Regresso às obrigações?

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Franck Dixmier. Créditos: Cedida (AllianzGI)

TRIBUNA de Franck Dixmier, diretor global de Investimentos em Obrigações, da Allianz Global Investors. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.

Após um reajuste histórico como o vivido nos mercados obrigacionistas mundiais em 2022, os investidores questionam-se sobre como voltar a apostar em obrigações no novo ano. O ambiente macroeconómico mantém-se complexo. A inflação subjacente pode levar mais tempo do que o esperado a voltar ao controlo, ainda que a tendência altista da inflação geral tenda a desaparecer à medida que as economias desaceleram. E não podemos esquecer os possíveis riscos extremos. Os mercados podem ter julgado mal a política monetária em dois sentidos: em primeiro lugar, em relação ao nível até ao qual os juros vão ter de subir, e aí permanecer por algum tempo, para poder estabilizar e reduzir a inflação; e, em segundo, à magnitude de redução das medidas de flexibilização quantitativa através da compra de ativos.

No futuro, acreditamos que os bancos centrais vão ter dificuldade em ir além da perceção que o mercado tem do seu papel enquanto criadores de mercado ou financiadores da política fiscal de último recurso. À medida que as expetativas em torno da liquidez e do domínio fiscal chegam ao fim, podemos esperar que os surtos de volatilidade do mercado se tornem a característica dominante nos próximos meses.

Os nossos indicadores preliminares preveem que o crescimento global se mantenha abaixo do seu potencial nos próximos meses. Uma recessão global é cada vez mais provável devido ao endurecimento das condições financeiras e à redução do poder de compra das famílias. Para as economias emergentes, a valorização do dólar e a redução da liquidez global não estão a ajudar. Devemos considerar a possibilidade de investir em ativos que ajudem a minimizar a volatilidade dos juros, spreads e moedas.

Algumas ideias de investimento

Tendo em conta a incerteza macroeconómica inerente a este ponto do ciclo de juros e de crédito, pode ser o momento errado para aumentar de forma agressiva a duração ou o risco de crédito. Muitas curvas de juros da dívida pública estão achatadas ou invertidas e, assim, a compra de obrigações a curto prazo pode garantir uma rentabilidade tão alta, ou até maior, do que a oferecida pela dívida a longo prazo. No entanto, as obrigações a curto prazo podem não fazer muito para atenuar a volatilidade. Os investidores devem considerar a combinação de obrigações de vencimento a curto prazo com estratégias de derivados que podem ajudar a minimizar a volatilidade dos juros, dos spreads e das divisas. É importante ter em conta que estas estratégias de cobertura podem envolver um desembolso de dinheiro vivo e uns custos que podem prejudicar a rentabilidade.

As obrigações de taxa variável são outra forma de adicionar exposição à dívida empresarial de curta duração com menor risco de juros. Devemos ter em conta que os rendimentos das obrigações variáveis tendem a ser menores do que as obrigações empresariais de juro fixo; e serão necessários vários aumentos consecutivos nos juros para que os rendimentos das obrigações variáveis comecem a recuperar terreno.

Assim que a inflação e os juros estabilizarem, pelo menos nos mercados de referência, esperamos que os ativos de maior risco (e os que oferecem spreads mais altos) comecem a seguir gradualmente o exemplo. O ciclo de crédito ainda só começou a mudar e o impacto total da queda na procura do consumidor nos setores empresariais apenas começou a ser sentido. As desacelerações do mercado costumam exigir paciência, e a análise histórica sugere que três meses de recessão constituem um possível ponto de entrada para aumentar a aposta pelo risco no crédito com grau de investimento.

Outras opções a considerar são as obrigações sustentáveis, como green bonds, emitidas principalmente no segmento de grau de investimento e que se reajustaram a níveis mais competitivos. Acreditamos que a crise energética vai impulsionar a procura e a rentabilidade a longo prazo do financiamento verde e social, ainda que a curto prazo se recorra a fontes mais poluentes e se imponham limites às faturas energéticas para evitar uma crise. As obrigações empresariais de alto rendimento e a dívida externa de mercados emergentes recuperaram em valor e oferecem uma ampla margem de rendimento (via coupons) e retornos potencialmente atrativos. Mas estes ativos podem implicar maior volatilidade, bem como riscos de incumprimento, pelo que a gestão ativa é fundamental.