Otimizar a construção de carteiras em mercados privados: sobrecompromisso e aceleradores

Daniel Gomez. Klarphos
Daniel Gomez. Créditos: cedida (Klarphos)

COLABORAÇÃO de Daniel Gómez, gestor de carteiras sénior na Klarphos.

A utilização de estratégias de sobrecompromisso e aceleradores pode melhorar a eficiência do desembolso de capital e, portanto, do ROCC (Return on Committed Capital) e do MOCC (Multiple on Committed Capital) dos investimentos em mercados privados. Ambos os rácios referem-se à rentabilidade e ao múltiplo sobre o capital comprometido, em vez do desembolsado. Este é o ponto central do relatório ROCC & MOCC II: Optimising Capital Deployment in Private Markets.

É importante ter em conta estas duas métricas para avaliar o impacto dos compromissos não investidos por parte dos gestores. A maioria dos fundos fechados requer um máximo de 80-95% do capital, o que engloba um custo de oportunidade, visto que investir 80% é diferente de investir 100% do comprometido. Também é essencial considerar a rapidez do desembolso e manter uma exposição constante ao longo do tempo para se construir uma carteira eficiente.

Há três técnicas no momento de construir carteiras de mercados privados para se atingirem estes objetivos. A primeira é a utilização do sobrecompromisso ( overcommitment), a segunda é a utilização de aceleradores e a terceira é a combinação das duas primeiras: sobrecompromisso e aceleradores utilizados de forma conjunta.

Sobrecompromisso

Os dados mostram que a maioria dos gestores raramente mobiliza mais de 90% do capital comprometido. Por isso, um gestor pode aproveitar e comprometer mais capital do que pretende investir (sobrecomprometer).

No gráfico, comparamos uma estratégia que sobrecompromete e consegue uma exposição de 100% (azul-claro no gráfico) com uma estratégia que não sobrecompromete (rosa-claro no gráfico) e não consegue uma exposição de 100%. A exposição de 100% é conseguida com o PD EDP (Private Debt Efficient Deployment Portfolio) constituído por desembolsos em 11 fundos de dívida privada com um período de investimento de três anos, outro período de três anos para recuperar capital e um sobrecompromisso máximo de 115,8%.

Curiosamente, o PD EDP conseguiu um MOCC de 1,08, comparável ao de um fundo primário fechado, apesar de a sua yield de 7,7% ser quase 50% mais baixa do que a do fundo primário fechado. A conclusão da nossa análise é que um fundo primário fechado tem de assumir um risco significativamente maior para conseguir a mesma eficiência no desembolso do capital que uma carteira que sobrecompromete.

Utilização de aceleradores

A utilização de aceleradores, como fundos evergreen, secundários ou late primaries, permite um desembolso mais rápido do capital e, consequentemente, melhora as métricas de uma carteira quanto ao ROCC e ao MOCC. Estes aceleradores põem o capital a trabalhar de forma imediata ou, pelo menos, mais rapidamente do que um fundo primário fechado.

Sobrecompromisso e aceleradores em conjunto

Para analisar esta terceira opção, fizemos uma simulação de um investimento em dívida privada com um sobrecompromisso a nível de carteira de 115,5%, investindo num total de 33 fundos - inclusive um fundo evergreen (18,2% do total da carteira), com um horizonte de investimento de dez anos. Chamámos a esta carteira PD EEDP (Private Debt Enhanced Efficient Deployment Portfolio). O que fizemos foi utilizar a estratégia de sobrecompromisso a nível de carteira em conjunto com um acelerador, o fundo evergreen.

O resultado foi um desembolso real de capital próximo de 100% investido e uma melhoria do ROCC e no MOCC. Quando um investidor aplica estas duas técnicas em conjunto, o resultado é uma melhoria na rentabilidade ajustada ao risco. Os investidores que utilizam técnicas tradicionais, como otimizar uma carteira com base em TVPI/TIR, conseguem um MOCC parecido, mas requerem mais retorno sobre o capital investido (e, presumivelmente, mais risco) para obter este resultado. Ou seja, uma yield entre 30% e 50% mais elevada em comparação com o investidor que utiliza técnicas para um desembolso eficiente do capital.

A conclusão do estudo é que, com a utilização destas estratégias, podemos manter uma implementação adequada da alocação estratégica de ativos e conseguimos otimizar o desembolso do capital:

  1. Sobrecompromissos num intervalo de 105-130% de OCR (overcommitment ratio) para conseguir um desembolso total ou quase total da carteira (100% ou próximo);
  2. Utilização de aceleradores, como fundos evergreen, secundários ou late primaries, para aumentar a velocidade do desembolso e conseguir uma exposição constante à classe de ativos.

O ideal é utilizar ambas as estratégias em conjunto, visto que, com elas, conseguimos um desembolso mais eficiente e uma ótima exposição.