O peso das moratórias de crédito é significativo em Portugal

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

Na sequência do meu anterior artigo, onde apresentei uma análise à evolução das contas dos bancos em 2020 (até 30/09), venho falar hoje do peso das moratórias de crédito nos bancos nacionais.

A situação em Portugal revela que o valor das moratórias em termos relativos face ao valor total do crédito é dos mais elevados na Europa. Segundo dados da Autoridade Bancária Europeia de junho de 2020, a situação em Portugal revela que o valor das moratórias em termos relativos face ao valor total do crédito é dos mais elevados na Europa.

Até ao final de junho de 2020, a valor das moratórias de crédito era de 43,8 mil milhões de euros em Portugal, ou seja, 22,2% do valor total do crédito. Este valor elevado é apenas ultrapassado por Chipre (48,1%).

Comparativamente com outros países da União Europeia, temos a Alemanha com 1,6% à mesma data, a Holanda com 3,9%, a França com 7,1%, a Espanha com 9,6%, a Irlanda com 12,6%, a Itália com 13,1% e a Grécia com 14,3%.

Portanto, Portugal destaca-se neste indicador, o que não é uma situação positiva.

Logicamente que se espera que quando terminarem as moratórias, o ambiente económico seja mais positivo. Contudo, não deixa de ser preocupante o valor elevado da dependência das empresas nacionais ao crédito bancário.

Nós já sabemos que as empresas nacionais por norma pouco capitalizadas, recorrem significativa à banca para se financiarem. Esta característica do financiamento das empresas é estrutural há longos anos.

O mercado de capitais como agente de captação de fundos para o financiamento das empresas praticamente não existe. Seria bastante positivo uma maior adesão de empresas nacionais ao mercado de capitais, mas na minha já longa experiência de mercados, já vi muitas intenções em dinamizar o mercado de capitais, mas que infelizmente não tiveram grande sucesso (algumas nem passaram do papel).

Com o atraso do pacote de ajuda europeu, pelas habituais dificuldades de agradar a todos os países, a retoma económica europeia atrasa-se com naturais reflexos negativos no investimento, no emprego e na geração de riqueza.

O orçamento de Estado também ficou muito aquém do desejável no que respeita à ajudas às empresas. Aliás, em termos relativos face ao PIB, a ajuda às empresas em Portugal é menos de metade do que em Espanha, já para não falar da comparação com a Alemanha.

Resta-nos desejar que o nível de confiança nos próximos meses aumente, fruto dos resultados positivos da vacinação e do controlo da pandemia, para que quando chegar a data do fim das moratórias e as empresas e os particulares com dívida bancária tenham que começar a pagar as suas responsabilidades, o nível de crédito incobrável da banca não aumente.

Desejos de Festas Felizes e de um Ano de 2021 que faça esquecer (pelo menos em parte) aquele que está a terminar.