O novo programa de liquidez do BCE à banca europeia

Carlos_Bastardo
Vitor Duarte

O BCE anunciou e já está a preparar um novo programa de liquidez à banca europeia, denominado TLTRO III. Entre setembro de 2019 e março de 2021, as 7 operações trimestrais previstas com uma maturidade de 2 anos permitirão à banca europeia um grande volume de liquidez, em condições favoráveis para a concessão de crédito até março de 2023, 2 anos após a data do último leilão deste programa.

A banca nacional, atendendo aos dados do Banco de Portugal relativos ao crédito concedido e ao seu nível atual de liquidez, não deverão pelo menos nos primeiros leilões de dinheiro, ter um grande interesse.

Apesar da natureza positiva da decisão do BCE e reconhecida pela generalidade dos agentes do mercado financeiro, o provável pouco interesse da banca nacional terá certamente a ver com a fraca procura de crédito por parte das empresas portuguesas.

Em fevereiro de 2019, o novo crédito concedido às empresas foi de 2.259 milhões de euros, menos 225 milhões de euros face a janeiro e muito longe dos valores concedidos no período antes da crise financeira. O valor de stock de crédito em fevereiro estava nos 68.878 milhões de euros.

A evolução do crédito concedido às empresas e às famílias está dependente dos critérios de disponibilização do dinheiro e estes, nomeadamente os referentes ao crédito às famílias, têm sido mais apertados pelo Banco de Portugal (crédito ao consumo e à habitação) e ainda bem!

Com as perspetivas de redução do crescimento económico na zona euro em 2019 anunciadas pelo FMI, OCDE, Comissão Europeia entre outros organismos, a atividade creditícia dos bancos europeus também se irá ressentir.

No caso português, infelizmente, não abundam projetos de investimento em quantidade, dimensão e qualidade que possibilitem uma maior concessão de crédito dentro de padrões de risco aceitáveis.

Os bancos nacionais têm atualmente uma boa situação de liquidez, uma vez que após o resgate do país em 2011, foram obrigados a desalavancar e a baixar significativamente o rácio crédito / depósitos. Contudo, para que os bancos concedam mais crédito é necessário que haja procura por parte das empresas e esta não tem sido muito dinâmica.

Este país necessita de projetos de investimento credíveis, isto é, equilibrados em termos de risco / retorno e em termos do mix de financiamento (capitais próprios versus dívida financeira), de forma a cativarem o apoio por parte dos bancos nacionais.

A variável investimento é fundamental para que a economia continue a crescer nos próximos anos, com reflexos positivos ao nível da criação de emprego e do fomento das exportações. O investimento tem crescido bastante aquém do desejável (público e privado).

Mesmo com um enquadramento macroeconómico internacional muito favorável nos últimos anos, a economia portuguesa não consegue parar o aumento do endividamento. No final de fevereiro deste ano e segundos os dados mais recentes do Banco de Portugal, o endividamento total era de 723 mil milhões de euros, cabendo 322,4 mil milhões de euros ao setor do Estado e 400,6 mil milhões de euros ao setor privado. Este valor representou mais 1,7 mil milhões de euros do que em janeiro.

Portanto, por muito que nos queiram fazer querer que tudo está bem, a verdade é que a economia não está a crescer de modo a baixar o endividamento. As previsões de crescimento do PIB inscritas no Programa de Estabilidade recentemente apresentado são otimistas, tendo em atenção as várias estimativas de organismos independentes nacionais e internacionais.