Seis elementos-chave que todos os investidores devem ter em conta para o que resta deste ano e para os próximos

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Carla Bergareche. Créditos: Cedida (Schroders)

TRIBUNA de Carla Bergareche, diretora-geral da Schroders em Espanha e Portugal. Comentário patrocinado pela Schroders.

Estamos a caminhar para um cenário de estagflação que coloca os bancos centrais numa situação complicada, dado que terão de controlar a inflação sem incorrer numa possível recessão. Face a este contexto, identificámos seis elementos-chave para investir nos próximos meses e até anos. Advertisement

1. Recessão, sim ou não?

Isto tem implicações importantes para o investimento, embora exista uma enorme desconexão no pensamento entre as diferentes classes de ativos. Os investidores em ações parecem pensar que o desemprego continua baixo e que os balanços das famílias e das empresas são sólidos. Por outras palavras, julgam que a Fed irá fazer um bom trabalho de controlo da inflação sem provocar uma recessão.

Contudo, a história mostra que este panorama pode mudar rapidamente se o crescimento abrandar. Além disso, os aumentos salariais são reduzidos pela inflação e os consumidores terão que recorrer às poupanças. Enquanto isso, as previsões dos lucros empresariais continuam a ser revistas em alta.

Parece muito pouco provável que o impulso positivo das ações de que os investidores têm desfrutado desde 2009 se mantenha, sobretudo tendo em conta as avaliações iniciais de muitos dos pesos pesados do índice. No entanto, muitas áreas fora dos principais índices de referência têm avaliações atrativas. Neste sentido, esperamos ver uma grande dispersão entre os vencedores e os perdedores no seu geral, dadas as numerosas forças em jogo. 

2. O conflito na Ucrânia não será outra guerra esquecida

As implicações da invasão russa da Ucrânia são importantes, dada a sua localização estratégica e o seu papel como fornecedor de matérias-primas. Além disso, um conflito de longa duração pode aumentar o risco geopolítico. 

Verificam-se preocupações sobre o impacto do aumento dos preços energéticos, o aparecimento de novas ruturas nas cadeias de abastecimento globais, bem como a resposta da China. A adoção de uma perspetiva de investimento temático tanto sobre os riscos como sobre as oportunidades é, por isso, fundamental. Se a incerteza aumentar, será fundamental manter a disciplina e a gestão adequada do risco para evitarmos comportamentos irracionais.

3. A transição energética continua a ser uma oportunidade a longo prazo

As empresas que resistem à pressão sobre as margens e têm perspetivas de crescimento saudável sem alavancagem financeira excessiva, são as mais bem colocadas. Por outro lado, o aumento dos preços das matérias-primas dificulta as perspetivas a curto prazo da transição energética, embora esta seja uma tendência a longo prazo que irá exigir um grande investimento e onde acreditamos que as oportunidades permanecem. Identificar as empresas líderes ou facilitadoras desta transição será fundamental.

4. Os ventos favoráveis das grandes empresas tecnológicas diminuíram

Apesar de uma forte corrida durante a pandemia, o setor tecnológico tem tido um desempenho inferior ao do ano passado. Acreditamos que este setor alcançou um equilíbrio em termos do seu peso nos principais índices e da sua maior influência na sociedade; assim, quaisquer ganhos ou perdas que se produzam doravante serão mais específicos de cada empresa. Estas ações podem representar, de forma bastante incomum, uma alocação considerável numa carteira value.

5. Evitar as armadilhas do value

O tão esperado relançamento do investimento em value, que começou em 2020, parece ter perdido a força, mas continua a existir uma importante dissociação entre a rentabilidade relativa das ações mais baratas e os seus fundamentais. Mais uma vez, ser seletivo e focar-se na qualidade dos ativos será fundamental.

6. Os mercados emergentes devem ser avaliados caso a caso

Ser seletivo também é importante quando se investe  em mercados  emergentes onde existe muita diversidade. A China, que recentemente parecia ter caído em desgraça, pode começar a oferecer oportunidades. Ao contrário das crises anteriores, a ameaça de contágio de um incumprimento russo parece limitada, uma vez que a dívida externa a curto prazo está abaixo dos seus níveis históricos e as taxas de câmbio estão mais valorizadas. As oportunidades nos mercados emergentes devem analisar-se caso a caso, enquanto se avaliam os riscos macroeconómicos, que são mais elevados que em qualquer outro momento.