a classe obrigacionista apresenta maior valor relativo e deverá representar uma parte substancial dos patrimónios. A expetável continuação do processo de descida de taxas de juro deverá dar um impulso positivo à classe ao longo do 2.º semestre.
Na componente de alternativos, o ouro deverá continuar a beneficiar do aumento da procura por parte de particulares e bancos centrais no oriente e, simultaneamente, do menor custo de oportunidade associado à sua detenção, que é representado por taxas de juro mais baixas.
Eleições nos EUA e outros riscos a ter em conta
No 2.º semestre, o risco geopolítico deverá assumir um papel crescente de importância com as eleições presidenciais dos EUA no dia 5 de novembro. Os investidores têm ignorado em grande medida as notícias sobre este ato eleitoral, mas o aproximar da data decisiva deverá aumentar a sensibilidade do mercado ao fluxo noticioso. Enquanto o risco político das eleições antecipadas em França afetou os mercados financeiros na Europa, os mercados nos EUA foram praticamente imunes. Contudo, as eleições nos EUA devem afetar os mercados financeiros dos dois lados do atlântico.
Outros riscos latentes que estamos a monitorizar são: o excesso de endividamento dos governos, a crise no real estate comercial nos EUA e a possibilidade de abrandamento económico menos suave do que o esperado. No entanto, temos constado que os investidores estão mais sensíveis às oportunidades do que aos riscos, o que, em si, começa a ser revelador de um certo grau de otimismo que pode ser, em si, um risco a monitorizar.
Fundos recomendados para o segundo semestre
Face às expetativas que temos para os desenvolvimentos macroeconómicos, as nossas atuais preferências incidem no fundo Schroders Euro Credit Conviction para a classe obrigacionista por se focar em crédito mas de qualidade investment grade, no fundo BlackRock Global Unconstrained Equity para a classe acionista pela sua exposição a empresas de elevada qualidade que têm beneficiado de fatores idiossincráticos (incluindo exposição a setores-chave dos desenvolvimentos tecnológicos) e no fundo DWS Concept Kaldemorgen para a categoria de misto pela sua notável resiliência e sabedoria na alocação multiativos. Na categoria dos alternativos, mantemos a preferência por equity long/short com o fundo Marshall Wace TOPS pelo facto de vislumbramos uma crescente divergência de desempenho no mercado acionista.
Interesse crescente nos mercados privados
Uma área onde notamos um crescente interesse é na esfera de mercados privados, tanto em equity como em debt. Nesse sentido, e porque vemos utilidade nestes ativos num contexto de wealth management, temos realizado diligências com diversas sociedades gestoras para que possamos conhecer melhor as estratégias existentes e, consequentemente, incrementar a nossa oferta.