Oportunidades de investimento na megatendência da Inteligência Artificial

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Photo by Franck Veschi on Unsplash

As temáticas da robótica e cibersegurança têm ganho popularidade ao longo do último ano, uma vez que providenciam diversificação e oferecem exposição a títulos que têm registado fortes taxas de crescimento num contexto de valorizações reduzidas. No entanto, tem ganho menor atenção uma terceira temática ligada ao desenvolvimento tecnológico que também apresenta características interessantes para os investidores: a inteligência artificial (IA).

“Existe um número cada vez maior de empresas que procuram na IA uma forma de melhorar os seus produtos e experiências de consumo, melhorar a eficiência e alcançar uma vantagem competitiva”, afirmam da Allianz Global Investors. Os analistas da entidade revelam que “nem todas as empresas terão êxito na execução das oportunidades oferecidas pela IA, mas acreditamos que quase todas elas irão sofrer o impacto da tecnologia”. Isto significa que os investidores deverão fazer uma análise cuidadosa para que saibam distinguir os vencedores e os derrotados desta tendência, de forma a realizar um stock picking acertado.

Crescimento atual e futuro

O sector tecnológico bateu a rentabilidade da maioria dos grandes mercados em 2017 graças aos fortes retornos das empresas de grande capitalização bolsista associadas ao consumo, como o Facebook, Amazon, Apple, Netflix, Google, Baidu, Alibaba ou Tencent. Estas são empresas que beneficiaram da crescente penetração dos smartphones: “Ao tornar os smartphones cada vez mais potentes e com o aumento do tempo de consumo gasto com estes, estas empresas foram capazes de capturar dados sobre hábitos de consumo e utilizar a IA para traduzi-los em dados processáveis”, indicam os analistas. O fenómeno está a alastrar-se de tal forma que “muitas empresas tradicionais estão a investir agora nessas mesmas tecnologias de IA para obter lucros derivados da inovação e da eficiência nos seus próprios sectores”.

A leitura que a gestora faz destas dinâmica é que o sector da tecnologia tem ainda um potencial de crescimento durante mais algum tempo: “Acreditamos também que IA poderá converter-se na tecnologia mais disruptiva e de maior impacto nas próximas décadas”. Referem também que o sector sofreu fases de volatilidade e correções assinaláveis nos últimos anos, como, por exemplo, a verificada entre novembro de dezembro, quando os investidores fizeram uma rotação das suas posições, passando das empresas tecnológicas para empresas que pudessem beneficiar da reforma fiscal nos Estados Unidos. Segundo os analistas, foi uma realização de mais valias que não foi justificada por qualquer alteração nos fundamentais, sendo que, na verdade, acreditam que “nunca estiveram tão fortes como agora, graças aos motores da procura como a IA, o big data e a cloud”. Além disto, verificam que a alavancagem do sector “não é excessiva”, e que não existe nenhum indício que aponte para um crescimento da dívida no futuro.

“Pensamos que os próximos anos poderão ser bastante interessantes para o lado corporativo (...). Os lucros corporativos das empresas que invistam nas áreas inovadoras corretas poderão ser mais fortes e duradouros que em qualquer outro ciclo empresarial do passado, resultando numa rentabilidade superior à dos seus concorrentes”, resumem.

Aplicações da IA e oportunidades de investimento

Publicidade: mediante algoritmos de aprendizagem automática, os retalhistas online podem personalizar os seus anúncios, baseando-se em factores como a idade, localização, preferências, estilo de vida e historial de compras. Está a incorporar-se também a IA para “realizar ajustes em tempo real de forma a otimizar campanhas, filtrar anúncios inapropriados e processar dados offline para recomendar outros produtos”.

Agricultura: o uso da IA recorre a drones autónomos que ajudam os agricultores a monitorizar as suas terras, controlando, por exemplo, os níveis de fertilidade, quantidade de água necessária pela colheita ou, inclusive, a elaborar modelos de previsão do tempo ou de detecção de pragas.

Aeronáutica: desenvolvimento de sistemas de auto-piloto de IA de nova geração, com múltiplas redes neuronais treinadas a partir da observação de pilotos humanos. A IA é capaz de processar dados através dos milhares de sensores instalados nos aviões e transmiti-los para a cloud para monitorizar o percurso do voo e os níveis de segurança para prever o seu grau de manutenção.

Automação: é uma das indústrias de desenvolvimento mais incipiente. Entre os feitos atuais figuram sistemas avançados de condução assistida como travões automáticos ou assistentes de estacionamento, bem como sistemas de autocondução, que, neste caso, são oferecidos apenas por algumas empresas (Tesla, BMW, Mercedes-Benz, Infiniti). Segundo os cálculos das gestoras, graças ao desenvolvimento tecnológico, será possível a comercialização de automóveis autónomos em 2020-2025.

Educação: o desenvolvimento de sistemas de ensino inteligente contribui para reduzir os custos de ensino e aumentar o acesso a maior número de estudantes, que podem beneficiar de uma aprendizagem mais personalizada.

Energia: muitas empresas petrolíferas estão a utilizar IA para determinar onde perfurar e otimizar as suas perfurações, mediante a fusão de dados ambientais e operativos em tempo real. Emprega-se também a IA para melhorar a eficiência dos quadros elétricos através de previsões sobre a procura e na combinação de fontes tradicionais elétricas com outras fontes renováveis.

Finanças: para além da utilização da IA e do blockchain para o desenvolvimento de soluções de investimento com uma operação mais eficiente, na Allianz Global Investments destacam o uso extensivo de robo-advisors em banca privada para alcançar o segmento de investidores com menos capital. Indicam, ainda, que a IA “está a revolucionar a concessão de crédito mediante a utilização de aprendizagem automática para analisar muito mais fontes de dados sobre os potenciais financiados”. Empregam-se ferramentas de IA para reduzir a fraude e outros delitos financeiros, sendo que existe um número cada vez maior de seguradoras que empregam ferramentas automáticas de cálculo de prémios de risco na sua tomada de decisões. A utilização de blockchain poderá gerar poupança através da redução dos custos de infraestruturas e da melhoria da qualidade dos dados e da transparência nas transações.

Saúde: utiliza-se a IA na análise de imagens de raio-x para melhorar o diagnóstico de vários tipos de cancro, tuberculose, pneumonia, cegueira por diabetes e infeções do sangue. Aplica-se também em sistemas electrónicos para prever o risco de ataque cardíaco e outras doenças. Recentemente, conseguiu-se implementar uma rede neuronal que permite prever reações químicas, contribuindo para acelerar a criação de novos medicamentos.

Legal: emprega-se a IA para simular sentenças judiciais baseadas em dados sobre clientes, precedentes legais e defesas. Os tribunais estão a empregar ferramentas preditivas para os auxiliar a determinar estrategicamente as quantidades de multas, duração das sentenças e concessão de liberdade condicional.

Manufactura: utilização de tecnologia de reconhecimento de imagens para identificar produtos em tempo real, contabilização de produtos e inspeções de qualidade, bem como o desenvolvimento de robôs com capacidade de IA para trabalhar em conjunto com os humanos.

Retalhistas: desenvolvimento de experiências de consumo mais personalizadas e interativas e emprego de deep learning para compreender melhor os gostos dos consumidores e sugerir produtos mais ajustados às suas preferências, bem como para desenvolver produtos com novas características (por exemplo, vestuário com um corte ou cores diferentes).