Yields da dívida pública continuam a subir

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Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Se recuarmos um ano, quase ninguém acreditaria que passados 12 meses o cenário monetário e de yields de dívida pública seria o que atualmente vivemos.

Os próprios bancos centrais que há cerca de um ano referiam que a inflação era transitória, quando esta já estava a subir devido aos problemas nas cadeias de produção e abastecimentos de bens, também andaram demasiados meses behind the curve.

Claro que a guerra despoletada pela Rússia em fevereiro veio trazer mais pressões inflacionistas com o aumento dos preços da energia e com as suas implicações negativas na subida significativa dos custos de produção agrícola e industrial.

A Reserva Federal Americana subiu no espaço de um ano a Fed Funds de 0,25% para o intervalo entre 3% a 3,25% e com a promessa que não vai ficar por aqui. Relembro que no último ciclo de subida das taxas de juro, a Fed Funds subiu até ao intervalo 2,25% a 2,5% e no penúltimo ciclo subiu aos 5,25%.

O BCE, por sua vez, passou rapidamente a taxa de juro de financiamento de 0% para 1,25%. Em julho subiu 0,5% e em setembro 0,75%, o maior aumento de uma só vez em termos históricos.

As decisões dos bancos centrais foram antecipadas pelos mercados ao nível da evolução da Libor do USD, da Euribor e das yields a 10 anos da dívida pública.

Nos EUA, a yield das obrigações americanas a 10 anos estava em 21/9 em 3,512%, mais 2,1% que há um ano.

Na Alemanha, o mesmo cenário. Há um ano, a yield do bund alemão a 10 anos era negativa, mas subiu cerca de 2,3%, estando em 21/9 nos 1,89%.

Os países do sul da Europa foram mais castigados. A Itália cujo rácio de dívida pública face ao PIB é de 150%, apresenta uma yield das obrigações de dívida pública a 10 anos de 4,04% em 21/9, mais 3,3% que há um ano.

Espanha viu a yield das obrigações de dívida pública a 10 anos subirem 2,65% no último ano para os 2,96% em 21/9.

Portugal apresenta atualmente uma yield de 2,86% nas OT’s a 10 anos, mais 2,65% que há um ano.

A generalidade dos analistas considera que o BCE vai ter de continuar a subir as taxas de juro de referência, embora deva estar atento aos efeitos negativos numa economia europeia já vulnerável devido à crise energética.

Esta situação está a provocar um aumento dos custos de financiamento do Estado, das famílias (crédito à habitação e ao consumo) e das empresas (subida da taxa de juro no mercado e aumento do spread de risco de crédito).

O facto de os preços do petróleo e de outras commodities estarem a cair há alguns meses face aos máximos recentes, poderá ditar uma redução da inflação nos últimos meses do ano. Contudo, com a atitude da Rússia em cortar o fornecimento do gás natural à Europa, as consequências na economia poderão ser negativas, especialmente na Alemanha que se pôs a jeito e à mercê das atitudes de Putin nos últimos anos na vertente energética. 

A guerra não tem fim à vista pelo que a Europa tem de arrepiar caminho na diversificação das suas fontes energéticas.

Os próximos outono e inverno poderão ser complicados e o impacto negativo na economia europeia poderá ser maior do que o BCE estima neste momento. Na reunião de setembro, o BCE não antecipou um cenário de recessão. Contudo, há variáveis difíceis de controlar, sendo uma delas o comportamento do euro e a inflação importada, tema novo da Europa nos últimos 15 anos.