Que empresas podem beneficiar da descarbonização da Europa?

Emma Stevenson. Créditos: Cedida (Schroders)

TRIBUNA Emma Stevenson, equities correspondent, Schroders. Comentário patrocinado pela Schroders.

No mês passado, a Comissão Europeia publicou as suas propostas Fit for 55. Nelas estabelecem como a União Europeia deve alcançar o seu objetivo juridicamente vinculativo de reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030, 55% abaixo dos níveis de 1990. Este objetivo será um marco importante no caminho para atingir zero emissões líquidas até 2050.  

As propostas do Fit for 55 são muito variadas e serão objeto de muito debate. De facto, espera-se que as negociações durem cerca de dois anos. A UE já fez alguns progressos, dado que os dados do ano passado mostram uma redução de 24% das emissões de gases com efeito de estufa em comparação com 1990. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer.  Neste caso, as propostas implicariam uma reformulação da economia europeia. Em seguida, explicamos quais os setores e empresas europeus que mais beneficiariam com estas propostas:

Provedores vs fabricantes no setor eólico e solar

Tendo em conta o objetivo de aumentar a quota de energias renováveis para 40%, podíamos presumir que empresas como os fabricantes de turbinas eólicas seriam favorecidas. No entanto, podem ter dificuldades. Isto deve-se a uma dupla pressão sobre a rentabilidade: em primeiro lugar, a diminuição dos preços necessária para impulsionar a adoção de energias renováveis e, em segundo lugar, o aumento das pressões sobre os preços das matérias-primas (especialmente o aço), que estão a aumentar os custos. Em vez disso, as empresas vencedoras podem ser provedores da indústria de energia limpa, em vez de fabricantes de equipamentos originais (OEM). Na Europa existem numerosas empresas de tecnologia verde que fornecem as indústrias eólica e solar.

Melhores edifícios

Um aspeto importante sobre a utilização eficiente das energias renováveis são os edifícios. Segundo a Comissão, os edifícios representam 40% da energia consumida e 36% das emissões de gases com efeito de estufa relacionados com a energia. Por isso, será necessário focar-se na eficiência energética, tanto na fase de construção de novos edifícios, como na adaptação dos existentes.

Há empresas, como a suíça Sika que estão a inovar neste domínio através dos chamados aditivos redutores de água, que podem fornecer maior força e reduzir significativamente a quantidade de água utilizada todos os anos na produção de betão.

Carros menos poluentes

As propostas da Comissão Europeia para o transporte rodoviário incluem uma redução de 55% das emissões de CO2 dos automóveis e carrinhas novos até 2030, que aumentará para 100% até 2035.

Apesar da procura por veículos elétricos por parte dos consumidores e da normativa em ação, a Europa tem empresas de automóveis capazes de satisfazer essa procura. Para muitas pessoas, a Tesla continua a ser a empresa mais associada aos veículos elétricos (VE), mas na Europa, a Volkswagen tornou-se líder no campo dos VE e também está a investir na tecnologia de baterias. Com isto, não só os próprios fabricantes de automóveis, mas também alguns dos fornecedores, poderiam ver uma maior procura dos seus produtos à medida que o impulso regulamentar para uma mobilidade mais limpa se intensifica. Por exemplo, a empresa britânica Johnson Matthey está exposta ao transporte ecológico de diferentes formas. Os seus catalisadores podem ser instalados em veículos a gasolina, a gasóleo ou híbridos existentes para reduzir as emissões poluentes. Também fabrica membranas revestidas a catalisadores que fazem parte de uma célula de combustível de hidrogénio.

Combustíveis do futuro

O hidrogénio e as baterias não são os únicos combustíveis que podem ajudar a UE a cumprir as propostas doa Fit for 55. Os biocombustíveis também têm um papel a desempenhar.

Assim, empresas de biocombustíveis como a finlandesa Neste oferecem uma solução para veículos a gasóleo que continuam a circular nas nossas estradas. A Neste tem um produto de gasóleo renovável que pode ser usado em vez de diesel convencional.

No entanto, tal como no caso das baterias, ainda é necessário trabalhar para garantir que os biocombustíveis sejam produzidos da forma mais sustentável possível. As propostas da Comissão Europeia incluem medidas para garantir que a procura de biocombustíveis não afeta os terrenos que seriam utilizados para a produção de alimentos.

Regresso à ferrovia

A descarbonização dos transportes exigirá novos combustíveis e tecnologias, mas uma tecnologia mais antiga, a ferroviária, já é uma das opções mais amigas do ambiente. Mais uma vez, há algumas empresas menos óbvias que podem revelar-se investimentos interessantes neste ambiente. A Knorr Bremse, o principal fabricante de travões para comboios e camiões é um deles, bem como a plataforma de reservas online Trainline.

Imposto sobre o carbono na fronteira

As propostas do Fit for 55 terá um profundo efeito sobre os produtos e serviços oferecidos pelas empresas europeias. Ao estabelecer impostos fronteiriços sobre o carbono e impulsionar um preço mais elevado do mesmo, a Europa pode promover a utilização de matérias-primas de baixo carbono. Isto inclui o apoio indireto aos fornecedores nacionais da UE face a uma concorrência externa desleal. Por exemplo, três empresas europeias de aço inoxidável (Outokumpu, Aperam e Acerinox) fabricam aço de baixo carbono e podem agora contar com mais proteção e uma rentabilidade muito maior.

Agricultura

As propostas do Fit for 55 também estabelecem que, até 2035, a UE deve ter como objetivo alcançar a neutralidade climática nos setores da utilização do sola, a silvicultura e a agricultura. Isto inclui as emissões agrícolas não relacionadas com o CO2, como as provenientes da utilização de fertilizantes e dos animais.

O metano é um gás importante, uma vez que tem um potencial de absorção de calor 20 vezes superior ao do dióxido de carbono.

A DSM, fornecedora de produtos de nutrição humana e animal, desenvolveu um aditivo para alimentação animal para fazer face a estas emissões de metano provenientes dos animais. Suprime com segurança a enzima que desencadeia a produção de metano no estômago das vacas, e os testes demonstraram que reduz sistematicamente a emissão de metano tão entérico em quase um terço. Se o produto atingir a fase comercial, poderá ser um passo importante para tornar o gado mais sustentável.

O impacto não será limitado aos mercados financeiros

As propostas do Fit for 55 serão agora negociadas pelos estados-membros da UE. Os efeitos do plano serão sentidos no dia a dia dos cidadãos da UE, o que poderá conduzir a negociações duras.

Estas propostas representam uma grande oportunidade para a Europa transformar a sua economia num futuro com baixas emissões de carbono, o que terá implicações importantes para as ações. Como investidores, integramos a sustentabilidade na nossa análise fundamental e acreditamos que as melhores rentabilidades serão alcançadas olhando para além das manchetes e dos vencedores mais óbvios. Em vez disso, favorecemos uma abordagem mais matizada: olhar tanto para os fornecedores como para os OEM, por exemplo, e para as empresas que estão a inovar. É igualmente crucial ter em conta fatores como os custos e as pressões concorrenciais, a força do modelo de negócio e, naturalmente, a valuation.


As referências às empresas são apenas para fins ilustrativos e não constituem uma recomendação de compra e/ou venda, nem um parecer sobre o valor das ações dessa sociedade. O artigo não se destina a fornecer, nem deve ser invocado, para consultoria de investimento ou investigação. Se não tiver a certeza da adequação de qualquer investimento, fale com um consultor financeiro independente.

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