Perspetivas e oportunidades do novo consumo

Aneta Wynimko_Fidelity
Aneta Wynimko. Créditos: Cedida (Fidelity International)

TRIBUNA de Aneta Wynimko, gestora de carteiras da Fidelity International. Comentário patrocinado pela Fidelity International.

As elevadas pressões inflacionistas e subidas de taxas de juro exerceram uma pressão considerável sobre os consumidores durante os últimos anos. No entanto, parece que estão finalmente a abrandar, ainda que o panorama a longo prazo seja mais complexo à medida que o envelhecimento da população ativa reduz a oferta de mão de obra.

Entretanto, a IA (Inteligência Artificial) e a automatização irão permitir produzir os bens e serviços de forma mais eficiente, o que significa que haverá uma disputa entre as pressões inflacionistas e deflacionistas. No entanto, independentemente da força que se imponha, as empresas com marcas fortes terão um bom desempenho, um bom poder de fixação de preços e uma procura consistente nos seus respetivos nichos.

As oportunidades no consumo chinês

Neste contexto, os consumidores chineses formam, possivelmente, o maior coletivo nacional deste tipo do mundo e, portanto, um motor fundamental para os padrões internacionais do consumo. A reabertura da economia e a recuperação da procura no país foram mais fracas do que o previsto devido, em parte, ao facto de o consumidor ter recebido poucos apoios durante a Covid-19.

A China está também a lidar com a fragilidade das suas exportações, as tendências deflacionistas e os problemas do seu mercado imobiliário, que estão a afetar a confiança dos consumidores. As viagens são uma exceção e temos visto que este setor resistiu. Temos em carteira várias ações do setor das viagens da China, como a agência online trip.com e a cadeia hoteleira H World. 

Ainda que a elevada taxa de desemprego jovem tenha sido um obstáculo para a procura de luxo, acreditamos que, assim que o mercado de trabalho recupere, este tipo de custo aspiracional recuperar-se-á também. Neste fundo, temos exposição a várias empresas europeias de produtos de luxo como a LVMH, Richemont e Hermès, cujas vendas deverão aumentar em função da recuperação do consumo chinês.

Interesse no mundo pós Covid-19

Estão a surgir novas tendências depois de os consumidores de todo o mundo terem deixado para trás a Covid e voltado ao escritório. Agora, as pessoas voltam a vestir-se bem e, ainda que não estejamos a assistir a um ressurgimento da roupa formal do período anterior à pandemia, cada vez se procuram mais as marcas premium smart casual, o que beneficia as posições do fundo como a Zegna, Ralph Lauren e Salvatore Ferragamo.

O vírus também colocou em destaque o bem-estar, que continua a ser uma prioridade depois do fim dos confinamentos. Um estudo recente da McKinsey revelou que os consumidores dos EUA procuram cada vez mais produtos e serviços para esta necessidade. Desta forma, cada vez mais empresas de cuidados de saúde assumem as suas marcas e entram no mercado com produtos de alta qualidade, dando assim mais importância ao consumidor na sua atividade.

Isto está a ocorrer tanto nas empresas de dispositivos de saúde como nas farmacêuticas. Um exemplo de empresa que vende produtos de saúde é a EssilorLuxottica, uma ação em carteira e a produtora e distribuidora líder de produtos para cuidados da saúde visual.

Outras empresas de saúde focadas no consumidor que temos em carteira são as farmacêuticas Elli Lily e Novo Nordisk, pioneiras no desenvolvimento de fármacos contra a obesidade e a diabetes.

A pandemia também provocou uma mudança na procura do comércio eletrónico e dos negócios tecnológicos. No conjunto, as comparativas das empresas estão a melhorar e a utilização da sua capacidade está a aumentar. Algumas das ações desta área que tenho em carteira são a plataforma de comércio eletrónico Amazon, a fornecedora principal de software e hardware para a IA, a Nvidia, a gigante tecnológica Microsoft e a líder mundial em CRM (Customer Relationship Management), a Salesforce, que vão beneficiar da tendência estrutural da digitalização.

A procura por marcas de alta qualidade

Neste cenário é interessante procurar empresas com uma carteira de produtos atrativa e marcas potentes. Invisto com uma abordagem bottom-up, pelo que não me foco no ambiente do consumo, mas na forma como as empresas e as equipas de gestão dirigem a conjuntura atual e como exploram os seus respetivos nichos, seja roupa desportiva, produtos de luxo, veículos elétricos, entre outros.

Foco-me especialmente nos negócios de alta qualidade com equipas gestoras competentes de execução comprovada e que tenham demonstrado flexibilidade e agilidade ao longo dos últimos anos. As boas marcas são as empresas que têm uma margem bruta elevada, poder de fixação de preços e a capacidade de crescer ao longo do ciclo. Também devem reinvestir em crescimento e inovação, seja através de custos fixos, da I&D ou do marketing. Atualmente, dá-se mais ênfase a se as empresas contam com políticas e procedimentos adequados em matéria de abastecimento e de cadeia de fornecimento, se tratam bem os seus trabalhadores e como mitigam o seu impacto no ambiente. Os consumidores não são ingénuos. Estas empresas são de facto sustentáveis e suficientemente duradouras para sobreviver e fazer o bem num ambiente macroeconómico mais incerto.