Oportunidades de investimento para as mudanças nos nossos hábitos alimentares

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michaeljosh, Flickr, Creative Commons

TRIBUNA de Aneta Wynimko, gestora do FF Global Demographics Fund, da Fidelity International. Comentário patrocinado pela Fidelity Internacional.

Uma análise profunda sobre as mudanças nos hábitos alimentares mostra como as tendências demográficas afetam economias inteiras, o que fornece uma potente ferramenta no momento de tomar decisões rentáveis de investimento.

Consumo de proteínas

A procura mundial está a aumentar, impulsionada pelas novas classes médias na Ásia. Na China, a procura por carne de porco disparou tanto que metade dos porcos de todo o mundo já são criados neste país, e alimentam-se fundamentalmente de soja importada dos EUA.

Agora que esta soja se tornou numa vítima da guerra comercial entre os EUA e a China, o maior exportador de soja do mundo, o Brasil, vai ser beneficiado, tal como as empresas que negociam matérias primas, que sofreram anos de excesso de oferta mundial de matérias primas agrícolas e menos oportunidades de negociação.

Chocolate

O chocolate é outra matéria prima que disfruta de perspetivas favoráveis, graças à queda dos preços do cacau e ao aumento da procura asiática. O sector chocolateiro da China será expandido dos atuais 2.800 milhões de dólares para os 3.900 milhões em 20211. Um trabalhador de classe média da China tem de trabalhar 19 minutos para poder comprar uma tablete de chocolate, o que faz com que este produto seja um capricho dos rendimentos mais altos2.

A Ásia é um mercado que apresenta taxas de penetração mais baixas do que os países desenvolvidos. Por exemplo, o consumo per capita de chocolate na Suíça situa-se nos 8,8 kg por ano, muito acima dos 100 gramas que um cidadão chinês consome em média ou dos 200 gramas de um cidadão indiano3.

Um dos principais obstáculos para fechar a brecha é a dificuldade de vender chocolate de luxo que não combina com os climas asiáticos mais quentes. Muitos fabricantes estão a implementar as vendas de chocolate “resistente ao calor”, que pode suportar temperaturas até aos 38 graus centigrados sem prejudicar o sabor4.

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Obesidade

Obviamente, comer mais chocolate e proteínas tem repercussões profundas na saúde e bem-estar. As mudanças na dieta das economias emergente fizeram disparar as “maleitas ocidentais” como a obesidade, que é uma das principais causas de outras doenças relacionadas com o estilo de vida como as doenças cardiovasculares e a diabetes tipo 2.

Até agora não se conseguiu um fármaco contra a obesidade, mas este ano será apresentada à FDA (regulador farmacêutico dos EUA) uma pastilha contra a obesidade que poderá ser lançada em 2020 e tornar-se num primeiro avanço na luta contra a epidemia da obesidade no mundo5.

Diabetes

Prevê-se que o número de doentes com diabetes no mundo passe de 425 milhões em 2017 para 626 milhões em 2045. Atualmente, existem cerca de 187 milhões de diabéticos na Índia e China, e prevê-se que este número aumente até superar os 250 milhões em 20456.

Os avanços tecnológicos farão com que a diabetes seja mais fácil de tratar. O mais interessante é o monitor de glicemia (CGM), que atualmente só utilizam 3% dos doentes de diabetes tipo 2. Os novos dispositivos controlados pelo telemóvel, que tornam dispensável que os utilizadores se piquem nos dedos entre 5 a 7 vezes por dia, poderão arrancar nos mercados emergentes como a China e a Índia, que são dois dos maiores mercados de smarphones do mundo.

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Aparelhos de diálise domésticos

Se não for controlada, a diabetes provoca problemas renais que podem reduzir a esperança de vida e obrigam a realizar até três visitas semanais ao hospital para se submeter à diálise. Mas o futuro não é de todo negro. No momento em que as falhas renais afetam uma população ativa cada vez mais jovem, os aparelhos de diálise doméstico transformarão a forma de tratar da doença oferecendo uma opção barata e segura que dá aos pacientes a liberdade de se submeter à diálise quando quiserem e adaptar o procedimento à sua vida profissional e familiar.

Conclusão

Um estudo das mudanças demográficas e dos hábitos alimentares pode revelar algumas tendências surpreendentes no consumo, como a necessidade de desenvolver chocolate resistente ao calor, assim como novas oportunidades para investir em tecnologias para oferecer uma radiografia pouco frequente e valiosa do mundo de amanhã que pode ser empregue proveitosamente quando se procuram oportunidades de investimento atrativas.

1 Barry Callebaut, enero de 2018
2 Euromonitor, octubre de 2017
3 Statista, 2017
4 Financial Times, diciembre de 2015
5 Reuters, febrero de 2018
6 International Diabetes Federation, Diabetes Atlas, 2017, Bernstein Analysis