Tree Family Office: “Mais do que nunca será importante fazer uma gestão ativa dos investimentos”

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Foto cedida

(Artigo de opinião de Tânia Silva, consultora da Tree Family Office.)

2020 será recordado na história como o ano da pandemia, que abalou a economia a uma escala global. Foi igualmente um ano de contrastes para os mercados financeiros, que experimentaram quedas sem precedentes, em tão curto espaço de tempo, mas que encetaram recuperações notáveis, com alguns índices a baterem máximos de sempre. Este período ficou assinalado pelo o ano dos lockdowns generalizados pelo globo, da recessão económica à escala mundial, do desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, do final da novela Brexit e de uma mudança de presidente nos Estados Unidos.

A propagação da Covid-19 provocou, e ainda causa, um triste saldo em termos de vidas humanas. Os danos económicos foram pesados, com setores de atividade em total disrupção e o desemprego em alta. 

Em 2020, o PIB global terá registado a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial. Um desfecho pior foi evitado pela intervenção massiva dos Estados e dos principais bancos centrais. Os pacotes de apoio e a “impressão” de dinheiro atingiram níveis nunca vistos em tempo de paz.

O que esperar para 2021 após um ano de 2020 tão atípico?

O primeiro trimestre de 2021 promete ser difícil e provavelmente acontecerá nas mesmas condições dos últimos meses de 2020. Após o intervalo para as férias de fim de ano, a pandemia continuará presente e levará à continuação das restrições prejudiciais para a atividade.

É pelo período da primavera / verão 2021, que os investidores aguardam com ansiedade. E aqui, é claro que as perspetivas são bastante boas: graças à altíssima eficácia oferecida pelas vacinas já em curso, deverá ser possível uma normalização (um novo normal) das nossas vidas e da atividade económica como um todo. Esta é uma ótima notícia para todos nós, e em particular para o setor de serviços - o mais afetado pela pandemia A economia deve ser ainda mais dinâmica, pois irá beneficiar de duas fontes adicionais de crescimento: primeiro, muitas  famílias adiaram decisões e acumularam poupança durante o bloqueio. A normalização da situação de saúde acompanhada de melhora na confiança das famílias deverá permitir a circulação da poupança acumulada, impulsionando a atividade económica. Em segundo lugar, o facto de os bancos centrais permanecerem ao lado das economias, significa financiamento barato e abundante por um longo tempo.

De uma forma geral, e suportado pelo outlook da Euroconsumers, algumas notas a reter:

EUA

O mercado acionista norte americano fechou 2020 perto de máximos históricos e apesar dos piores cenários, a economia norte-americana deverá ter contraído apenas 3,7%, em 2020. Contudo, os Estados Unidos estão a bater recordes diários no número de contágios e de mortos com a pandemia. Para suportar a economia, o Congresso aprovou um novo plano de estímulos, embora o valor esteja aquém do desejado pelo presidente eleito, Joe Biden.

A Reserva Federal (Fed) continua a apoiar a economia e os mercados, mantendo as taxas de juro próximas de 0%, até que o mercado de trabalho regresse ao pleno emprego e a inflação não exceda a meta de 2% e continuará a comprar, pelo menos, 120 mil milhões de dólares de obrigações por mês para fornecer financiamento abundante e barato ao setor público, famílias e empresas.

A Fed prevê uma recuperação sustentável da atividade económica no segundo semestre de 2021. De acordo com Jerome Powell, o presidente da Fed, uma recuperação económica completa é improvável enquanto as pessoas não tiverem confiança para retomar em segurança um vasto leque de atividades. Teremos de esperar por uma grande difusão da vacina para ter uma recuperação real.

As obrigações em dólares norte-americano continuarão a oferecer rendimentos escassos, mas são úteis para reduzir e equilibrar o risco da carteira.

Zona Euro

Após uma recuperação robusta no 3º trimestre, o ressurgimento da pandemia penalizou seriamente a economia no último trimestre do ano. Estima-se que o PIB da zona euro tenha recuado 7,5% em 2020 e deverá recuperar apenas 3,6% este ano. No entanto, a perspetiva de vacinação em massa ao longo de 2021 mantém vivo o cenário de recuperação do potencial de crescimento a longo prazo da economia, no final do ano.

Ciente das dificuldades, o BCE, na sua última reunião, manteve inalteradas as taxas de juro, mas reforçou o plano de compra de ativos financeiros, aumentou os montantes e prazos dos programas de financiamento a Governos e bancos, o que permitirá menores custos de financiamento.

E finalmente o pacote de estímulos do Fundo de Recuperação foi aprovado e irá mobilizar 750 mil milhões de euros a partir do verão/outono 2021 em transferências diretas para os países mais necessitados, uma medida importante para complementar os esforços individuais dos Estados.

