Tiago Saraiva, senior investment consultant no UBS, explica o que a entidade espera de 2025, qual o seu posicionamento e quais os riscos a monitorizar.
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COLABORAÇÃO de Tiago Saraiva, senior investment consultant no UBS.
Em termos globais o ano de 2025 deverá ser benigno do ponto de vista económico. Espera-se um abrandamento ligeiro do ritmo de crescimento económico no bloco de economias desenvolvidas, mas esse crescimento não deverá desviar-se substancialmente da média dos últimos anos. Note-se que o enquadramento macroeconómico do UBS parte de um cenário base de tarifas seletivas por parte dos EUA. Existem desfechos mais extremos ao nível do agravamento das tensões comerciais que poderão colocar em risco este cenário benigno.
Nos EUA, os riscos incluem um potencial abrandamento do crescimento, que deverá manter-se em torno dos 2%, e preocupações com as tarifas comerciais, os défices orçamentais e as tensões geopolíticas. No entanto, a redução dos impostos, a desregulamentação e os acordos comerciais poderão apoiar o crescimento, ao passo que o investimento contínuo em IA apresenta um potencial de crescimento significativo.
Na Europa, os riscos envolvem tarifas comerciais e incerteza geopolítica, particularmente com a China, o que poderia causar volatilidade no mercado. Do ponto de vista positivo, a redução das taxas de juro poderá animar o investimento e o consumo, uma vez que a taxas de poupança das famílias se encontra acima do padrão histórico.
Nos mercados emergentes, a incerteza geopolítica e as tarifas comerciais são os principais riscos, mas os fatores positivos incluem um forte crescimento interno, em particular na Índia, e oportunidades nos setores da tecnologia e dos recursos. Na China, os riscos decorrem das tensões comerciais e das questões geopolíticas, mas os fatores positivos incluem o crescimento do setor tecnológico e um potencial estímulo governamental para as ações da Internet. A recuperação do consumo interno e as reformas estruturais também podem estimular o crescimento.
No Japão, os riscos incluem a estagnação económica e o envelhecimento da população, mas os fatores positivos incluem uma forte base industrial, a inovação nos setores tecnológico e automóvel e o aumento do consumo suportado pelo aumento dos salários.
Classes de ativos
Para o início de 2025, recomendamos ações, com um foco particular no S&P 500, devido ao seu potencial de valorização. Esperamos que o índice atinja os 6.600 pontos até ao final do ano, o que representaria um crescimento de cerca de 10% face aos níveis atuais. Apesar da volatilidade das ações europeias e chinesas devido às tarifas comerciais, mantemos uma visão positiva para as ações dos EUA, impulsionadas por um ambiente económico favorável e por uma maior exposição aos temas de maior crescimento, nomeadamente a Inteligência Artificial (IA).
Riscos
Os principais riscos a monitorizar são as tarifas comerciais, os défices orçamentais e as tensões geopolíticas, em particular nos EUA, na Europa e na China. Estes fatores podem conduzir a uma inflação mais elevada, a um crescimento mais lento e a uma maior volatilidade do mercado. Em particular, o impacto das tarifas nas cadeias de abastecimento globais e o potencial para uma maior instabilidade geopolítica na Europa e na China são aspetos fundamentais a considerar. Além disso, a sobrevalorização do dólar e as potenciais alterações nas políticas dos bancos centrais representam riscos para os mercados monetários e para o sentimento positivo que se foi consolidando nos últimos trimestres.
Fundos
No UBS temos uma série de recomendações estratégicas e princípios que devem estar subjacentes à constituição e gestão de qualquer carteira de investimento – o UBS Wealth Way. Para 2025, um desses princípios continua a assumir uma particular relevância. Ao reiterarmos o alerta aos investidores para os riscos associados ao excesso de liquidez estamos não só a contribuir para que mais recursos sejam posicionados nas carteiras de médio e longo prazo – longevidade e legado – mas também estamos a atuar sobre uma classe de ativos que deverá perder atratividade. Nos últimos anos, voltámos a ter taxas de juro reais positivas nos ativos de mercado monetário, mas essa realidade deverá desaparecer à medida que os principais bancos centrais prolonguem o seu ciclo de descidas das taxas de juro.
Temas de investimento
Para 2025, temos alguns temas de investimento mais focalizados que acreditamos que poderão constituir/continuar a ser boas oportunidades de investimento. O primeiro tema não é novo e é o mais óbvio e consensual – a IA. O UBS prevê que a IA seja uma das mais importantes oportunidades de investimento da década, com as infraestruturas de IA, incluindo semicondutores, serviços de nuvem e centros de dados, a impulsionar um crescimento significativo. Em 2024, grande parte dos ganhos concentraram-se nos chamados enablers, mas acreditamos que nos próximos anos também as camadas associadas à inteligência (intelligence) e às aplicações irão beneficiar de materiais ganhos económicos.
Outro tema identificado pelos analistas do UBS está relacionado com a energia e os recursos. A crescente eletrificação da economia devido ao crescimento da mobilidade elétrica, à substituição de outras fontes de energia por energia elétrica em atividades de cariz doméstico, mas também industrial e a proliferação de centros de dados irão exigir avultados investimentos nas redes e na geração de energia elétrica. Para além de toda a cadeia industrial relacionada com o desenvolvimento das redes elétricas, a transição para uma economia mais eletrificada provavelmente impulsionará a procura de matérias-primas como o cobre, o lítio e as terras raras (rare-earth elements), que também são áreas-chave a observar em 2025.
Finalmente, apresentamos uma oportunidade que vai soar estranha aos investidores que não estejam expostos às dinâmicas internacionais. O UBS prevê o renascimento do setor imobiliário, após anos em que o setor foi muito penalizado pela subida das taxas de juro, particularmente em propriedades logísticas, centros de dados e habitações residenciais em mercados selecionados como os EUA, Europa, alguns mercados da região Ásia-Pacífico.