Francisco Uría, sócio responsável do Setor Financeiro, KPMG em Espanha, fala do desafio para os gestores de ativos para atrair uma clientela retail cada vez maior. É preciso repensar as estratégias de oferta e os modelos de distribução.
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COLABORAÇÃO de Francisco Uría, sócio responsável do Setor Financeiro, KPMG em Espanha.
O património gerido por clientes de retalho cresceu na Europa nos últimos anos. Segundo dados da EFAMA, 14 países registaram um crescimento dos ativos de retalho superior à média europeia em 2023. Espanha está entre os países com uma maior percentagem de distribuição de retalho na Europa, com 86%. Segundo os últimos dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) espanhol, a taxa de poupança das famílias espanholas continua a aumentar, de modo que, no final do terceiro trimestre de 2024, chegou a 14,2% do rendimento disponível bruto, o que representa um aumento de 1,2 pontos percentuais em comparação com o período homólogo. O facto de os bancos terem mantido uma política de não remunerar os depósitos durante o período observado conduziu a uma ligeira transferência de poupança dos depósitos bancários para ativos como os títulos do Tesouro ou os fundos monetários.
Obviamente, o desafio para o setor da gestão de ativos consiste em aumentar a percentagem de rendimento que as famílias espanholas dedicam ao investimento em instrumentos financeiros, por oposição a outros destinos mais tradicionais como os ativos imobiliários ou os depósitos bancários. Estas tendências não são exclusivamente espanholas. Um comportamento semelhante pode ser observado noutros estados da União Europeia, observando-se em todos os casos alguma resistência na hora de investir.
No caso espanhol, as causas do aumento da taxa de poupança das famílias são relativamente estáveis, uma vez que estão relacionadas com o comportamento favorável da economia (que cresce a um ritmo superior ao de outros países europeus) e, sobretudo, com o emprego. É preciso destacar que parte dessa evolução positiva está relacionada com o aumento do emprego associado à imigração. Esta circunstância positiva explica que tenha sido possível, ao mesmo tempo, aumentar o consumo e a poupança das famílias.
Para repensar as estratégias e as abordagens de distribuição, é fundamental compreender as dinâmicas demográficas. A estrutura da população está a sofrer uma mudança sem precedentes, caraterizada pela crescente longevidade das pessoas. A 1 de outubro de 2024, a população espanhola estava já perto dos 49 milhões de habitantes (48.946.035), segundo os últimos dados publicados pelo INE do país. O organismo estima que Espanha ganhará mais de cinco milhões de habitantes nos próximos 15 anos e quase seis milhões até 2074, se as atuais tendências demográficas se mantiverem. A percentagem de população com 65 ou mais anos, que atualmente representa 20,4% do total, irá atingir um máximo de 30,5% por volta de 2025.
Estas alterações demográficas obrigaram todos os setores económicos a renovar a sua missão. Para as gestoras de ativos, o desafio traduz-se na necessidade de repensar as suas estratégias de oferta, os seus modelos de distribuição e as suas narrativas, a fim de envolver de forma personalizada uma crescente clientela de retalho, cada vez mais longeva e multigeracional.
Esta diversificação sublinha a importância de uma abordagem dos operadores capaz de identificar as necessidades específicas de cada geração e de sensibilizar os mais jovens para o planeamento a longo prazo, ainda hoje pouco valorizado.