Shine On You Crazy Diamond!

Jorge Silveira Botelho BBVA_noticia
Jorge Silveira Botelho. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Jorge Silveira Botelho, responsável pela BBVA AM Portugal.

Este ano a viagem pareceu mais comprida do que nos anos anteriores, arrastados por uma inflação cósmica fomos forçados a ter de aterrar no *Dark Side of the Moon. Acabou por se tornar numa viagem *Interstellar Overdrive, onde com tantos solavancos, muitos de nós acabámos por ficar bastante *Marooned.

Afinal, perdemos a noção de como a paz podia ser efémera e não foram poucas as vezes que este ano a *Wish You Were Here! Desafortunadamente a Rússia decidiu de novo tentar colocar *Another Brick on the Wall,soltando a sua ira com os seus *Dogs mais ferozes numa campanha de desinformação sem precedentes. O que a Rússia não esperava é que o *Fearless presidente Zelensky se recusasse a fazer o papel de *Sheep, e está completamente focado em motivar as suas tropas, entoando a nova música dos Pink Floyd. *Hey Hey Rise Up. Talvez por isso mesmo, não podemos descartar a possibilidade de que *One of this Days, algum tipo de paz volte novamente, contudo o mundo vai continuar a mover-se sobre *The Thin Ice.

Esta viagem ao longo de 2022 fica também marcada pelo surto inflacionista que motivou a maior e mais rápida retirada de estímulos monetários da história, liderada pela Fed, cujos alguns dos seus membros acabaram mesmo por ter uns comportamentos demasiado frenéticos e anacrónicos, e pareciam até estar completamente *Obscured by the Clouds. Ao que parece, estes membros não se dão por contentes, enquanto não se certificarem que já não existe ninguém do outro lado, *Is There Anybody Out There?

Daí que em 2023 vai ser fundamental que a grande maioria da ala moderada da Fed comece a liderar a agenda mediática e que esta grite alto e bom som:

- *Hey You, não os ajudes a enterrar a luz…

Na Europa, as coisas não foram diferentes, de tal forma, que se ficou com a sensação que houve em particular um momento em que podíamos de facto encontrar *No Body Home

Depois de andarem a ser vítimas de bullying durante mais de uma década, os *PIGS nem queriam acreditar. Então aqueles que durante anos sem fim os maltratavam nos meios de comunicação anglo-saxões, convictamente frisando que havia diferenças insuperáveis entre *Us and Them, na realidade portaram-se com se tivesse algum tipo de *Brain Damage.

De facto, em setembro, os britânicos, depois de uma agenda orçamental delirante, confrontaram o mundo com um *Cymbaline onde o pesadelo real da falência do sistema de pensões inglês se tornou num dos impercetíveis Lehman moments que ocorreram no mundo desde a falência do banco americano. *If nesse momento, alguns dos Bancos Centrais não tivessem ganho consciência dos riscos que o excesso da sua política monetária tirana e anacrónica, estavam a provocar neste mundo excessivamente endividado, seríamos provavelmente todos de novo obrigados a ter de *Run Like Hell.

Com a guerra e a crise energética, há quem diga que houve um *Goodbye Blue Sky com o eleger do gás natural (e a energia nuclear) para a taxonomia, mas na realidade este foi o compromisso possível de se comprar *Time para se encontrar as bases de uma transição energética exequível, enquanto a tecnologia progride e * Set the Controls for the Heart of the Sun. De registar que Espanha e Portugal tiveram *On the Turning Away do projeto europeu ao darem o exemplo para fazer baixar o preço de eletricidade.

Com tudo o que se passou, há que ter presente que a questão energética foi e continua a ser a grande responsável pela subida direta e indireta da inflação, onde as políticas de sustentabilidade e a guerra foram os grandes catalisadores. Os Bancos Centrais têm de ter cuidado para não serem responsáveis, tal como a Rússia, de *Burning Bridges. Estes precisam de deixar *Breathe a política monetária para conseguirem medir convenientemente os efeitos desfasados da política no tempo. Por outro lado, precisamos de financiar como nunca a transição energética, sabendo-se que a sustentabilidade é parte do problema conjuntural da inflação, mas esta é acima de tudo parte estrutural da sua resolução. Mas os *Echoes da sustentabilidade não se ficam pela transição energética, há um risco real que esta guerra desenfreada contra a inflação possa agravar ainda mais as desigualdades. Com esta política monetária anacrónica e com o maior salto tecnológico das últimas décadas, podemos estar a criar um convite explícito para que as empresas *Welcome to the Machine e substituam ainda mais rapidamente o fator trabalho pelo fator capital e agravem mais as condições sociais…

Este também foi um ano importante para repensar toda a infraestrutura do *Money digital que erradamente estava cativada pela soberba mediática da *Young Lust. Mas não se tenham grandes dúvidas que já começamos a contagem *Free Four para a introdução da moeda digital de um Banco Central. Quando isso suceder, vamos ter irremediavelmente a aproximação da economia financeira à economia real, ou seja, vamos ter uma maior eficiência dos preços relativos (desinflação) e a política monetária vai ficar com uma enorme discricionariedade. Já não vai ser preciso *Have a Cigar para se perceber que a introdução moeda digital vai determinar o fim da independência dos Bancos Centrais com a consequente fusão da política monetária com a política e fiscal.

No essencial em 2023, tudo se vai resumir ao fim do *Eclipse da Inflação, ou seja, a constatação que depois da passagem atribulada deste fenómeno, vamos de novo regressar às dinâmicas estruturais da desinflação, onde estas se estenderão para os anos seguintes.

De assinalar, que *In The Flesh foi como as mulheres iranianas corajosamente enfrentaram o regime retrógrado do seu país, demostrando que apesar de todas as privações estão dispostas a defender que se possa usar *Any Colour You Like. Na China, parece ter acabado a política de covid zero, com o povo chinês a recusar-se a ser simplesmente mais um *Comfortably Numb. Mas quem parece tirar partido da nova ordem mundial e a começar *Learning to Fly é a Índia. Ninguém como este país vai tirar proveito das vantagens da sua democracia para impor os critérios sociais e de governação, assumindo-se cada vez mais como a nova fábrica digital ESG do planeta.

Finalmente, não nos podíamos esquecer que este ano fica marcado com a partida da *Mother de todos os britânicos, que independentemente da falta de rumo nos últimos anos do seu reino, o seu legado e a dedicação da sua Rainha, eticamente irrepreensível à sua causa, fica para a história do mundo.

Chegados ao final de mais um ano, esta é sempre uma quadra que nos traz *High Hopes, e por isso não é altura de termos *Sorrow* de nós próprios. Depois de um ano tão complexo, a melhor forma de homenagearmos a nossa existência é não desistir de procurar a nossa estrela que esvoaça livremente no *Great Gig in the Sky.

Este é o tempo de *Come Back to Life, porque vida é um diamante em bruto, que está exposta aos elementos e aos desencontros, mas é com a nossa atitude e com o nosso rasgo, que o polimos para o fazer brilhar, iluminando as nossas vidas e as dos outros:

- *Shine On You Crazy Diamond!

“For long you live and high you fly

And smiles you'll give and tears you'll cry

And all you touch and all you see

Is all your life will ever be“

Um Santo Natal e um Próspero Ano Novo

 * Obrigado Pink Floyd!