Romualdo Trancho, em análise ao avanço exponencial da tecnologia e às suas consequências, explica a abordagem que pode equilibrar o seu rápido crescimento com uma pegada de sustentabilidade aprimorada. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.
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TRIBUNA de Romualdo Trancho, diretor de Desenvolvimento de Negócio para Portugal da Allianz Global Investors. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.
A taxa, a escala e a amplitude do avanço tecnológico são as mais extensas de sempre. Embora isto traga amplas oportunidades, a tecnologia enfrenta os seus próprios desafios de sustentabilidade. Como é que o setor equilibra a procura crescente e a rápida evolução com uma pegada de sustentabilidade aprimorada?
Embora a tecnologia seja um termo abrangente, enquanto investidores, concentramo-nos no setor das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que é amplamente categorizado em quatro subsetores que incorporam hardware, software e serviços, cada um deles exposto a diferentes oportunidades e riscos.
A evolução, a inovação e a contribuição das TIC para o crescimento económico global são essenciais para atrair os investidores, e a sua atratividade foi fortemente ampliada pela pandemia de COVID. Estima-se que o setor tenha crescido três vezes mais rapidamente do que o crescimento económico global da OCDE na última década, atingindo os 7,6% em 2023, a taxa de crescimento mais elevada até à data1.
COVID: uma mudança sísmica para a tecnologia
A pandemia de COVID transformou a relação do mundo com a tecnologia. Do ensino doméstico aos pagamentos sem dinheiro, a tecnologia foi rapidamente integrada no nosso quotidiano, tornando-se uma necessidade social. Ora, enquanto a tecnologia se tornou um facilitador social essencial, questões como a dependência tecnológica e os riscos de cibersegurança destacaram o outro lado desse progresso tecnológico.
Alcançado à custa do clima, do planeta ou do tecido social, esse progresso está cada vez mais sob escrutínio público e, nesse sentido, o seu desenvolvimento responsável será a base para uma trajetória de crescimento resiliente e sustentada e o motor de apoio à próxima vaga de soluções tecnológicas.
Impulsionar o crescimento económico
Conectar pessoas, identificar eficiências e criar soluções pode catalisar o progresso nos negócios, nas economias e na sociedade. Além de gerar receitas e reduzir custos, o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas pode também conduzir a um crescimento económico resiliente e sustentado.
Algumas soluções inovadoras em particular, como a blockchain, a computação em nuvem, a aprendizagem automática, a análise avançada e as tecnologias de controlo, podem ajudar setores críticos (energia, materiais, transportes, cuidados de saúde ou alimentação, entre outros) a adaptarem-se às alterações climáticas e às exigências planetárias e sociais2. Sem dúvida, a utilização de tais tecnologias pode apoiar o crescimento económico, permitindo às empresas e às nações gerir a procura atual e uma mais exigente procura futura.
A cada vez maior pegada tecnológica
Habitualmente, quando pensamos no impacto das TIC sobre a sustentabilidade, os comentadores tendem a concentrar-se nas emissões e não tanto nos aspetos ocultos que merecem maior atenção. Somos frequentemente questionados sobre o custo – ou o dano – dos avanços tecnológicos (ver figura abaixo) e até que ponto consideramos que existe um benefício líquido.
Em traços gerais, os principais custos ou riscos da tecnologia podem ser categorizados nas três dimensões ambientais, sociais e de governação (ESG, da sigla em inglês):
i) A intensidade ambiental. Ao longo do ciclo de vida dos produtos de TIC, o setor é altamente intensivo em energia, sendo responsável por 4-6% do consumo global de eletricidade atualmente, número que deverá aumentar para os 20% até 20303. Além disso, é utilizada uma vasta e subestimada quantidade de água, desde o fornecimento de metais e minerais estratégicos até ao equipamento de refrigeração para um desempenho ideal, estando igualmente a extração destes minerais a tornar-se cada vez mais invasiva para os ecossistemas.
ii) O contrato social. A tecnologia pode aumentar a inclusão através do maior acesso e conectividade, mas apresenta riscos subjacentes que decorrem da maior exposição a informação enganadora e à desinformação4, a que acresce um impacto ao nível da saúde física e/ou mental.
iii) O progresso tecnológico requer uma governança forte. A economia global só atingirá o seu potencial se a tecnologia cumprir o dever de cuidado digital em algumas áreas-chave: (a) o domínio das grandes tecnológicas (a inovação precisa de disruptores, mas a presença das Sete Magníficas não deve afastar outros intervenientes); (b) a insegurança cibernética (a nossa dependência económica da tecnologia não tem sido igualada pelo desenvolvimento de uma proteção adequada do utilizador); e (c) a criação de normas e regulamentos éticos para as tecnológicas.
Enquanto investidores, o nosso foco está na forma como a tecnologia está a ser utilizada e procuramos oportunidades onde esta seja capaz de contribuir positivamente para a sociedade e o planeta. Porém, ao mesmo tempo, acreditamos que uma contribuição resiliente e sustentada da inovação tecnológica para a economia global exige uma avaliação abrangente dos riscos e um consequente quadro de mitigação.
Os rápidos avanços tecnológicos ultrapassaram a capacidade dos governos e da sociedade para gerir adequadamente este progresso. Se as empresas tecnológicas não conseguirem desenvolver-se com responsabilidade, seguir-se-ão regulamentações mais rigorosas. Já assistimos a divergências regionais: a Europa e o Reino Unido estão mais orientados para a regulação baseada no risco do que os EUA, que albergam os maiores atores tecnológicos. Parece inevitável a intensificação dos quadros jurídicos e regulamentares, mas resta saber até que ponto isso vai acabar por ser mais ou menos restritivo para as próprias tecnológicas.
Notas
2 https://initiatives.weforum.org/digital-transformation/digital-solutions-explorer
4 Considerado o risco global de curto prazo mais significativo pelo Fórum Económico Mundial. https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2024/