Mercados accionistas europeus: “O Lobo finalmente desceu à planície…”

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Vítor Duarte

A essência do investimento em activos de risco não pode estar refém do impaciente curto prazo, que muitas vezes, simplesmente não ocorre.

Superar a volatilidade não é sempre saber contorná-la, é também lidar com ela. Para quem quer alcançar retornos num ambiente de taxas de juro nulas, é bom que tenha consciência que o percurso é longo e que se prepare para o “mar alto”, porque o “passeio” da descida das taxas de juro chegou ao fim da linha.

Os desafios em 2015 sucedem-se, sendo fundamental que os investidores façam as leituras correctas para o médio e longo prazo e não se deixem embrulhar com os artigos escritos em papel de jornal amassado pela volatilidade de curto prazo, onde um facto não gera, por si só, uma verdade e pode prestar um grande favor à mentira.

A espiral da dívida grega levanta sérias questões sobre a psicose da mentira repetida, sendo cada vez mais evidente o pleonasmo do ”beco sem saída” e já não vale a pena insistir que esta é sustentável ao abrigo de qualquer memorando que a Troika possa defender.

Não deixa de ser curioso que seja precisamente um alemão, Hans-Werner Sinn, presidente do Ifo, que recentemente assumiu publicamente uma posição pragmática sobre este tema, onde perante o anacronismo da classe política europeia, procurou colocar o debate da dívida numa perspectiva internacional, defendendo na prática que o perpetuar desta mentira só vai agravar o problema no futuro. A questão não se cinge a um gesto de puro altruísmo de Hans-Werner Sinn, em que o drama social na Grécia carece de uma solução estruturada que passa por um perdão de dívida e uma saída temporária do euro, para que o país consiga restabelecer a competitividade.

O que se infere do racionalismo alemão, é que uma Grécia no futuro sem o FMI, significa que vai acabar por ser a Alemanha a acarretar com grande parte deste problema insolúvel. Não deixa de ser também curioso que no dia seguinte a estas declarações, os deputados da coligação de Angela Merkel tenham aberto a porta a uma renegociação do termo de pagamento da actual dívida grega no pós-eleições.

A relevância das declarações de Sinn é que, pela primeira vez desde a crise do Euro, a Alemanha despe-se de preconceitos e a discussão sobe de patamar. É ultrapassado por completo o estigma do panorama político grego e finalmente quebra-se o enguiço da mentira repetida, pois essa guerra Alexis Tsipris, do Syrisa, já ganhou independentemente do seu partido perder a batalha das eleições.

Cabe agora aos investidores entender que, ao contrário das eleições de junho de 2012, onde o risco da Grécia era o tudo ou nada para a Europa, neste momento este risco é assimétrico, uma vez que já não há forma de evitar a partilha dos passivos.

Os mercados financeiros europeus vão acabar por percepcionar a seu tempo que, para além do evento mediático ruidoso que vão ser as eleições gregas, se estão a dar passos importantes de mudança na Europa.

Mas, para aqueles que não conseguirem entender o que efectivamente mudou, vão poder agarrar-se às justificações de um insípido Quantitative Easing do Banco Central Europeu, que agora se vai poder esconder por detrás dos balanços dos bancos centrais de cada um dos Estados Membros, sem que contudo, se afira correctamente o sentido de oportunidade do mesmo…

Afinal, os dados da inflação de dezembro na Europa registaram uma queda homóloga de 0,2%, em vez de uma queda estimada de 0,1%. Mas não custava nada explicar que a razão óbvia desta deflação foi a queda do preço do petróleo. Para quem esteve atento, terá reparado que a inflação core, que excluí os efeitos dos preços de energia e dos bens alimentares, saiu acima do estimado e subindo 0,8%, em termos homólogos em dezembro…

Mas independentemente dos juízos de valor, agora o importante a reter é que na Europa vamos ter medidas para todos os gostos e para todas as sensibilidades.

Entre o sentido da oportunidade de uma provável reestruturação da dívida grega, que abre espaço para uma maior integração económica e política na Europa e um discutível Quantitative Easing, que abre espaço para um maior risk taking em activos europeus, os investidores têm razões de sobra para suportar a incómoda volatilidade dos mercados accionistas Europeus no curto prazo.