A COVID-19 já se refletiu nos resultados da banca do 2.º trimestre

Carlos_Bastardo
Vitor Duarte

O segundo trimestre de 2020 já evidenciou os efeitos da crise económica, com impacto negativo nos resultados líquidos dos bancos nacionais e na necessidade de estes aumentarem significativamente o nível de provisionamento.

As moratórias de crédito e os financiamentos aprovados no âmbito do COVID dominaram a atividade bancária no segundo trimestre de 2020.

Analisando os principais indicadores, comecemos pelos resultados líquidos. O Millennium bcp obteve um lucro líquido consolidado nos primeiros 6 meses de 2020 de 76 milhões de euros, menos 55,3% que no semestre homólogo de 2019. O BPI obteve um lucro consolidado de 42,6 milhões de euros, menos 68% que no 1º semestre de 2019. A CGD teve um lucro consolidado de 249 milhões de euros, menos 41% que em idêntico período de 2019. O Novo Banco agravou os prejuízos consolidados no 1º semestre de 2020 para 555,3 milhões de euros (prejuízos de 400,1 milhões de euros no mesmo período de 2019).

A evolução dos resultados líquidos teve diretamente a ver com o aumento das provisões que os bancos tiveram de efetuar no 2º trimestre do ano. É uma política prudente de antecipação a problemas futuros derivados da crise atual e da evolução da situação económica e financeira das famílias e das empresas nos próximos tempos.

O custo do risco também aumentou entre semestres homólogos: no Millenium BCP situava-se em 0,85% em junho de 2020; na CGD estava em 0,31%; no BPI encontrava-se em 0,32% e no Novo Banco estava em 2,11% (1,11% ex Covid).

Apesar da menor performance de resultados, de uma forma geral as carteiras de crédito e os recursos de clientes aumentaram no 1º semestre. Contudo, o rácio de transformação continua relativamente baixo (confortável), por exemplo, 85% no Millennium BCP e 89% no Novo Banco.

Os bancos terminaram o 1.º semestre com uma boa situação de liquidez, ou seja, o valor dos ativos disponíveis para obterem financiamento junto do BCE eram elevados.

A margem financeira subiu ligeiramente em todos os principais bancos.

O rácio cost to income em termos consolidados que compara os custos operacionais com o produto bancário era em 30 de junho de 2020 de 49% no Millennium BCP (média nacional de 55% e média europeia de 68%), 59,6% no BPI, 44% na CGD e de 72,6% no Novo Banco. Neste indicador, um valor abaixo de 50% é considerado uma muito boa referência.

Quanto à qualidade da carteira de crédito, houve no 1º semestre uma melhoria face ao semestre homólogo do ano anterior. De entre os maiores bancos que apresentaram contas semestrais, o Millennium BCP tinha o indicador de NPL mais baixo (1,5%) enquanto que o Novo Banco apresentou o valor mais alto apesar de ter melhorado face ao semestre homólogo (10,2%).

Os principais bancos apresentaram no final do 1º semestre bons níveis de solidez financeira: indicador de CET1 a variar entre 12,0% (Novo Banco) e 16,6% (CGD).

Adivinhava-se o reflexo das dificuldades económicas nas contas dos bancos no 2º trimestre, dada a quase paragem da economia em abril e maio. Estas dificuldades serão maiores ou menores nos próximos tempos, dependendo da evolução pandémica, da evolução do número de insolvências de empresas, da evolução do desemprego e da evolução económica e financeira das empresas e das famílias em geral.

De todas as formas, os bancos aqui referidos apresentavam no final do 1º semestre uma situação que lhes permite enfrentar com alguma tranquilidade as dificuldades atuais da economia. Claro que os bancos com melhores indicadores serão aqueles que apresentam maiores reservas para enfrentar e ultrapassar os problemas futuros.