Os desafios do investimento em temáticos

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Créditos: Olav Ahrens Røtne (Unsplash)

Os fundos temáticos têm ganho cada vez mais espaço na carteira dos investidores. Muito embora ocupem, na maioria dos casos, uma posição mais satélite nas carteiras, esta é uma das grandes conclusões que se retiraram de uma mesa redonda promovida pela FundsPeople e Amundi com a participação de Cristina Carvalho, diretora de Vendas Corporativas & Institucionais da Amundi, Rui Castro Pacheco, diretor central do Banco Best, João Pina Gomes, product manager do ABANCA Portugal, Rui Broega, diretor coordenador de Gestão de Ativos do BiG e João Henriques, da distribuição de fundos do Bankinter em Portugal.

Nesta mesa redonda, além do tema da sustentabilidade, como uma temática em si mesma, ou da evolução dos fluxos, este conjunto de profissionais discutiu também quais os desafios que impactam o seu trabalho e deveriam impactar a due dilligence de qualquer investidor no caminho para escolher um fundo temático.

Para João Pina Gomes, quando falamos de investimento temático a questão da pureza da temática é uma das questões mais relevantes aquando da seleção de uma estratégia que veicule o tema. “Há sempre a velha questão de até que ponto um grande conglomerado como a Nestlé, envolvida em dezenas de negócios distintos, é uma empresa que pode ser considerada associada a um tema como a água”, por exemplo. É também por ser difícil identificar as empresas que melhor permitem capitalizar o tema ou mega tendência que o profissional levanta a questão da importância de uma gestão ativa. Para João Pina Gomes, quando está em causa filtrar todo um universo de empresas numa análise que dificilmente será puramente quantitativa, a gestão passiva poderá ficar aquém do esperado. “Para perceber o quanto os negócios refletem os fatores específicos de um tema, é importante que haja decisão humana no processo,” diz. 

Rui Castro Pacheco mostra-se em concordância. “Considero que quando falamos de fundos temáticos a gestão ativa faz ainda mais sentido. Torna-se muito importante perceber o quanto é que uma empresa pode realmente valer, especialmente quando muitas delas estão em fases da sua existência em que os resultados não estão lá”. Para o profissional, ao contrário de abordagens mais genéricas em que investir de forma passiva pode fazer sentido, nos fundos temáticos, com mercados mais jovens, “uma equipa que se dedique a perceber se um determinado modelo de negócio tem futuro” é uma característica a valorizar

Por seu lado, João Henriques salienta as diferentes vertentes que há que ter em consideração na constituição de uma carteira de fundos temáticos, mas começa por destacar um facto que deixa clara a preferência pela gestão ativa no universo Bankinter em Portugal: “Da nossa recente experiência de lançamento de um fundo de megatendências, resultou que das 15 posições em carteira apenas uma era um ETF”. Já sobre o processo de seleção, levanta a complexidade do mesmo. “É claro que na base está a verificação de cumprimento de critérios tradicionais na seleção. Emitentes, dimensão, liquidez, track record dos gestores… Mas a forma como ganhamos exposição a um tema e como se pondera essa exposição, quando vemos que para diferentes temáticas vamos encontrar o mesmo subjacente muitas vezes repetido, é algo que pesa mais na análise. É muito importante considerar o overlap e o risco de concentração”, explica.

Embora de acordo, Rui Broega não sente que o enfoque temático tenha impacto na forma como no BiG selecionam fundos. “É analisar um fundo”, exclama. “É algo que fazemos questão de analisar sempre que selecionamos uma estratégia. O overlap e a concentração acabam por ser a mesma experiência que temos quando consideramos as questões geográficas ou setoriais em fundos mais tradicionais”, explica. Contudo, afirma perentoriamente que “conjugar tudo isto no portefólio é que é o grande desafio”. Para o profissional, qualquer fundo de disrupção tecnológica “extravasa nomes por diversas temáticas, por exemplo”, mas “no fundo trata-se somente de avaliar investimentos”. 

A temática certa para cada megatendência

Para Cristina Carvalho, é muito importante que os gestores tenham o cuidado de que a temática não se concentre apenas nos nomes que estão obviamente ligados à mesma. “No tema do envelhecimento da população, por exemplo, esforçamo-nos, na Amundi, para que os investidores tenham acesso a um leque mais alargado de subsectores. Não são apenas empresas de cuidados de saúde e farmacêuticas que refletem o tema. Turismo, carros de luxo, a própria gestão de ativos... são setores que de uma forma mais abrangente beneficiam desta mega tendência. O objetivo é aportar maior diversificação, para que a carteira esteja mais protegida nas quedas de mercado”, explica. 

Na seleção de fundos de temas, diz, “o grande desafio é identificar quais vão ser as tendências chave de futuro e convertê-las em oportunidades de investimento que sejam rentáveis”, introduz Cristina Carvalho. Um corolário deste desafio: Que as tendências “persistam no longo prazo e não sejam apenas modas passageiras”. Rui Castro Pacheco concorda, afirmando que “encontrar as temáticas que tenham verdadeiramente que ver com as grandes megatendências que vemos hoje em dia é o grande desafio”.