Nas suas perspetivas para este novo ano, a equipa da Sixty Degrees AM destaca o lançamento das moedas digitais de bancos centrais, o ouro e a energia nuclear.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
COLABORAÇÃO da Equipa Sixty Degrees Asset Management.
Após um desafiante 2022, o ano que agora acaba trouxe-nos alguns recordes surpreendentes. Por um lado, ao nível dos mercados acionistas, com os mais relevantes índices norte-americanos a atingirem novos máximos históricos, mas, por outro, a sua suposta antítese, o ouro, a alcançar o mesmo feito, apesar dos principais bancos centrais à volta do mundo terem levado as respetivas taxas diretoras para níveis que alguns consideram restritivos. Tudo isto parece resultar duma alteração de atitude face ao risco, derivada do melhor desempenho das economias desenvolvidas e do aparente pico no ritmo de crescimento do respetivo nível geral de preços.
A economia americana e da zona euro
A economia americana deu verdadeiros sinais de resiliência, tendo o PIB anualizado do 3º trimestre atingido os 4,9%, em claro contraste com a quase estagnação da zona euro que continua a braços com problemas sérios no seu principal motor de crescimento, a Alemanha, em grande parte derivados do conflito armado que se desenrola às suas portas. Ao mesmo tempo, a inflação tem vindo a desacelerar de forma abrupta, passando de 9% para 3% nos EUA e de 10% para 2,5% na zona euro, dando grande margem aos investidores para sonharem com cortes significativos nas taxas diretoras, a começar já em março 2024, como forma de estimular a economia em caso de recessão.
Nas suas últimas reuniões de 2023, tanto a Reserva Federal como o BCE deixaram as respetivas taxas diretoras inalteradas, mas expressaram diferentes apetites no que toca à possibilidade de inversão do ciclo de subida das mesmas. Se, por um lado, o BCE rejeitou de forma categórica qualquer especulação sobre a possibilidade de cortes de taxas no curto prazo, apesar da estagnação económica em curso, já a Reserva Federal parece mais preocupada com o provável arrefecimento da economia norte-americana em 2024, levando os investidores a atribuírem uma probabilidade de redução de taxas superior a 70%. Contudo, outros fatores poderão contrariar as atuais expetativas dos investidores, nomeadamente (i) o aumento/alargamento dos conflitos armados que são por definição os maiores criadores de inflação, (ii) a China tem vindo a reduzir de forma sistemática os seus investimentos em dívida norte-americana, colocando alguma pressão sobre os respetivos leilões futuros, (iii) o défice orçamental não para de aumentar, (iv) mantêm-se as pressões salariais e (v) a atual política energética é restritiva e criadora de pressões inflacionistas.
Lançamento das moedas digitais de bancos centrais
Um fenómeno que tem vindo a ganhar notoriedade e que de alguma forma poderá estar ligado à falta de sustentabilidade das dívidas governamentais, no sentido em que as autoridades esperam um incremento substancial no nível de impostos que poderão vir a cobrar e assim fazer face ao serviço da dívida, é o do lançamento das moedas digitais de bancos centrais (CBDC). Como principais benefícios para justificar a introdução destas moedas, as autoridades monetárias têm vindo a falar da redução dos custos de pagamento, do aumento da privacidade nas operações entre agentes económicos, no incremento da inclusão financeira e na maior promoção de inovação ao nível de novas oportunidades de negócios. Na realidade, a eliminação do dinheiro físico permitirá não só a efetiva implementação de políticas futuras de taxas de juro negativas, enquanto imposto sobre os valores em depósito nos bancos, mas também a total tributação da atividade económica, uma vez que todos os movimentos serão permanentemente rastreados ao nível das suas contas digitais.
Perspetivas para 2024
O ano que agora começa, irá destacar-se pelo elevado número de países que irão ter eleições legislativas ou presidenciais, com especial destaque para os atos eleitorais na Rússia e nos Estados Unidos, pelo que a tendência de instabilidade a nível global não deverá ser reduzida. As eleições nos EUA vão ditar se o posicionamento político de Washington será mais unilateral ou multilateral para os próximos quatro anos e quais as implicações que isso trará para a estabilidade global. Para a Sixty Degrees, estes eventos devem ser acompanhados com proximidade, uma vez que a instabilidade social associada a resultados eleitorais surpreendentes ou, não sendo uma surpresa, que acabem por dividir e fraturar cada vez mais as sociedades e os cidadãos, podem trazer um aumento significativo da volatilidade no preço dos ativos financeiros.
O evitar duma recessão económica a nível global em 2023, poderá ter criado as condições necessárias e suficientes para que, em 2024, o consumo de combustíveis fósseis ultrapasse os níveis alcançados no verão de 2023 e que se exceda os níveis do verão de 2019, antes da pandemia da COVID-19. Os preços do petróleo bruto são o principal impulsionador dos preços dos combustíveis refinados e devem permanecer altamente voláteis e sujeitos a incertezas geopolíticas. O risco de perturbações no mercado petrolífero tem vindo a ser agravado com a manutenção do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e foi recentemente agravado com a crise do Médio Oriente. Acresce que o esforço realizado pelos países ocidentais no sentido de eliminar o consumo de combustíveis fósseis, pode fazer com que o mundo enfrente um abastecimento inadequado destes tipos de combustíveis, contribuindo, de facto, para as restrições recessivas decorrentes da escassez.
A energia nuclear e o ouro
Outra fonte de energia que tem sido acompanhada de perto pela Sixty Degrees é a nuclear, que tem sido sempre vista com desconfiança muito devido à sua utilização para fins militares, em especial durante a corrida ao armamento nuclear que se iniciou com a Guerra Fria em 1945.
A energia nuclear não produz gases com efeito de estufa e foi considerada, no início de 2023, uma fonte de energia sustentável (EU taxonomy regulation). Esta apresenta uma menor pegada ambiental do que qualquer outra fonte de energia. A energia nuclear é capaz de produzir na sua capacidade máxima (93% do tempo), mais do que qualquer outra fonte de energia. Com o aumento da população mundial e a crescente evolução tecnológica expetável ao longo das próximas décadas, será de esperar um aumento significativo nas necessidades de energia a nível mundial.
Apesar da recente valorização, a Sixty Degrees continuar a atribuir um elevado potencial de valorização e olha para a energia nuclear como o grande candidato para ser a fonte de energia alternativa aos combustíveis fósseis.
Outro ativo que poderá continuar a ter bom desempenho, num período de inflação teimosamente acima dos objetivos dos bancos centrais e de elevado risco geopolítico, é o ouro. A estabilização das taxas de juro reais poderá também servir de suporte para o preço do metal amarelo. Ao mesmo tempo, os bancos centrais deverão continuar a incrementar os seus stocks, em especial os asiáticos que pretendem diversificar as suas reservas, as quais são maioritariamente compostas por títulos de dívida norte-americana. O agravar dos atuais conflitos armados servirá também para realçar o papel diversificador de risco que o ouro pode trazer a uma carteira de investimento.
Gestão flexível para 2024
Neste ambiente de incerteza exacerbada como aquele que parece apresentar-se para 2024, é fundamental abraçar a gestão flexível do asset allocation, entre as diversas classes de ativos, como forma de obtenção de retornos relevantes de médio e longo prazo, quando ajustados pelo nível de risco incorrido, e para evitar perdas significativas no curto prazo que ponham em causa a utilidade das poupanças em momentos de necessidade ou aperto.