Quanto às previsões para a inflação a médio prazo mantêm-se muito baixas e estão longe do objetivo do BCE. Isto permitirá a manutenção de uma política monetária acomodatícia por muito tempo.

China

Após medidas draconianas de isolamento, o país onde se originou a pandemia conseguiu voltar a uma relativa normalidade. Os indicadores de produção estão em bom plano, mas ainda não estão a ser totalmente acompanhados pelo consumo. No entanto, a China conseguiu a proeza de crescer em 2020 (+1,1%) e deverá acelerar para 8% em 2021.

Graças às medidas orçamentais, incluindo um aumento de 5,6 % no investimento público desde janeiro, a indústria chinesa superou a crise do primeiro trimestre. Beneficia também do crescimento das exportações de equipamentos médicos e dispositivos eletrónicos, com o ressurgimento da pandemia e o regresso do confinamento aos países desenvolvidos.

Este crescimento deverá ser sustentado por: gestão eficiente do vírus; caso necessário, tanto o banco central como o governo têm capacidade de manobra para implementar estímulos adicionais; as condições financeiras continuam a ser muito acomodatícias e o crédito bancário continua a crescer; e a assinatura do RCEP, trata-se de um acordo de comércio livre entre 15 economias da Ásia-Pacífico: China, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e as 10 economias que já constituem a ASEAN. A negociação demorou 10 anos e a sua importância é elevada. Cobre um terço da população mundial.

Contudo, a China não está fora de perigo. Sem uma procura interna adequada, a recuperação da China permanecerá incompleta, e o crescimento económico desequilibrado. Adicionalmente, a atual conjuntura internacional difícil, o nível de endividamento excessivo e a deterioração das relações com o Ocidente em geral, e os Estados Unidos em particular, constituem desafios que Pequim terá que endereçar.

Emergentes

Os países emergentes foram fortemente afetados, devido ao aumento da aversão ao risco, houve uma forte saída de capitais estrangeiros que provocou a depreciação de inúmeras moedas emergentes face ao euro. 

Com o fumo da pandemia a começar a dissipar-se poderá vir a haver oportunidades de compra nestes mercados. Mesmo que o potencial não seja o mesmo de outrora, o seu recente subdesempenho torna-os potencialmente mais atrativos. 

Como nota final a não perder de vista: Coreia do Sul

Tal como os seus vizinhos chineses e japoneses, a Coreia do Sul tem sido bem sucedida em lidar com a pandemia de covid-19 e apresenta taxas de contágio e mortes das mais baixas do mundo desenvolvido. No entanto, ao contrário da maioria dos países ocidentais, a Coreia do Sul nunca passou por um confinamento total. Um caminho que teve, naturalmente, implicações para a dinâmica do crescimento do país no curto prazo. Assim, com uma melhor gestão da pandemia, a economia coreana contraiu apenas 1,1% no ano passado. Em 2021, mais do que recuperará das perdas, com o PIB a crescer 2,8%, pelo que é provável que a atividade económica regresse aos níveis pré-pandemia mais rapidamente do que na maioria dos países.

Mas para além da pandemia, o país é extremamente competitivo e tem um sistema educativo dos melhores do mundo. Começou por ser uma típica economia emergente, a Coreia do Sul é agora sinónimo de tecnologia, engenharia, investigação e desenvolvimento. Naturalmente, as pressões sobre a China são uma boa notícia para os concorrentes coreanos, sobretudo, na área dos semicondutores. Os fabricantes de automóveis coreanos também estão em alta, beneficiando da aposta em veículos elétricos.

A constituição da bolsa coreana é representada por 44% nas tecnologias da informação, as comunicações e os bens de consumo não essenciais representam 10% do índice. Assim, a Coreia do Sul oferece exposição a setores modernos e promissores que têm vindo a impulsionar a recuperação dos mercados.

Em suma, a distribuição massiva de vacinas em 2021 possibilita a normalização da atividade económica. Acreditamos que as estimativas de crescimento consensuais podem ser ligeiramente subestimadas, mas isso depende do calendário de distribuição das vacinas. Será certamente um ano de recuperação do ciclo económico global, mas a velocidade da mesma dependerá bastante de imprevistos ou atrasos no processo de vacinação. Além deste, existem outros riscos que ficaram suspensos durante o ano transato. Relembramos que antes da pandemia existiam tensões geopolíticas e problemas crónicos de crescimento nas principais economias desenvolvidas e com o atual aumento do endividamento o desafio mantém-se.

Mais do que nunca será importante fazer uma gestão ativa dos investimentos e identificar os vencedores e perdedores atempadamente.