Small-caps europeias e COVID-19: a aceleração de tendências

Alvaro Anton Luna
Álvaro Antón Luna. Créditos: Cedida (abrdn)

TRIBUNA de Álvaro Antón Luna, responsável de negócio para Portugal e Espanha, Aberdeen Standard Investments. Comentário patrocinado pela Aberdeen Standard Investments.

A COVID-19 teve um efeito profundo em todos nós. Mas o seu eventual impacto pode ser maior do que a emergência sanitária que enfrentamos atualmente. Todos tivemos de nos adaptar ao “novo normal” e aos desafios diários do confinamento e acreditamos que é provável que uma parte dessas alterações tenha um efeito mais duradouro. Muitas das tendências em marcha antes da pandemia já estão em evidente aceleração e parecem ter vindo para ficar. Para os investidores, este cenário pode trazer oportunidades, sobretudo no universo das small-caps.

Rápidas e preparadas

A velocidade da mudança trazida pela COVID-19 foi benéfica, e continuará a ser, para as empresas que se conseguem adaptar rapidamente e agarrar novas oportunidades. Muitas vezes, as empresas de menor dimensão são mais ágeis e menos burocráticas do que as de maior dimensão. Muitas dessas empresas são negócios geridos pelos proprietários, nas quais são tomadas decisões de forma decisiva, permitindo que estas se ajustem e sejam bem-sucedidas em períodos de grande turbulência. Por outro lado, é frequente as empresas de grandes dimensões enfrentarem maiores dificuldades em mudar de direção quando os mercados atravessam períodos de disrupção, como o que vivemos atualmente com a crise provocada pela COVID-19. Esta dinâmica deu origem a vencedores e vencidos em todo o universo empresarial.

Será este o fim dos escritórios?

Durante a COVID-19, um grande número de pessoas passou a trabalhar a partir de casa e criou-se um debate acerca do futuro dos escritórios. Parece evidente que a antiga forma de trabalhar, assente inteiramente no escritório, será a exceção e não a regra. As empresas mais pequenas conseguiram adaptar-se a esta mudança com uma rapidez impressionante: muitas procuram, cada vez mais, oferecer aos seus funcionários modelos de trabalho mais flexíveis. Um grande número de empresas pretende adotar uma abordagem híbrida, isto é, o escritório passa a ser uma zona de contacto social e de trabalho em equipa e deixa de ser a base de todo o trabalho.

Esta mudança traz oportunidades para as empresas mais pequenas que consigam dar resposta em setores em crescimento. Por exemplo, à medida que o teletrabalho se vai tornando permanente, as pessoas vão querer fazer melhorias no escritório em casa e na casa em geral. As empresas mais pequenas que respondem a esta necessidade incluem a distribuidora britânica de materiais de construção Grafton, a empresa finlandesa de comércio alimentar e bricolage Kesko e a empresa espanhola de produtos para piscinas Fluidra.

Do espaço físico ao virtual

E temos, ainda, o retalho. Durante o confinamento e com as lojas de bens não essenciais encerradas, mais pessoas passaram a fazer compras online. No período pré-pandemia, as preocupações com a segurança nos pagamentos e a divulgação de dados bancários ainda impediam muitas pessoas de fazer compras online. Muitas dessas pessoas descobriram que essa experiência é mais simples e segura do que pensavam. Para além disso, a conveniência da entrega das compras em 24 horas à porta de casa é difícil de igualar.

Assim, é provável que estes consumidores não voltem totalmente aos hábitos de compra que tinham. Para além de beneficiarem diretamente dos sites de compras online, as empresas mais pequenas estão a ter um papel fundamental na “engrenagem” que faz com que este ecossistema funcione. Um exemplo: o aumento da entrega de encomendas requer mais espaço de armazenamento e uma melhor logística interna. Esta transformação ajudou empresas como a fabricante alemã de empilhadores Jungheinrich e a sueca Troax, fabricante de barreiras de proteção para armazéns automatizados.

Ascensão dos robôs

Não há dúvida de que a COVID-19 também acelerou tendências em termos da automação dos processos de fabrico. Essa automação tem sido impulsionada por empresas que procuram formas de reduzir a intervenção humana nos processos mais expostos a surtos epidémicos, como os surtos a que assistimos em locais de preparação de alimentos. Mais uma vez, são as pequenas empresas que estão na vanguarda desta alteração e muitas delas fornecem soluções “na retaguarda” a grandes empresas numa série de indústrias. Um exemplo é a cotada suíça Komax, fabricante de máquinas para automatizar a transformação de fio de aço utilizado em veículos ligeiros de passageiros.

Os fortes tornam-se mais fortes

Outra tendência assinalável dos últimos 12 meses é o facto de as empresas robustas terem ficado ainda mais robustas. Enquanto os rivais mais fracos se preocupam em restruturar elevados níveis de dívida e tomar decisões de curto prazo para preservar capital, as empresas de alta qualidade continuam a investir em inovação. Vejamos o exemplo da Rational, empresa alemã que fabrica eletrodomésticos para uso comercial: no pico da pandemia, a empresa lançou uma nova versão do seu forno combinado a vapor, aprovado pela generalidade dos clientes. Na nossa perspetiva, este tipo de decisões mostram que a empresa (e outras empresas semelhantes) deverá estar melhor preparada para o mundo pós-pandemia.

Quanto às empresas de menor qualidade, os estímulos governamentais apoiaram muitos setores da economia durante o auge da crise. No entanto, os decisores políticos vão acabar por retirar estes apoios, expondo as empresas com balanços e modelos de negócio mais frágeis à dura realidade económica que se avizinha. À medida que estas empresas vão falhando, as empresas de qualidade vão ganhando quota de mercado.

A importância dos critérios ESG

Os problemas ESG (ambientais, sociais e de governação corporativa) têm ganho importância nos últimos anos. Inúmeras empresas de menor dimensão têm sido defensoras ativas deste movimento. De forma encorajadora, muitas reforçaram as suas credenciais ESG durante a crise, sobretudo no que diz respeito à saúde e ao bem-estar dos funcionários. Devido à sua natureza, estas empresas também têm tendência a estarem mais ligadas às comunidades onde se encontram. Muitas levaram a sério a sua responsabilidade social e criaram iniciativas locais para apoiar as pessoas que as rodeiam, reforçando laços e melhorando a reputação, que são ingredientes-chave para o sucesso futuro.

Conclusões

A COVID-19 mudou as nossas vidas. Felizmente, este período de disrupção e tragédia também criou oportunidades e impulsionou mudanças positivas. Conforme demonstrado, as empresas de menor dimensão de grande qualidade conseguiram adaptar-se rapidamente à nova realidade. Acreditamos que muitas delas se encontrem numa posição forte para enfrentarem os desafios dos próximos anos.


Empresas selecionadas para fins exemplificativos apenas para demonstrar o estilo de gestão de investimento aqui descrito e não como recomendação de investimento ou indicação de resultados futuros.